sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Zero Dark Thirty (2012)

A localização - e conseguinte morte - de Osama bin Laden baralhou as contas a Kathryn Bigelow e Mark Boal. A dupla responsável pelo aclamado The Hurt Locker depressa passou do plano original - um (outro) filme de batalha, ambientado no início da invasão do Afeganistão - para uma crónica da caça ao homem mais procurado do Mundo, ou, pelo menos, daquele que os norte-americanos mais queriam encontrar. Mas já lá iremos. Comecemos antes por ZERO DARK THIRTY, que é como quem diz pelo início.


Bigelow volta a afirmar o seu mérito como cineasta, e não apenas como mera tarefeira. Zero Dark Thirty figura grande parte das características e mecanismos que marcaram os seus filmes anteriores. Do jargão à clivagem entre a protagonista e o ambiente que a rodeia, há a continuação de toda uma obra que ficou - ou não, pelo que se vê - para trás. Só que aqui a guerra é outra, ao Terror, mais secreta e subterrânea. É, sobretudo, um trabalho de paciência em que se força a resistência dos envolvidos, tanto do terrorista escondido como de quem o procura durante anos a fio. É preciso esperar, esgravatar informações e torturar rebeldes.

Sim, torturar. Porque escrever sobre este filme e ignorar a tortura que nele se representa - bem como as suas implicações - é fazer de conta que não se tem um elefante sentado ao canto da sala. E que grande elefante que aqui se tem. Abre-se quase a frio com um homenzinho a ser castigado, imagem que se tornará algo recorrente ao longo da fita. Sem que haja uma glorificação da prática, ela é, no entanto, vista como um mal menor - Jason Clarke lá vai repetindo ao prisioneiro «you lie to me, I hurt you» -, uma necessidade face à luta desleal a ser travada. É a narrativa eivada pela retórica pró-americana - tal como acontecia, por exemplo, em Argo, de Ben Affleck -, com os norte-americanos, todos muito bonzinhos e patrióticos, a enfrentarem os árabes corridos a má rês. Há uma tentativa curiosa de suavizar a questão - surge a certa altura um responsável da CIA ocidental e muçulmano, visto a rezar no seu gabinete -, mas a intenção, essa, há muito que ficou estabelecida.

O que não anula a coragem de Bigelow como realizadora ou a qualidade do argumento escrito por Boal. Mostra-se, mesmo que através de uma lente parcial e subjectiva, o que durante muito tempo se tentou esconder e fingir que não existia. Falha a tensão alcançada em The Hurt Locker - um autêntico manual de como a criar e manter -, compensando-a, contudo, com excelentes sequências de Cinema, planos e momentos que perduram na memória, e uma interpretação bastante sólida de Jessica Chastain. Mais do que o bom filme que se revela, Zero Dark Thirty expõe de forma razoavelmente capaz - mais, aliás, do que seria expectável de um produto made in States - os problemas relacionados com a legalidade e a moralidade dos meios utilizados em tempos de guerra. E tal basta para lhe garantir um lugar entre as obras mais faladas do ano.


Título Original: Zero Dark Thirty (EUA, 2012)
Realizador: Kathryn Bigelow
Argumento: Mark Boal
Intérpretes: Jessica Chastain, Jason Clarke, Jennifer Ehle, Mark Strong, Joel Edgerton, Chris Pratt, Reda Kateb, James Gandolfini
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Greig Fraser
Género: Drama, Histórico, Thriller
Duração: 157 minutos



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