sábado, 1 de dezembro de 2012

Blancanieves (2012)

A alegria do movimento.

À luz do ano que passou, é difícil evitar tecer algumas comparações envolvendo este BLANCANIEVES, de Pablo Berger. A primeira será, porventura, o aparecimento deste filme, candidato espanhol ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, meros meses após uma outro fita muda - The Artist, de Michel Hazanavicius - ter arrecadado o galardão da Academia para o Melhor Filme. Há, pois, uma tentativa espanhola, mesmo que discreta, de jogar com o academismo dos vizinhos franceses e tentarem eles mesmos a sorte com uma receita semelhante. O paralelo cai, no entanto, por terra com relativa facilidade: Blancanieves não parece cinema mudo, é cinema mudo. A proeza, aliás, é tamanha que nos faz olhar com certa desconfiança - em retrospectiva é sempre mais fácil duvidar - para o rival gaulês e demais homenagens àquela época.


A outra analogia prende-se, sobretudo, com as duas adaptações da estória dos Irmãos Grimm que por cá estrearam recentemente - Mirror Mirror e Snow White and the Huntsman. Mas essa é desmontada ainda mais depressa do que a anterior. Para começar, porque tematicamente, e mesmo que todos os elementos clássicos lá estejam - e porque estão, da madrasta à maçã, passando pelo caçador e até mesmo pelo espelho, apenas baralhados e escondidos, pedindo alguma atenção à audiência - a relação entre os filmes é ténue; não há em Blancanieves castelos literais nem uma presença do Fantástico na sua verdadeira acepção. Depois, porque Macarena García, mesmo sem se fazer ouvir, consegue ser infinitamente mais expressiva do que as homólogas anglófonas. Assim, Berger consegue suportar a pressão dirigida de lados opostos - o estilístico e o narrativo - e impor a sua visão como obra de mérito próprio.

Conto-de-fadas de inspiração gótica - impregnado de um certo expressionismo que se vai fazendo sentir na imagética - Blancanieves aproxima-se tentadoramente do melodrama. O exagero do pathos mistura-se deliciosamente com a faena e o flamenco, num vaivém de planos por vezes freneticamente montados e que emprestam alegria e cor, passe a expressão, à história. É quando a câmara trava ou se fixa num qualquer ponto que a tristeza se instala. Filmada com uma beleza e cuidado impressionantes e seguida por uma banda-sonora esmerada, dificilmente se poderia imaginar homenagem mais bonita ao cinema europeu dos anos 20. Merecedor de todos os elogios - e mais alguns - que lhe são dirigidos.


Título Original: Blancanieves (Espanha, 2012)
Realizador: Pablo Berger
Argumento: Pablo Berger
Intérpretes: Macarena García, Sofía Oria, Maribel Verdú, Daniel Giménez Cacho, Imma Cuesta, Ángela Molina, Pere Ponce, Emilio Gavira
Música: Alfonso Vilallonga
Fotografia: Kiko de la Rica
Género: Drama
Duração: 104 minutos


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