Narizes a pingar, camisolões de lã, luvas, gorros, mantas nos sofás, lareiras acesas, os Aliados iluminados - não há como enganar, já é Natal. Tempo de família e dos presentes, de bem-aventurança entre os homens. E de Cinema, de Cinema do bom e do melhor, como não poderia deixar de ser.
Pois bem, nós também temos os nossos presentes, de nós para os outros, de cá para o amigo leitor. E como o Natal é época de partilha, o que vai deste embrulho não poderia deixar de ser os nossos filmes de Natal que, por um motivo ou outro, por todos ou por nenhum, queremos (e gostamos) de partilhar. Filmes de Natal, que não conseguimos ver noutra altura do ano senão nesta. Leituras leves, esporádicas e episódicas, para ler antes, durante ou depois da consoada, sobre as obras que trazem à memória da redacção o cheiro a rabanadas e a aletria. Bom Natal!
GREMLINS, de Joe Dante (EUA, 1984)
A minha tradição natalícia sempre foi muito consistente, uma casa cheia de familiares, uma mesa de jantar recheada de guloseimas e a ânsia pelas prendas, escondidas no armário e debaixo da cama. No entanto, o mais esperado era as programações de Natal da TV, dias 24 e 25 repletos de filmes, das 3 da tarde até à meia-noite. Relembro agora Mousehunt, Home Alone e Problem Child, três filmes com lugares marcados no Natal, mas nenhum tão marcante como GREMLINS. Algo nos pequenos monstros parecia cativar a família toda, talvez o único filme que todos viam do inicio ao fim.
Uma história sobre responsabilidade e as repercussões que advêm de quebrar certas regras. Gremlins proporcionam momentos de diversão face às travessuras caóticas, numa época onde todos temos de ser bem comportados. O óptimo balanço entre comédia e terror torna impossível não simpatizar-mos com as pequenas bestas. Certamente o meu filme de natal predilecto, filme que irei revisitar amanhã acompanhado pela família e uma travessa de aletria.
Wladimir Jr. Ribeiro
HOW THE GRINCH STOLE CHRISTMAS, de Ron Howard (Alemanha/EUA, 2000)
Chegada a época natalícia, é difícil esquecer um filme tão carregado de símbolos natalícios como HOW THE GRINCH STOLE CHRISTMAS, de Ron Howard, uma comédia de fantasia adaptada do livro de Dr. Seuss. Na terra de Whoville habitam os Whos que adoram o Natal, no entanto, fora da cidade vive o Grinch, uma criatura que o odeia e engendra vários planos para o roubar.
É difícil não sentir compaixão pelo vilão Grinch, certamente devido à qualidade da representação de Jim Carrey, que, ironicamente, acaba por roubar o filme também, transformando-o numa hilariante comédia para ver em família.
João Nuno Pratinha
IT'S A WONDERFUL LIFE, de Frank Capra (EUA, 1946)
Chega o Natal e pareço logo um disco-riscado: mas qual Home Alone, qual quê, é preciso é ver o IT'S A WONDERFUL LIFE! E é preciso vê-lo urgentemente, não vá a quadra esfumar-se sem que haja a oportunidade de o (re)encontrar, fazendo-nos esperar pelo próximo ano. Que isto de ver filmes de Natal fora de época não tem jeitinho nenhum - e para os restantes onze meses haverá outros tantos Capras, cada qual mais belo do que o anterior, mas nenhum tão belo quanto este. A estória já todos a conhecem de cor, mas vale a pena recordar (e resumir): George Bailey (o incontornável James Stewart) é um homem tão bom, mas tão bom, que todos fazem dele gato-sapato, principalmente o diabólico Mr. Potter de Lionel Barrymore. Até que, ao perder o seu dinheiro, se decide mandar de uma ponte e conhece Clarence, um anjo de segunda, que lhe recorda tudo o que há de bom na vida (e tudo o que haveria de pior, não fossem homens como ele).
George/Jimmy é - e os protagonistas de Capra são-o todos à sua maneira - o melhor dos homens, profundamente marcado pelo Humanismo do italo-americano. Sacrificando tudo o que é seu pelos amigos (e não seremos todos amigos de George?), é quando se prepara para sacrificar o que de último tem, a vida, que se apercebe que o sacrifício não tira apenas, também dá - e já cantava Johnny Cash «The wealthiest person is a pauper at times, compared to the man with a satisfied mind». É esse o presente maior de It's a Wonderful Life, panaceia para todas as dores do ano, todo o Cinema desse grande senhor, docemente embrulhado, e muito bem embrulhado, por sinos, anjos e, sobretudo, gente que nos ama como só Capra nos foi capaz de amar. «Remember, George: no man is a failure who has friends» - é uma vida maravilhosa, lá isso é.
António Tavares de Figueiredo