quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Halloween (1978)

Finalmente, chegamos ao dia dos monstros e dos espíritos, e qual seria a melhor maneira de o celebrar do que com Halloween (1978), de John Carpenter, uma das grandes mentes do cinema de terror. O filme que mais marcou o género de terror slasher e que ainda hoje influência o mesmo. Introduzindo Michael Myers, o antagonista mais psicopático e mal compreendido da história do terror.

Após ter morto a irmã mais velha à facada, Michael Myers, de 6 anos, é institucionalizado durante 15 anos. Na noite antes do dia das bruxas, Michael foge e volta à sua terra natal, mas mesmo com os avisos do seu psicólogo, Dr. Sam Loomis, já será tarde demais. Principalmente para os jovens desprevenidos de Haddonfield, Illinois, que quando menos esperarem serão as presas de Myers durante a noite de Halloween.

Definitivamente, a obra-prima de Carpenter que com este filme deu à luz uma longa linhagem de slashers de terror após a grande influência de Psycho, de Alfred Hitchcock. O argumento é muito bom, acompanhado da realização inspirada de Carpenter, que dificilmente mostrará tanto potencial em projectos posteriores. As actuações são óptimas e as personagens são credíveis e fáceis para o público se identificar com elas, principalmente e curiosamente com Myers. O filme é low-budget e no entanto é surpreendentemente marcante e memorável.

Ao contrário do que se possa pensar, não é muito puxado para a violência extrema e gore, tal foi evoluindo mais tarde em filmes inspirados o Halloween. No entanto é um filme de verdadeiro terror, consegue literalmente deixar os cabelos em pé e dar arrepios na espinha, juntando um climax acelerado e de ferver o sangue. É, portanto, o filme que merece o lugar no pódio e a ultima e mais importante menção neste Especial de Halloween, não por partilhar o mesmo nome do dia, mas sim por ser um filme perfeito para ver dadas as circunstâncias.

Sendo um filme que define o seu género, irá pertencer à filmoteca obrigatória do blog. Com uma recomendação especial para ser visto hoje, por quem tenha disponibilidade, ou então o mais rápido possível, se nunca o viram.


Título Original: Halloween (EUA, 1978)
Realizador: John Carpenter
Argumento: John Carpenter; Debra Hill
Intérpretes: Donald Pleasence; Jamie Lee Curtis; Nancy Kyes; P.J Soles; Charles Cyphers; Tony Moran; Sandy Johnson
Música: John Carpenter
Fotografia: Dean Cundey
Género: Terror, Thriller
Duração: 91 minutos



Hellraiser (1987)

Mais um épico do cinema de terror, Hellraiser, de Clive Barker. Introduzindo um novo grupo de indivíduos sádicos, cujo o único trabalho é mostrar às pessoas os verdadeiros prazeres do inferno, os Cenobites. Clive Barker, também autor do livro The Hellbound Heart, no qual foi baseado o filme, trouxe mais uma originalidade ao género do terror o que, após a enchente de slashers  no inicio dos anos 80, é muito bem vindo.

Frank (Sean Chapman) torna-se uma vitima dos cenobites após decifrar um puzzle, a caixa de Lemarchand, que obteve num mercado de antiguidades. Algum tempo depois consegue fugir da dimensão dos cenobites e convence a mulher do seu irmão, Julia (Clare Higgins), também a sua antiga amante, a arranjar sacrifícios suficientes para recuperar o seu corpo original, que foi completamente mutilado. Pinhead, o líder do cenobites não tolera tal acontecimento e agora persegue Frank para o levar de volta à dimensão infernal.

Hellraiser é uma adaptação muito boa de Hellbound Heart, o que já seria de esperar. Clive Barker demonstra boas capacidades de realização e argumentação de uma longa-metragem, e uma potencialidade enorme para o género, chegando até a ser elogiado por Stephen King. Trata-se de um terror mais complexo e original que certamente nos cola à cadeira, toda descrição da dimensão dos cenobites, onde existe apenas a exploração carnal no sentido mais sadomasoquista possível, é perfeita para o tema. As actuações são bastante satisfatórias e a caracterização de todas as personagens é muito bem feita. No entanto falta-lhe aquele ambiente que torna um filme de terror realmente assustador, e acontece tudo de uma forma muito banal e com pouco suspense que culmine num momento de por os cabelos em pé, o que seria algo crucial neste filme.

Resumindo, é definitivamente um filme a ver neste Halloween. Já é também um franchise com bastantes títulos ao longo dos anos, que mesmo completando certos aspectos da história não mantêm a qualidade deste primeiro. Assim, penso que seria melhor ficar por este e manter o nome em boa consideração.  


Título Original: Hellraiser (Reino Unido, 1987)
Realizador: Clive Barker
Argumento: Clive Barker
Intérpretes: Andrew Robinson; Clare Higgins; Ashley Laurence; Sean Chapman; Doug Bradley
Música: Christopher Young
Fotografia: Robin Vidgeon
Género: Terror
Duração: 94 minutos



Abraham Lincoln: Vampire Hunter (2012)

Está provado que Timur Bekmambetov gosta de teorias da conspiração. Depois de sociedades secretas que matam para repor a ordem no Mundo (Wanted), poderes ocultos que batalham entre si nas ruas de Moscovo (Night Watch e Day Watch) e cosmonautas numa Lua habitada por perigosas criaturas (serviu como produtor de Apollo 18) chegou a vez de se debruçar sobre a História Americana, terreno tão fértil em intrigas e mistérios. O título diz tudo, ABRAHAM LINCOLN: VAMPIRE HUNTER coloca um dos mais célebres presidentes norte-americanos a aviar vampiros à machadada. Isto do revisionismo Fantástico parece ter virado moda. Deixam-se cair as subtilezas e delicadezas e mergulha-se de cabeça no género.

Bekmambetov faz do movimento uma das suas imagens de marca. Não é incomum encontrar no seu trabalho sequências estilizadas em câmara lenta, por vezes escusadas e demasiado extensas. A atracção do público pelo cinético explica a utilização que o realizador faz da técnica. A realização é segura, marcada por interpretações razoáveis (Benjamin Walker e Mary Elizabeth Winstead competentes como o casal Lincoln, Rufus Sewell a merecer mais destaque). O argumento de Seth Grahame-Smith, adaptado do seu romance homónimo, peca pelo largo período de tempo que aborda - isto de fazer um filme que toca quase todos os momentos da vida de Lincoln, mas que não quer ser um biopic é coisa complicada - e pela redundância a que se expõe.

O enredo explora, no entanto, algumas noções interessantes. A escravatura como condição natural do Homem - Adam chega a enumerar as vezes que viu homens a fazer de outros seus escravos - e o próprio vampirismo como servilismo. Lincoln vai repetindo que ninguém será livre até todos o serem, mas também ele serve uma causa: a de exterminar vampiros. Tudo muito nobre, muito justo, entrando numa Guerra Civil contra o Sul senhorial governado pelas criaturas que fazem dos escravos seu alimento. Com Spielberg prestes a estrear o seu Lincoln - esse um biopic assumido - Abraham Lincoln: Vampire Hunter corre o risco de ser rapidamente olvidado. No fundo, tem-se aqui um filme de acção equilibrado; pedir mais é exagerar.


Titulo Original: Abraham Lincoln: Vampire Hunter (EUA, 2012)
Realizador: Timur Bekmambetov
Argumento: Seth Grahame-Smith (adaptado do seu romaance homónimo)
Intérpretes: Benjamin Walker, Dominic Cooper, Mary Elizabeth Winstead, Anthony Mackie, Rufus Sewell, Jimmi Simpson, Erin Wasson, Marton Csokas
Música: Henry Jackman
Fotografia: Caleb Deschanel
Género: Acção, Fantasia, Terror, Thriller
Duração: 105 minutos


 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

An American Werewolf in London (1981)

É algo estranho escrever sobre AN AMERICAN WEREWOLF IN LONDON num tempo em que o Terror se enche de meta-significados e laxismo intelectual. É refrescante encontrar um filme de terror que é um filme de terror, liberto de pretensiosismos e falsas expectativas. A obra de John Landis cumpre esses requisitos, demonstrando capacidade de se afirmar ainda hoje, numa época que já não será a sua. É tudo muito simples: dois miúdos saídos do college andam a trilhar a Europa de mochila às costas. Chegados ao countryside inglês (hoje deu-me para estrangeirismos) são atacados por uma criatura das trevas; um deles morre, o outro é mordido. Vai para Londres, apaixona-se por uma enfermeira e vira lobisomem. Nada mais, nada menos. E isso é uma arte, o de não complicar o que não precisa de ser complicado.

A falsa ideia de que simplicidade equivale a falta de qualidade é aqui contrariada. Landis constrói uma estória bem interessante, manipulando convenções do género e alicerçando-a num conjunto de efeitos visuais inovadores à data em que o filme foi feito. Rick Baker mostra o porquê de o apelidarem de génio naquilo que faz - ganhou o Oscar de Melhor Caracterização por esta fita - e brinda-nos com belas sequências de transformação em lobisomem e um imaginativo morto-vivo de goela aberta. E depois temos o David Kessler de David Naughton, uma das personagens mais carismáticas do género. Durante hora e meia Landis apresenta-nos aquele jovem, um ianque em terras britânicas, caído de amores por uma moça local, que, disparando piadas sobre licantropia e outras coisas obscuras, descobre que também ele padece dessa condição. O problema é que David é tão adorável e inocente que até nós, o público, que sabemos o que ele anda a fazer nas noites de lua cheia, somos incapazes de o ligar aos actos da criatura em que se transforma. Quando é tudo tão directo, é difícil não gostar. Mesmo que não encaixe no que se tem vindo a desenvolver dentro do género nos últimos anos.


Título Original: An American Werewolf in London (EUA/Reino Unido, 1981)
Realizador: John Landis
Argumento: John Landis
Intérpretes: David Naughton, Griffin Dunne, Jenny Agutter, John Woodvine, David Schofield, Frank Oz, Lila Kaye, Brian Glover
Música: Elmer Bernstein
Fotografia: Robert Paynter
Género: Comédia, Terror, Thriller
Duração: 97 minutos


The Thing (2011)

Este THE THING é um remake de um remake. O original, o semi-Hawksiano The Thing from Another World, já havia sido readaptado por John Carpenter no início da década de 80 sob a mesma égide. Por cá solucionou-se o problema facilmente e, para evitar confusões, chamou-se ao mais recente A Coisa; optou-se pela literalidade do título em vez do mais artístico (e a remeter para a origem) Veio do Outro Mundo do filme de Carpenter. As diferenças entre os três, mais do que a estória, manifestam-se pelo tempo que passou entre eles. Uma renovação visual a nível dos efeitos e um update no terror para agradar às gerações mais jovens. Um grupo de cientistas vai para o Árctico desenterrar do gelo uma nave espacial e o seu ocupante congelado. Tudo parece correr bem até que na primeira noite a criatura salta pelo telhado e começa a matar os ocupantes da estação. É sua responsabilidade impedir que o invasor alienígena abandone o Árctico e estenda a sua matança ao resto do Mundo.

Clarificando, este The Thing é um remake do outro The Thing, o de Carpenter. É dos anos 80 que vêm as principais referências da obra e há, inclusive, um sujeito parecido com Kurt Russell no elenco. Fica a dever também ao Alien de Ridley Scott, não fosse a protagonista uma mulher de armas, preparada para o que der e vier. Perde-se parte da subtileza - a fita de Carpenter é toda ela paranóia e isolamento, com particular enfoque nos rigores do frio e da neve - em prol de uma abordagem muito mais in your face. Os tempos mudam, e Matthijs van Heijningen Jr. também não será nenhum John Carpenter. Ainda assim, temos uma enorme Mary Elizabeth Winstead a inscrever o seu nome num panteão ocupado por gente dura como a Ripley de Sigourney Weaver e um elenco bem mais do que competente no que lhe foi pedido. Sem ser mau, fica alguns furos abaixo dos filmes a que se seguiu. Esta moda de actualizar clássicos prejudica o susto. A sério que prejudica.


Título Original: The Thing (Canadá/EUA, 2011)
Realizador: Matthijs van Heijningen Jr.
Argumento: Eric Heisserer (baseado no conto de John W. Campbell Jr.)
Intérpretes: Mary Elizabeth Winstead, Joel Edgerton, Ulrich Thomsen, Eric Christian Olsen, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Paul Braunstein, Trond Espen Seim, Jørgen Langhelle
Música: Marco Beltrami
Fotografia: Michel Abramowicz
Género: Ficção-Científica, Mistério, Terror, Thriller
Duração: 103 minutos


Apollo 18 (2011)

A herança por vezes difícil de engolir do found footage.

Três astronautas americanos vão à Lua numa missão secreta a mando do Departamento de Defesa. Quando lá chegam descobrem que os russos também já lá tinham estado. Mais, descobrem que algo matou o cosmonauta e que essa coisa os coloca agora em perigo. Isto em jeito de falso documentário - a NASA apressou-se a desmentir a veracidade das imagens - e numa espécie de híbrido entre o The Blair Witch Project e um filme da franquia Paranormal Activity. Infelizmente, APOLLO 18 não chega a ser tão inteligente quanto os seus "predecessores". Falta-lhe a novidade dos primeiros e o sentido de susto que Jaume Balagueró e Paco Plaza conseguiram introduzir no(s) seu(s) [Rec], labirinticamente compreendido num prédio carregado de zombies. No entanto, não deixa de ser uma alternativa interessante dentro do género (há um género nesta onda de found footage?), explorando um par de mecanismos curiosos.

O primeiro, e o mais óbvio, terá sido o de fazer o filme sempre em torno dos mesmos três homens. Não chega a ser tão claustrofóbico como Buried de Rodrigo Cortés (nem tenho a certeza se tal poderia ser possível), mas presos na Lua e no módulo que a orbita os astronautas têm pouco para onde se virar. Ouvem-se vozes de outras pessoas, o comando da missão, mas não passam disso mesmo: vozes distantes que nada podem fazer para os ajudar. O outro, mais discreto, foi a decisão de Gonzalo López-Gallego em evitar filmar a 24 fps, alcançado os efeitos visuais do filme gravando a diferentes velocidades. Tudo muito bem planeado - foi produzido por Timur Bekmambetov -, rodado num mês e tecnicamente competente.

A um nível muito básico, e sem fazer muitas perguntas, Apollo 18 funciona como filme de terror. Analisando melhor, até porque as criaturas parecem aranhas cinzentas, resulta melhor como intriga política (EUA vs. URSS; até se fala em Watergate, não vá o público esquecer-se que a trama se passa na década de 70) do que como horror flick. Faz uso de meia dúzia de planos-tipo do género (alguém observa o companheiro enquanto este dorme; passagens pelo exterior durante o descanso das personagens quando sabemos que algo, eventualmente, se vai mover) e não consegue afastar-se o suficiente das convenções de modo a ser original. Aguenta-se, mas pouco mais do que isso.


Título Original: Apollo 18 (Canadá/EUA, 2011)
Realizador: Gonzalo López-Gallego
Argumento: Brian Miller
Intérpretes: Warren Christie, Lloyd Owen, Ryan Robbins
Música: Harry Cohen
Fotografia: José David Montero
Género: Ficção-Científica, Terror, Thriller
Duração: 86 minutos




segunda-feira, 29 de outubro de 2012

The Texas Chain Saw Massacre (1974)

Em sequência deste Especial Halloween, mais um slasher de terror merecedor de menção será sem dúvida The Texas Chain Saw Massacre, de Tobe Hooper. Introduziu mais uma figura antagonista inesquecível, Leatherface, acompanhado de uma família de homicidas canibais que nos trazem momentos de completo horror. Apesar de ser low-budget, continua a ser uma das grandes influências no cinema de terror e aclamado tanto por críticos como pelos amantes do género.

Cinco jovens, a caminho do cemitério para visitar a campa do avô. No entanto as coisas não correm como previsto, quando são abordadas por personagens sinistras e acabam sendo perseguidos por uma família de sádicos, incluindo um que usa máscaras feitas da cara das suas vitimas e constrói mobília com os ossos. Os jovens vão sendo apanhados um a um, presos num pesadelo aparentemente inacabável. 

The Texas Chainsaw Massacre traz ao de cima uma história aterrorizadora, e por isso à que dar merito a Tobe Hooper e Kim Henkel, por terem criado um enredo bastante apelativo para o público sedento de sangue. O factor low-budget não afecta de qualquer maneira a qualidade do filme, que é um dos mais marcantes do cinema de terror, e chega a dar-lhe um toque mais realista, que por sua vez permite que o observador interiorize os acontecimentos e se consiga imaginar neles. Estamos perante um verdadeiro ambiente de terror e isso é o que trouxe o sucesso nas bilheteiras e nas críticas. A cinematografia também é boa, tanto para a época como para o tipo de equipamento usado e com tão pouco dinheiro é algo surpreendente. As actuações são bastantes credíveis e Marilyn Burns demonstra uma grande capacidade pulmonar, com um óptimo desempenho que realmente transmite um sentimento de puro terror.

Um verdadeiro ícone de terror. Com este Especial Halloween será provável que me repita, mas são casos em que estamos perante verdadeiros filme de terror que marcaram gerações e definiram o género e este é um desses casos. Recomendo para todos, mesmo que não sejam apreciadores deste tipo de filme, assim poderão viver o verdadeiro terror que este filme transmite, para quem gosta e nunca tenha visto, será uma excelente adição que nunca perde o encanto mesmo após uma segunda ou terceira visualização.


Título Original: The Texas Chain Saw Massacre (EUA, 1974)
Realizador: Tobe Hooper
Argumento: Kim Henkel, Tobe Hooper
Intérpretes: Marilyn Burns; Allen Dazniger; Paul A. Partain; William Vail; Teri McMinn; Gunnar Hansen; Edwin Neal; John Dugan
Música: Wayne Bell; Tobe Hooper
Fotografia: Daniel Pearl
Género: Terror; Thriller
Duração: 83 minutos



domingo, 28 de outubro de 2012

Sunday Stills #9: Especial Halloween 2012

Em semana de Halloween, e na linha do especial que se tem vindo a desenvolver neste espaço, achamos que seria engraçado rever nesta rubrica algumas das personagens mais icónicas do Terror.






Gunnar Hansen como Leatherface em THE TEXAS CHAINSAW MASSACRE de Tobe Hooper, o Michael Myers de Tony Moran em HALLOWEEN de John Carpenter, Jason Vorhees da franquia FRIDAY THE 13TH, Robert Englund como Freddy Krueger em A NIGHTMARE ON ELM STREET de Wes Craven e Ghostface em SCREAM, também ele de Wes Craven.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Friday The 13th (1980)

Mais um ícone do terror nos anos 80 e que até hoje ainda tem impacto, Friday the 13th. Mesmo não sendo aquilo que se possa chamar de um bom filme, consegue ainda ser bastante memorável. Fez sucesso nas bilheteiras o que levou à criação de uma imensidade de sequelas que de certo modo degradaram toda a imagem do original. 

Um grupo de conselheiros do campo de férias em Crystal Lake são subitamente atacados um a um por um assassino desconhecido. Sem maneira de identificar o assassino resta fugir, mas entretanto são descobertos segredos assombrosos acerca do passado do campo Crystal Lake.

Friday the 13th não tem muito a seu favor. O trabalho de Sean S. Cunningham não é nada de especial, quase não existe qualquer tipo de enredo e as actuações são de torcer o nariz. No entanto é um filme que conseguiu arrecadar bastante nas bilheteiras e aglomerar uma base de fãs bastante extensa. Porque? Simplesmente por ser um daqueles filmes de terror que por muito maus que sejam conseguem cativar e são de facto divertidos de ver. A quantidade de gore é de agradar ao público, o que seria de esperar sendo algo encarregue a Tom Savini, que já tinha feito um ótimo trabalho em Dawn Of The Dead. Com as cenas de morte explicitas, uma quantidade abundante de clichés, música arrepiante e um ambiente de cortar à faca, literalmente, tornam isto num clássico, indiscutivelmente. Penso que será uma boa demonstração de que para termos um bom filme de terror, não são necessários efeitos muito elaborados ou planos planeados a pente fino. São as próprias imagens rudes e pouco trabalhadas que trazem o toque certo para este género específico.

Com o sucesso veio o declínio. As sequelas que daqui vieram ficaram gradualmente piores e até agora já conta com 12 filmes no total, incluindo o crossover com Nightmare On Elm Street e o remake de 2009. Esclareço também que ao contrário daquilo que se pensa, Jason Voorhees não é o antagonista deste filme, mas sim das sequelas, isto é importante para quem nunca viu o original. Embora o símbolo mais associado ao franchise seja o assassino imortal que usa uma máscara de hóquei, ele nunca aparece no primeiro filme e muitos se esquecem deste facto.

Graças ao seu estatuto de um clássico do cinema de terror é merecedor de menção aqui no blog para este Halloween, assim como recomendado para uma possível maratona de filmes de terror. Para quem nunca viu e é gosta do género então recomendo vivamente.


Título Original: Friday The 13th (EUA, 1980)
Realizador: Sean S. Cunningham
Argumento: Victor Miller; Sean S. Cunningham; Ron Kurz
Intérpretes: Betsy Palmer; Adrienne King; Jeannine Taylor; Robbi Morgan; Kevin Bacon
Música: Harry Manfredini
Fotografia: Barry Abrams
Género: Terror
Duração: 95 minutos



"Psycho" separado por quatro décadas, parte II

primeira parte deste artigo visa uma comparação geral, no tempo e no conteúdo, entre ambas as obras.


PSYCHO, de Alfred Hitchcock (EUA, 1960)

PSYCHO pode parecer um objecto algo estranho na filmografia de Hitchcock, não pela temática que aborda e pelos motivos que utiliza - recorrentes noutras obras do realizador -, mas sim pelas circunstâncias da sua produção e o espaço muito sui generis que ocupa na História do Cinema. A trama, passada rapidamente em revista, já todos a conhecem: uma rapariga (Janet Leigh, nomeada para o Oscar de Melhor Actriz Secundária) rouba 40 mil dólares a um cliente do seu patrão, e, numa noite de intempérie, procura abrigo no infame Bates Motel. A rapariga (e, já agora, o dinheiro) desaparece e a busca leva vários dos interessados no seu paradeiro (a irmã, o namorado e o detective privado) a esse mesmo motel. É tudo muito hitchcockiano, explorando conceitos-chave da moralidade e da culpa e incorporando elementos de mistério e tensão. Aliás, a marca do autor faz-se sentir em vários momentos da fita: a protagonista loira, a fixação por pássaros, o espectador como voyeur, criminosos alvo da empatia do público (tanto Marion Crane como Norman Bates, salvo as devidas distâncias), a transferência da culpa entre personagens e a relação conflituosa entre Norman e a Mãe. Mas, e retomando as circunstâncias em que foi produzido, é fácil atentar o carácter algo experimental de Psycho. Os estúdios não lhe concederam o mesmo financiamento que aos seus filmes anteriores e o orçamento ficou pouco abaixo do milhão de dólares. Hitchcock testava a possibilidade de criar um filme barato e rápido de filmar, mas que fosse, simultaneamente, apelativo para a audiência. Consegue contratar actores abaixo do seu salário normal e recorre a grande parte da equipa que trabalha na sua série televisiva Alfred Hitchcock Presents. Passada a pré-produção, põe-se a gravar.

A estrutura da fita é pensada para causar desconforto ao espectador. Em dois actos facilmente delimitáveis, a acção é sempre deixada em suspenso até ao último momento possível, precisamente quando acontece. O protagonismo feminino, dividido entre Janet Leigh e Vera Miles, contribui também para a sensação de estranheza: quando nos habituamos à primeira, ela sai de cena e faz-se entrar a segunda. Fora esse, há mais alguns mecanismos que ajudam a deixar o público em constante sobressalto; a impossibilidade de os detalhar a todos faz-me destacar o polícia à janela do carro de Janet Leigh (o gatilho que desencadeia a sua paranóia) e a casa dos Bates que observa, ominosa, o motel do topo de uma colina.

Cada visualização de Psycho permite encontrar novos prazeres - que vão desde a banda sonora composta por Bernard Herrmann aos títulos iniciais desenhados por Saul Bass - e dissecar mais uns quantos elementos da obra. Permite igualmente perceber que o marco do suspense realizado por Alfred Hitchcock resulta exactamente pela forma como foi filmado - o preto-e-branco impunha-se à cor - e pelos planos e cenas estudados ao detalhe. Assim, e com a patina que o foi envolvendo com o passar dos anos, Psycho é um clássico de pleno direito, exemplo canónico de como criar suspense e tensão num filme. Parte Cinema, parte ícone cultural (distinção reservada a poucas películas), é um excelente Hitchcock - sempre se deu bem com as suas experiências, veja-se o caso de Rope -, mas não o melhor.






PSYCHO, de Gus Van Sant (EUA, 1998)

Hollywood é uma máquina que por vezes se mastiga a si própria. Entre sequelas e remakes é costume que a qualidade caia consideravelmente em relação ao primeiro tomo das franquias, enevoando a sua memória. Atenta-se o caso deste PSYCHO, que se agrava pela tentativa de recriar o original quase plano-por-plano. Depois das sequelas na década de 80 - todas com Anthony Perkins e uma delas, inclusive, realizada pelo próprio - mais fracas mas divertidas, abriu-se a porta para que se fizesse uma readaptação do icónico filme de Alfred Hitchcock. A banalização da violência e o boom do Terror e do Thriller levaram a que a Universal financiasse o projecto em 60 milhões de euros e os avanços tecnológicos alcançados no seio da indústria permitiram pôr em prática algumas das ideias que Hitchcock tinha para o original - por exemplo, o establishing shot inicial de Phoenix.

A estória seria textualmente a mesma, actualizando-se as referências a dinheiro (fruto da inflação). Decide-se colorir a imagem com tons saturados e filmar quase tudo conforme os planos do original. Aqui e ali retoca-se a película, modificando algumas sequências e cortando outras. Feitas as contas, o resultado final só podia dar errado. E deu. Como a tecnologia não acompanhou a evolução da indústria e do público estranham-se muitas das cenas icónicas, que surgem aqui pautadas por um certo elemento kitsch - a queda de Arbogast pelas escadas provavelmente será o melhor exemplo (alguns anos antes tinha-se parodiado a cena em The Silence of the Hams, com Martin Balsam a fazer dele próprio), mas há também os casos da cena do chuveiro e de muitas outras - tornando-as sombras das que lhes serviram de inspiração e decalque.

Gus Van Sant não soube pegar no filme - a marca autoral não corresponde à de Hitch, nem será este o seu género de eleição -, e quando se apercebeu disso já nada podia fazer. Nota-se a luta constante por manter este Psycho fiel ao original, mas a verdade é que simplesmente se queda longe demais. Plano-por-plano, e plano depois de plano, manchou a memória de 1960, não conseguindo sequer gerar interesse em relação ao material do qual foi adaptado. O último plano de Norman Bates em ambos os filmes, a caveira justaposta à sua face, resume bem a película: Vince Vaughn tenta emular Anthony Perkins, mas, paradoxalmente, apenas serve para realçar as diferenças entre os dois; recorda-nos que estamos perante uma cópia modesta e mal executada, parente pobre do talento de Hitchcock, que sofre ainda mais por perder literalmente em todos os planos face ao primeiro filme.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Trailer de "House At The End Of The Street"

A estrear hoje, House At The End Of The Street, de Mark Tonderai, conta com as participações de Jennifer Lawrence, Max Thieriot e Elisabeth Shue. Até agora parece conter todos os elementos necessários para agradar o público mais jovem e mainstream, no entanto dificilmente será uma boa adição ao género. Resta esperar para ver.


"Psycho" separado por quatro décadas, parte I

A morte de Alfred Hitchcock em 1980 levou à reavaliação da sua obra. Dois anos depois Vertigo entrava pela primeira vez no top decenal da britânica Sight & Sound  (em 2012 destronaria finalmente Citizen Kane). Mais à frente, nessa mesma década, PSYCHO daria origem a duas sequelas - Norman Bates irresponsavelmente solto do hospício e de volta ao negócio de família - e, ainda mais à frente, já perto do fim do milénio, a um remake shot-by-shot. 38 anos puseram-se entre Psycho, o original, e Psycho, a cópia. As diferenças não ficam por aí, nem será essa a mais significativa, mas é sempre curioso (e útil) atentar à cronologia. Nem que seja para enquadrar cada uma das obras no zeitgeist da época em que se inserem.


Porventura, para falar sobre Psycho (1960) talvez seja curioso definir o panorama do Cinema de Terror do ano em que foi lançado. Enquanto Hitchcock labutava na sua obra nos EUA, Michael Powell, outro britânico, concluía Peeping Tom no Reino Unido; do outro lado da Mancha Georges Franju, co-fundador da Cinemateca Francesa, exibia o seu Les yeux sans visage. Os três filmes revelar-se-iam influentes no género, mas, pela proximidade temática e nacionalidade dos realizadores, para este artigo só nos interessarão os dois primeiros. Hitchcock e Powell ambordavam ambos nas suas obras o voyeurismo e o cinema como veículo dessa obsessão, apostando em vilões bem-parecidos e aparentemente normais aos olhos dos outros- e aos nossos também -, até ser tarde demais. Só que enquanto Hitchcock reunia multidões em filas infinitas, desejosas de ver e sentir o fenómeno de Psycho (o poder da propaganda já nessa altura demonstrado, naquela que seria uma das campanhas publicitárias mais eficazes na história do Cinema), a Powell eram dirigidas invectivas, boicotando-lhe a fita e terminando-lhe virtualmente a carreira de realizador junto do grande público. Cinquenta anos depois, a História já se redimiu, mas à data um filme sobre um fotógrafo que matava as suas vítimas com o tripé da câmara enquanto filmava as suas reacções foi simplesmente demasiado chocante e perturbador para o público e crítica. Um dono de motel com a psique fracturada ainda passava, mas ai dele que filmasse o mal que fazia.

Algumas décadas depois, e operada a "reabilitação" de Michael Powell (da sua reputação, entenda-se), essas estórias parecem-nos normais, fruto de uma cinematografia habituada a banalizar e de uma cultura que transforma o mais empedernido dos assassinos numa rockstar. Entorpecidos pela memória do original, que ajudou a formar muitos dos cineastas actuais ligados ao Fantástico do Terror e ao Thriller, decidiu-se, desconfio que em três tempos, refazer Psycho já bem dentro da década de 90, quando o grunge e a flanela já se começavam a desfazer. Escolheu-se Gus Van Sant, cineasta com provas dadas no circuito alternativo e quotado com a aproximação dos conceitos de indie e queer ao de mainstream, para timoneiro do projecto e decide-se colorir o ecrã. Meia dúzia de nomes sonantes, a mesma música de Bernard Herrmann (adaptada) e um grafismo nos créditos iniciais a puxar para o original, e está feito. Mais, recriam-se rigorosamente quase todos os planos filmados quarenta anos antes, alterando alguns (o establishing shot inicial parte de uma ideia de Hitchcock para o original, impossível de concretizar na época) e cortando outros. As falhas no produto final fizeram-se notar. O casting foi terrível - Anne Heche e Vince Vaughn ficam a dever muito a Janet Leigh e Anthony Perkins - a cor "manchou" a imagem e acentuou defeitos, a tensão não saiu bem (a própria noção de a reproduzir parece estranha) e a realização, em teoria igual, ficou vários furos abaixo da do Mestre. Curiosamente, quem o fez percebeu que algo estava errado, mas já não foi a tempo de o corrigir. O que torna ainda mais irónico o cameo que Gus Van Sant inseriu dele próprio, imitando o original, levando uma valente descompostura de uma indivíduo igualzinho a Hitchcock.

Não é por isso de estranhar que, mesmo passados cinquenta anos, o Psycho original continue a ser o mais ajustado, tenso e assustador, o padrão quase perfeito do cinema de suspense. Nele introduziram-se alguns conceitos-chave do género e desenvolveram-se outros tantos. A readaptação não passa de uma cópia kitsch daquele que é para muitos o melhor filme de Alfred Hitchcock, falhando em toda a linha. O britânico fez o filme que sabia; Van Sant fez o que pôde.

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A crítica a ambas as obras pode ser encontrada na segunda parte deste artigo.

A Nightmare On Elm Street (1984)

A Nightmare On Elm Street é o filme que marcou o género de terror, um clássico verdadeiramente genuíno e o primeiro merecedor de menção neste Especial Halloween aqui no Matinée. Uma verdadeira pérola de Wes Craven, que deu vida ao terror nos anos 80 e que criou um franchise extenso ao longo dos últimos 20 anos. Juntando um conceito original e um novo vilão, que viria a tornar-se num dos melhores, temos uma obra-prima do género.

Nancy Thompson (Heather Langenkamp), Tina Gray (Amanda Wyss), Rod Lane (Jsu Garcia) e Glen Lantz (Johnny Depp) estão a ser perseguidos por assassino que os ataca durante os sonhos, Freddy Krueger. Sem forma de combater esta ameaça, aparentemente imparável, a única maneira de sobreviver é não adormece. No entanto o cansaço acaba por atingir todos, resta descobrir qual o motivo por detrás das mortes e tentar impedir que Freddy os apanhe.

Em 1978 foi Halloween que que subiu ao pódio dos melhores filmes de terror, dois anos depois veio Friday The 13th. Juntos, com A Nightmare On Elm Street, temos o trio supremo do terror slasher. Freddy é, na minha opinião, o vilão mais icónico, indestrutível, absolutamente perturbador e simplesmente cruel. Mas o que o torna mais atractivo é a sua personalidade psicopática, sempre com as piadas que tornam toda a situação ainda mais doentia. Para adicionar à equação, Freddy também tem uma aparência grotesca que só o tornam mais intimidador.   

Robert Englund em A Nightmare On Elm Street

Um enredo original e único, imenso gore misturado com efeitos bastante bons e um vilão aterrorizador, e temos a receita perfeita para um óptimo filme de terror. Tanto a argumentação e realização, por parte de Wes Craven, são muito bons e funcionam na perfeição. No entanto a melhor actuação vem de Robert Englund como Freddy, que embora com menos foco do que nas sequelas que viriam depois, consegue ser o mais memorável, enquanto que as restantes actuações se mantêm pelo satisfatório, o que é observado regularmente nos filmes de terror. Mas nem tudo pode ser perfeito e mesmo com as pequenas falhas consegue ser um dos melhores, trazendo uma agradável lufada de ar fresco para os adeptos do terror.

Continua a ser, provavelmente, o meu favorito. Se nunca viram, é um must see , embora não acredite que haja alguém que nunca tenha visto, muito menos que nunca tenha ouvido falar. Definitivamente um ponto alto no cinema de terror e perfeito para a noite de Halloween.


Título Original: A Nightmare On Elm Street (EUA, 1984)
Realizador: Wes Craven
Argumento: Wes Craven
Intérpretes: John Saxon; Ronee Blakley; Heather Langenkamp; Amanda Wyss; Jsu Garcia; Johnny Depp; Robert Englund
Música: Charles Bernstein
Fotografia: Jacques Haitkin
Género: Terror
Duração: 91 minutos



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

7 Dias!

O Halloween já está a bater à porta e os piores pesadelos estão prestes a voltar para assombrar os mais desprevenidos. Aqui no Matinée, estamos prontos para o que der e vier, por isso durante os próximos 7 dias iremos dedicar-nos a trazer-vos as mais recentes notícias do cinema de terror, assim como umas lembranças que marcaram o género no passado. Todos os dias, até 31 de Outubro, estarão em destaque no blog os filmes de terror que realmente fazem estremecer a espinha, ou que simplesmente mereceram um lugar no pódio do terror memorável.

Está na hora de sair à rua e atrair os maus espíritos, esculpir abóboras e contar histórias assustadoras à volta da fogueira. Preparem-se que eles estão a chegar.


domingo, 21 de outubro de 2012

To Rome with Love (2012)

Depois de Paris à meia-noite, chegou a vez de Roma receber um filme de Woody Allen. O cineasta nova-iorquino aceitou uma proposta de um grupo de distribuidores romanos e assim nasceu TO ROME WITH LOVE. O título final, que Allen afirmou odiar, surgiu como recurso a Bop Decameron e Nero Fiddles, referências que ninguém parecia compreender. Quatro estórias apenas relacionadas entre si pelo espaço onde se passam - Roma - sobre o amor, a moralidade, a família e o culto da celebridade. São várias as caras conhecidas que dão vida às personagens criadas por Allen (algumas criadas também por quem as interpreta, veja-se o caso do Leopoldo de Roberto Benigni, homólogo europeu do nova-iorquino) que, melhor ou pior, vão fazendo o filme ao seu ritmo. Os vários episódios entrecortam-se, por vezes emoldurados por uma bela peça musical tão caracteristicamente italiana (ou assim a associamos), por vezes sem aviso aparente que não  as personagens em si. Jesse Eisenberg encontra Alec Baldwin, que perde o corpo e se torna em consciência, Penélope Cruz faz de prostituta, Alison Pill é uma turista americana que encontra o amor junto de um advogado italiano e Woody Allen, no seu regresso à representação, surge como um reflexo dele próprio, sujeito nervosinho e neurótico vaiado pela crítica enquanto maestro. Nenhum deles se destaca, mas são todos agradáveis caricaturas do próprio cineasta, que insiste em se reproduzir a cada filme que faz. A fórmula não é nova, mas ainda não é desta que se torna cansativa.

To Rome with Love funciona como um conjunto de gags leve e descomprometido, mas nem por isso vazio de significado. Criticam-se os famosos por serem famosos e a sociedade que os cria e cultiva. Aponta igualmente baterias aos pseudo-intelectuais - sendo a Monica de Ellen Page a síntese do arquétipo, tal como já o era a Mary de Diane Keaton em Manhattan -, pretensiosos dispostos a largar linhas únicas e noções genéricas sobre arte e cultura e desejosos de provar ao mundo que percebem de tudo o que é assunto. Também eles seduzem quem os rodeia, centrando atenções em si (veja-se o que a personagem de Page faz com o namorado da melhor amiga). Woody Allen volta às comédias puras, reciclando chavões e truques já por ele usados. Mostra-se Roma do ponto de vista de um turista, com todos os estereótipos e marcos que se espera encontrar, tudo muito direitinho e iluminado, fotografada por Darius Khondji. Não é original, mas a sua leveza faz com que não seja difícil de ver. Como Baldwin diz a Eisenberg, em jeito de resumo, «com o tempo vem a exaustão».


Título Original: To Rome with Love (Espanha/EUA/Itália, 2012)
Realizador: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Judy Davis, Flavio Parenti, Roberto Benigni, Alison Pill, Alessandro Tiberi, Alessandra Mastronardi, Alec Baldwin, Riccardo Scamarcio, Woody Allen, Jesse Eisenberg, Greta Gerwig, Penélope Cruz, Ellen Page
Fotografia: Darius Khondji
Género: Comédia, Romance
Duração: 112 minutos


Sunday Stills #8: "Trois couleurs: Blanc"



Julie Delpy como Dominique em TROIS COULEURS: BLANC, segunda parte da trilogia de Krzysztof Kieślowski.

sábado, 20 de outubro de 2012

Cosmopolis (2012)

«A specter is haunting the world.»

Em raras ocasiões um filme foi tão esperado em Portugal como COSMOPOLIS, de David Cronenberg. Uma co-produção portuguesa, através da Alfama Films de Paulo Branco, o filme marcou o regresso do cineasta canadiano à sua marca autoral mais óbvia. Não que a ruptura total se tenha consumado com o anterior A Dangerous Method, mas notava-se um claro afastamento em relação ao corpo de trabalho desenvolvido até então. Neste conto sobre um jovem bilionário que atravessa a cidade num dia particularmente conturbado para cortar o cabelo retomam-se temáticas tão características de Cronenberg como a deformação dos indivíduos (pelo body horror que o cineasta sabe explorar tão bem), a paranóia crescente e uma análise da influência da tecnologia na sociedade.

O olhar de Cronenberg incide, frio e calculista, na vida de Eric Packer (Robert Pattinson) hermeticamente contida na limusina branca que o isola do mundo exterior. O egocentrismo - e a inconsciência - do protagonista traduz-se no seu desejo em atravessar a cidade sabendo que as ruas se encontram obstruídas e que a sua vida se encontra em risco. O Presidente está de visita à cidade e anarquistas reúnem-se na rua, manifestando-se de ratos mortos na mão (o filme abre com uma citação retirada de um poema de Zbigniew Herbert - «a rat became the unit of currency» - que se tornaria ideia recorrente durante o filme), mas isso pouco interessa ao jovem bilionário enclausurado no seu veículo. Especular é um hábito difícil de perder, e Eric já não fica satisfeito ao brincar apenas com os mercados e as moedas; especula também a sua vida, ignorando ameaças e cedendo aos seus impulsos mais animais. É interessante observar a progressão da sua paranóia - a obsessão com a saúde manifestada pelo check-up diário feito por um médico diferente do habitual - e a passagem de ambientes limpos e cuidadosamente desenhados (o seu Mundo) para o caos das ruínas urbanas manchadas pela sujidade e doença (o Mundo exterior). É nessa transição que o filme ganha ânimo e emoção e se dá o derradeiro empurrão na estória que a precipita para um fim já anunciado.

A inexpressividade de Pattinson como actor funciona em prol do filme e contagia o ambiente que o rodeia; não é genial, mas resulta. Por outro lado, separar a estória em vinhetas algo estanques resultou na necessidade de ter ao dispor uma quantidade considerável de personagens secundárias (aqui também se perde a noção de pessoas como pessoas, e não como objectos) que nem sempre são bem-aproveitadas. Gente como Jay Baruchel, Juliette Binoche, Samantha Morton ou Kevin Durand passa pelo filme, em desfile, sem conseguir deixar a sua marca. Sarah Gadon, quase tão estóica quanto Robert Pattinson, complementa bem a personalidade de Eric Packer, o seu marido, recusando, no entanto, a transposição para o seu universo (não chega a entrar na limusina). Surgem ainda Mathieu Amalric, como o assassino das tartes, no momento em que se faz a transição entre ambientes, aparição reduzida mas competente, e Paul Giamatti, fantástico, quando já se entrava no frenesim emocional que marcava o fim do filme. De todos, os três últimos são os que tornam as suas presenças mais notadas na película, indispensáveis para a mensagem pretendida.

Cosmopolis falha nalguns aspectos importantes, mais do que na utilização indevida de secundários de talento confirmado. Cronenberg, apesar da direcção analítica, falha em transmitir a sensação de claustrofobia ao interior da limusina; Packer sente-se confortável num espaço que tornou seu e que, apesar de o isolar, parece sempre demasiado amplo. Nota-se também um apego excessivo ao material original, o romance homónimo de Don DeLillo escrito em 2003, quando a crise económica e as consequências da especulação eram ainda um mero presságio; quase uma década depois, e com a recessão confirmada, é tudo muito familiar. Entre diálogos bizantinos e nem sempre inteligíveis, percebe-se que quem brinca com o fogo acaba por se queimar. Mesmo neste mundo assombrado por espectros.


Título Original: Cosmopolis (Canadá/França/Itália/Portugal, 2012)
Realizador: David Cronenberg
Argumento: David Cronenberg (baseado no livro de Don DeLillo)
Intérpretes: Robert Pattinson, Paul Giamatti, Sarah Gadon, Juliette Binoche, Samantha Morton, Kevin Durand, Jay Baruchel, Mathieu Amalric, Emily Hampshire
Música: Howard Shore
Fotografia: Peter Suschitzky
Género: Drama
Duração: 109 minutos


Trailer de "Silver Linings Playbook"

A ganhar ímpeto nos principais barómetros semi-oficiais da corrida aos Oscars - ganhou o prémio do público no Festival de Toronto -, Silver Linings Playbook chega às salas de cinema nacionais dia 6 de Dezembro. Realizado por David O. Russell (I Heart Huckabees, The Fighter), o filme conta no seu elenco com Bradley Cooper e Jennifer Lawrence nos papéis principais.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A cultura (pop) japonesa em Portugal, parte I

Escrever estas linhas significa que sobrevivi a mais uma edição do Iberanime. Aliás, que sobrevivemos - já é tradição os editores deste espaço marcarem presença naquela que é a maior (e única, até ver) convenção de cultura japonesa e anime em Portugal. Para quem é geek, passe a expressão, ou gosta de animação nipónica o Iberanime representa um dos fins-de-semana mais libertadores do ano; o mesmo se aplica a quem se veste como as suas personagens preferidas de desenhos animados (peço desculpa aos mais sensíveis, mas não me apanham a dizer que anime não é desenho animado) e bandas desenhadas. O evento apresenta-se como uma oportunidade única, uma ou duas vezes por ano, conforme os casos, para se explorar o universo pop japonês e entrar em práticas pouco comuns por cá. Não é todos os dias que se pode sair à rua mascarado de ninja ou pokémon - chamam-lhe cosplay - sem ser gozado, ou pior. Também não é todos os dias que se conhece quem goste de fazer o mesmo. Quem vai ao Iberanime sabe ao que vai; quem não sabe, depressa descobre.


Mas a verdade é que o Iberanime, apesar do conceito inovador num país com um consumo crescente de animes e mangas, continua a não parecer uma convenção. Falta-lhe o tamanho e a tradição. Não que se alimentem ilusões de podermos vir a ter uma espécie de Comic-Con em Portugal, mas daqui a umas edições (e já estão confirmadas, pelo menos, mais quatro, segundo as minhas contas) pode-se aspirar a algo mais. Por agora, e não sendo de todo negativo, o Iberanime assemelha-se mais a uma reunião de gente conhecida, amiga, que calha gostar de coisas parecidas. O que falta em bancas e expositores é compensado em familiaridade e energia. Como me dizia o nosso outro editor (Wladimir Jr. Ribeiro) no sábado, «não falta o que fazer, faltam é actividades interessantes». Explicando, conclui-se que cedo se esgota o que fazer longe do palco principal: percorre-se o recinto em dez minutos, gasta-se meia hora a passar revista às bancas, completam-se as actividades em pouco menos de duas horas, esticando-as ao máximo, e pouco mais. Um dia dá bem para tudo; dois só será ideal para os verdadeiros aficionados.

Estas linhas, em jeito de resenha, começaram a ser esboçadas no próprio evento, num desses tempos mortos. Metralhado com um hit musical sul-coreano, a tarefa não viria a revelar-se fácil e rapidamente foi abandonada. Achei por bem chegar primeiro a casa e colocar as ideias em ordem, longe da excitação e do rebuliço, antes de escrever o que quer que fosse sobre o evento. É que eu, que nem sou dos maiores entusiastas, também gosto daquilo. Falta é uma banca ligada ao Cinema. Fora isso - e as limitações já assinaladas -, tudo porreiro. Nunca imaginei foi encontrar tanta gente que soubesse coreografrar de forma tão exímia a tal batida que dá pelo nome de Gangnam Style. Valha-nos Psy!

António Tavares de Figueiredo

(Fonte da imagem: http://www.demotix.com/)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

2013, ano de remakes (de terror)

Com 2012 a meses do fim, começam a circular notícias de projectos a estrear no ano que vem. Para 2013 estão anunciados remakes de Carrie, original de Brian De Palma, adaptado de um conto de Stephen King, e Evil Dead, de Sam Raimi. Foi ainda anunciado um argumento para um remake de Poltergeist, de Tobe Hooper, e está prevista uma adaptação norte-americana de Two Eyes Staring/Zwart Water, co-produção belga e holandesa vencedora de múltiplos prémios na Secção Oficial de Cinema Fantástico do Fantasporto 2011.

Já foram divulgados um teaser poster e um teaser trailer de Carrie, que contará com realização de Kimberly Peirce. Chloë Grace Moretz e Julianne Moore serão as protagonistas. Carrie tem estreia prevista nos EUA para 15 de Março de 2013.




Trailer de "Gangster Squad"

Por cá só estreia a 23 de Fevereiro de 2013, mas há muito que Gangster Squad, o novo filme de Ruben Fleischer (Zombieland), já dá que falar. O elenco conta com nomes como Sean Penn, Ryan Gosling, Emma Stone e Josh Brolin, entre outros.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Poster e Trailer de "Safety Not Guaranteed"

Ainda sem data de estreia marcada em Portugal, Safety Not Guaranteed perfila-se como um dos filmes indie mais interessantes do ano. Dos produtores de Little Miss Sunshine, o filme conta a estória de três jornalistas que partem com a missão de entrevistar um homem que colocou um anúncio nos classificados à procura de um parceiro para viajar no tempo.




Trailer de "Sinister"

Foi divulgado um redband trailer de Sinister, filme de terror que conta com Ethan Hawke como protagonista. Escrito e realizado por Scott Derrickson (The Exorcism of Emily Rose), Sinister tem estreia marcada em Portugal para 8 de Novembro.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Trailer de "The Canyons"

Foi divulgado um trailer de The Canyons, o novo filme de Paul Schrader. O realizador de Adam Resurrected e argumentista de Taxi Driver e Raging Bull conta com Lindsay Lohan como protagonista num filme sobre «juventude, glamour, sexo e sucesso em Los Angeles». O filme tem estreia prevista para 2013.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Banda Sonora: "Rango"

Walk Don't Rango, de John Thum e David Thum, produzida por Hans Zimmer e Gore Verbinski, e interpretada por Los Lobos e Arturo Sandoval.





A música está intimamente ligada ao western. Em Rango, western animado (e animalesco) de Gore Verbinski, é um grupo de mochos mariachis que vai entregando as deixas musicais à medida que a fita se vai desenrolando. Catita, não?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Citações: "The Big Sleep"

Vivian: «Why did you have to go on?»
Marlowe: «Too many people told me to stop.»

Humphrey Bogart e Lauren Bacall em The Big Sleep.

Poster de "Seven Psychopaths"

Estreia esta semana nos EUA Seven Psychopaths, o novo filme de Martin McDonagh, realizador de In Bruges. Um dos posters divulgados recentemente (foram sete no total) conta com a cara de Tom Waits justaposta à de um coelho.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Trailer de "The Lone Ranger"

Gore Verbinski parece ter tomado o gosto aos westerns. Depois da animação RangoThe Lone Ranger é o novo projecto do realizador, contando novamente com Johnny Depp como protagonista. O filme só tem estreia prevista para o Verão do próximo ano, mas já há trailer.


Posters de "Killing Them Softly"






Um dos filmes mais esperados desta estação, foram divulgados novos posters de Killing Them Softly, de Andrew Dominik. Qual deles o melhor?

domingo, 7 de outubro de 2012

V/H/S (2012)



V/H/S, de vários (EUA, 2012)

Uma antologia será quase sempre, até por definição, uma obra desequilibrada. Ligar segmentos que podem variar na qualidade não é tarefa fácil, dando lugar, muitas vezes, a resultados insatisfatórios. Em V/H/S é esse o caso. Um grupo de delinquentes entra à socapa numa casa com a missão de encontrar uma cassete que lhes foi encomendada. Em vez de uma encontram várias cassetes e, como quem não quer a coisa (até porque o dono da casa parece morto), põem-se a ver as filmagens.

Nos tempos que correm, a cassete é já um objecto tão "pré-histórico" que corre-se o risco de toda uma geração não perceber grande parte do filme. Depois há a questão das historietas. Dos cinco segmentos (mais as transições), quatro dos realizadores optaram por meter o sobrenatural ao barulho. Curiosamente, o único que não o fez - Ti West, que contava já no seu currículo com o curioso The Innkeepers - foi o que se saiu melhor. West percebeu que aproximar o vídeo ao snuff era o passo lógico a tomar, e a ideia de um psicopata bem humano que viola a privacidade do nosso quarto de hotel enquanto dormimos acaba por assustar mais do que as criaturas escolhidas pelos outros. Os outros segmentos vão aparecendo, sem particular interesse ou engenho; entre a súcuba e a possuída, passando pelo bicho que não pode ser filmado e pelas criancinhas demoníacas, não há nada de novo. Tudo bem embalado em formato found footage e homevideo.

Filmar porque sim - e porque se tem uma câmara à mão - é algo com que todos nos identificamos. O mais "normal" acaba também por ser o mais assustador. E quando o assunto acaba, fica a pergunta que já se fazia na curta de Ti West: «apagaste as imagens?».

Sunday Stills #6: "Psycho" (1960)













A obra de Alfred Hitchcock tem sido alvo de reavaliação desde a sua morte. Recentemente a publicação britânica Sight & Sound, em associação com a comunidade de críticos de cinema, elevou Vertigo ao primeiro lugar da sua lista decenal de melhores filmes de sempre, destronando Citizen Kane, de Orson Welles. Outro dos filmes do cineasta britânico também em foco nesta corrente revisionista é PSYCHO (1960), obra seminal no seio do cinema de terror. Às duas sequelas na década de 80 juntou-se um remake plano-por-plano da autoria de Gus Van Sant datado de 1998, que muitos acusaram ter desvirtuado o material original. Da obra Hitchcockiana ficam aqui quatro stills da mítica cena do chuveiro, com Janet Leigh como Marion Crane, vítima de Norman Bates e da omnipresente Mãe. A dissolução do ralo do chuveiro no olho de Marion e o remoinhar da câmara que se afasta do rosto da actriz emulando a água sanguinolenta na banheira formam uma das sequência mais eternas do Cinema. Quarenta anos mais tarde, colorida e saturada, faltaria impacto à (imitação da) mesma cena, e tudo pareceria simplesmente ridículo. Claro que também faltaria Janet Leigh no ecrã, mas essas seriam outras contas.