quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Looper (2012)

«This time travel crap, just fries your brain like an egg...» 

A presença de Bruce Willis em LOOPER remete-nos quase de imediato para Twelve Monkeys, de Terry Gilliam. Até porque em ambos os filmes a personagem de Willis é enviada ao Passado para poder influenciar o Futuro (ou melhor, o seu presente). Acaba sempre perceber que é a sua presença que precipita os mesmos acontecimentos que tenta evitar e que interromper o ciclo é a única solução. Claro que o próprio Twelve Monkeys já remetia para La jetée, de Chris Marker, bem como Looper aponta em mais umas quantas direcções, procurando inspiração em - e retirando alguns elementos de - obras sobre a temática. Evita, contudo, contribuir para o corolário cinematográfico das viagens no tempo, preferindo focar atenções noutras vertentes da história. Nesse aspecto, pode-se traçar nele a antítese de Inception (no qual Joseph Gordon-Levitt participa), todo ele explicações e exposição.

Joseph Gordon-Levitt (com um nariz postiço que mete confusão) e Bruce Willis interpretam duas versões da mesma personagem separadas por trinta anos. Eles são Joe, um assassino a soldo da máfia local cujos alvos são gente enviada do Futuro. Quando tem de se eliminar a si mesmo hesita, e o seu eu-futuro consegue escapar. Se Joe quiser sobreviver terá de encontrar a sua versão mais velha, num jogo do gato e do rato, antes que os seus patrões o encontrem. É curioso reparar como a personagem de Willis se encontra em desvantagem em relação à de Gordon-Levitt: o Passado pode mutilar o Futuro sem qualquer consequência directa; já o Futuro não pode alterar o Passado sem que sofra também. Looper acaba por ser um filme sobre viagens no tempo que, verdadeiramente, não o é. Sem qualquer pretensão científica, prefere apontar baterias a uma hipotética sociedade distópica, fruto de uma severa crise económica, em que a China se tornou mais agradável de viver do que os EUA, deixando que as personagens se expandam dentro dos limites da narrativa. Da mente de Rian Johnson, cineasta que gosta de brincar com os géneros (já o havia demonstrado nos anteriores Brick e The Brothers Bloom), não saiu nenhum Primer, nem seria essa a sua intenção. O "como" é ignorado a favor do "porquê"; o que importa são as pessoas e os seus motivos.

De destacar também a direcção artística e o design de produção da película, responsáveis por aquele Kansas futurista mais ainda assim realista na sua ruralidade. Já dizia Shawn Levy a propósito do seu Real Steel que em produções situadas num futuro próximo o objectivo passa por captar a evolução tecnológica de forma intuitiva: um telemóvel pode ser esteticamente diferente, mas um diner continua a ser um diner e os carros, no fundo, ainda são carros. É graças aos dois departamentos que não damos por nós a exclamar, quais Dorothy, quais quê, que já não estamos no Kansas. Os actores, bons intérpretes - Pierce Gagnon, o miudinho telequinético, é a grande surpresa -, são auxiliados pela direcção segura e directa de  Rian Johnson, que evita perder tempo com futilidades. Quebra a sua regra, no entanto, num par de ocasiões em que prolonga sequências para lá do necessário, mas quando tudo o resto é tão competente essas eventuais falhas são facilmente perdoáveis.

Looper não é perfeito - entre os seus defeitos contam-se alguns problemas de ritmo e a fotografia que, apesar de agradável, abusa da artificialidade dos flares - mas, pelo menos, não precisa de um manual de instruções. E é refrescante encontrar, nos tempos que correm, uma ficção-científica que, de tão simples, pode ser apreciada pelo que é. A fita parece melhor quando deixa que a acção se desenrole desenfreadamente e coloca de parte alguns dos mecanismos pensados para agradar ao público. Chamaram-lhe «o Matrix desta geração», mas serão mais as diferenças que separam os dois filmes do que as semelhanças que os unem. Além disso, e apesar de derivativo, Looper tem qualidade suficiente para se afirmar por mérito próprio dentro do género.


Título Original: Looper (China/EUA, 2012)
Realizador: Rian Johnson
Argumento: Rian Johnson
Intérpretes: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Pierce Gagnon, Jeff Daniels, Noah Segan, Paul Dano, Garret Dillahunt, Piper Perabo, Qing Xu, Tracie Thoms
Música: Nathan Johnson
Fotografia: Steve Yedlin
Género: Acção, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 119 minutos


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