terça-feira, 28 de maio de 2013

Um Filme, Uma Mulher

Desafiado pela Sofia Santos, do blog girl on film, a escolher uma mulher do Cinema e sobre ela escrever o que me aprouvesse, tirei a pena do descanso e pus-me ao trabalho. Para ler o resultado do esforço - e conhecer a minha preferência cinéfila no que ao sexo feminino diz respeito - é só passar por aqui. Convém é ler também os outros textos da iniciativa, que valem bem a pena.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ecos de Cannes

A cada grande festival que passa o Cinema português vai ganhando novos premiados. Este ano, em Cannes, foi a vez de João Nicolau, com o seu GAMBOZINOS (Quinzena dos Realizadores). A Palma d'Ouro, essa, foi para LA VIE D'ADÈLE, de Abdellatif Kechiche.



Seguem-se os vencedores em todas as categorias:

SELECÇÃO OFICIAL

Palma d'Ouro - Longa-Metragem:
LA VIE D'ADÈLE, de Abdellatif Kechiche

Grande Prémio:
INSIDE LLEWIN DAVIS, de Joel e Ethan Coen

 Melhor Realizador:
Amat Escalante, por HELI

Prémio do Júri:
LIKE FAHTER, LIKE SON, de Hirokazu Koreeda

Melhor Argumento:
Jia Zhangke, por A TOUCH OF SIN

Melhor Actriz:
Bérénice Bejo, por LE PASSÉ

Melhor Actor:
Bruce Dern, por NEBRASKA

Palma d'Ouro - Curta-Metragem:
SAFE, de Byoung-gon Moon

Prémio Vulcain do Artista:
GRIGRIS, de Mahamat-Saleh Haroun

Menções Especiais - Curtas-Metragens:
HVALFJORDUR, de Gudmundur Arnar Gudmundsson
37°4 S, de Adriano Valerio

UN CERTAIN REGARD

Prémio Un Certain Regard:
L'IMAGE MANQUANTE, de Rithy Panh

Prémio do Júri:
OMAR, de Hany Abu-Assad

Melhor Realizador:
Alain Guiraudie, por L'INCONNU DU LAC

A Certain Talent:
Diego Quemada-Diez, por LA JAULA DE ORO

Avenir Prize:
FRUITVALE STATION, de Ryan Coogler

JÚRI ECUMÉNICO

Melhor Filme:
LE PASSÉ, Asghar Farhadi

Menções Honrosas:
MIELE, de Valeria Golino
LIKE FATHER, LIKE SON, Hirokazu Koreeda

QUINZENA DOS REALIZADORES

Prémio Art Cinema
LES GARÇONS ET GUILLAUME, À TABLE!, de Guillaume Galliene

Prémio SACD:
LES GARÇONS ET GUILLAUME, À TABLE!, de Guillaume Galliene

Menção Especial:
TIP TOP, de Serge Bozon

Prémio Illy de Curta-Metragem:
GAMBOZINOS, de João Nicolau

Menção Especial de Curta-Metragem:
POUCO MAIS DE UM MÊS, de André Novais Oliveira

Prémio Label Europa Cinemas:
THE SELFISH GIANT, de Clio Barnard

SEMANA DA CRÍTICA

Grande Prémio:
SALVO, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza

Menção Especial:
LOS DUEÑOS, de Ezequiel Radusky e Agustin Toscano

Prémio Revelação France 4:
SALVO, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza

Prémio SACD:
LE DÉMANTÈLEMENT, de Sébastien Pilote

Prémio Canal+ - Curta-Metragem:
PLEASURE, de Ninja Thyberg

Prémio Descoberta - Curta-Metragem:
COME AND PLAY, de Daria Belova

Black & White 2013: os vencedores

PRÉMIOS DO JÚRI

Grande Prémio (Vídeo):
THE FINAL BELL, de Lionel Michaud

Melhor Vídeo - Ficção:
1949, de Paul Florian Muller

Melhor Vídeo - Documentário:
WARMTH, de Victor Asliuk

Melhor Vídeo - Experimental:
HERMENEUTICS, de Alexei Dmitriev

Melhor Vídeo - Animação:
ANDERSARTIG, de Dennis Stein-Schomburg

Melhor Áudio:
BLACK ON WHITE, de Emma Bowen

Melhor Fotografia:
AWAKE, de Fábio Roque

PRÉMIOS DO PÚBLICO

Melhor Vídeo:
FONTELONGA, de Luís Costa

Melhor Áudio:
VESSEL, de João Almeida

Melhor Fotografia:
HISTÓRIAS PASSADAS, de Margarida Sá Marques

MENÇÕES HONROSAS

Video - Ficção:
TIN & TINA, de Rubin Stein
HOTEL AMENITIES, de Julia Guillén Creagh

Vídeo - Animação:
NON-CITIZENS, de Aliona Gloukhova

Fotografia:
VACÍOS EN ESPERA, de Bruno Bresani

4:40 (Associação de Estudantes da UCP)

EM LINHA, EM CÍRCULO, de Afonso Gonçalves, Filipa Figueiredo, Mariana Mesquita e Rafaela Guimarães

domingo, 26 de maio de 2013

Sunday Stills #38: "La dolce vita"



A propósito da 10ª edição do Black & White a da estética monocromática que caracteriza o festival, relembramos esta semana LA DOLCE VITA, de Federico Fellini. Poucos filmes - e realizadores - conseguiram enraizar-se de forma tão profunda no preto-e-branco como este deambular de Marcello pelas ruas de Roma. La Dolce Vita e Fellini provam a capacidade do Cinema de se elevar à vida.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Black & White 2013, Dia 2: o Deus-Maquinista no comando do moralismo universal

Encontro-me com o João, um dos amigos locais, numa cervejaria de esquina, pouco visível ao transeunte mais distraído. Fico com o benefício de escolher a mesa. Que seja uma cabine nos fundos, então. Ainda os finos não encontraram o caminho da mesa e já se fala dos planos dos mestres, de Bergman, Tarkovsky e Reis. Gajo culto, este João. A conversa lembra-me algo que Edgar Pêra escreveu sobre Paulo Rocha: numa das aulas, o último rumava em direcção à tela, de joelhos, oferecendo um braço em troca do olho de Dreyer para tirar planos. O João que, confessa-me, também não acha nada mal o negócio faustiano sugerido por Rocha, despede-se com o resto do seu fino e a certeza de que nestas terras lusitanas ninguém fotografa Cinema tão bem como o Rui Poças. Concordo. E ponho-me a ouvir discussões alheias.

Ao balcão fala-se do Porto. Do clube, claro está! Nota mental: guardar um dia destes para escrever sobre o Porto - a cidade, claro está! - lá no blog. Resisto à tentação de dar uma vista de olhos ao catálogo. Quero manter o desafio de seguir o festival em modo guerrilha, deixar-me guiar pelos deuses do celulóide. Estar na sala às horas marcadas e abrir os olhos, só e apenas. Ao balcão ainda se berra sobre o Porto. O caderno, esse, fica na mala; prefiro escutar o ambiente que me rodeia, saborear o momento. A vida trata-me bem. Merda, tenho de pedir ao Luís a tal entrevista! A ver se o encontro na Católica.

O Sol já se põe quando regresso ao campus. O telemóvel vibra-me no bolso. Nem de propósito, uma mensagem do Luís. O gajo deve ser bruxo! Vou ter com ele. Diz que nos dá a entrevista com todo o gosto, que é um prazer. E despede-se num abrir e fechar de olhos, sempre apressado. Desço ao bar. Mais amigos. Uns quase de infância, outros de boémias noitadas nos Leões. Pergunta-se pelo paradeiro (incerto) de conhecidos em comum, fala-se de música, festarolas e, sobretudo, Cinema. Chamam-me doido por preferir Truffaut a Godard (um «tu não sabes o que dizes» roda a mesa). Começa uma sessão competitiva de audio - à qual falto -, e aproveito para esticar as pernas. Mais reencontros, mais abraços partilhados, mais parvoíces disparadas para o ar ao desbarato. O Junior, bracarense semanal, telefona-me. Garante-me que chega sem falta amanhã, que ainda apanha os dois últimos grupos de vídeo a competição. Desligo mesmo a tempo: toca a sineta. Vão começar os filmes.

HOTEL AMENITIES (Espanha, 2012), de Julia Guillén Creagh, abre bem a sessão. Dois amantes, ambos casados com outras pessoas, encontram-se pela primeira vez num quarto de hotel. Conheceram-se online e pretendem agora consumar o caso. Só que o Universo é um sacana moralista que parece não os querer deixar concretizar o desejo carnal. Os telemóveis tocam nas piores alturas possíveis; primeiro o dela, depois o dele. São os respectivos cônjuges. Um momento de dúvida para, no final, a porta se fechar com o aviso para não incomodar o par. O resto não se precisa de saber.

Já PELUQUERO FUTEBOLERO (Espanha, 2012), de Juan Manuel Aragon, vive principalmente do seu argumento. Não revelando nada de novo, aproveita, ainda assim, os elementos à disposição para criar uma história divertida pelos seus contornos absurdos. Vale pelas gargalhas e pela (passageira) interrogação se a desorientação do homem que, acabado de trair o clube, vai cortar o cabelo não passará de um conflito interior?

Menos objectivos - até porque não precisam de o ser - são MILK GLASS (Rússia, ?), de Egor Chichkanov, DOUBLE TAKE (Suécia, ?), de J. Tobias Anderson, e DELL' AMMAZZARE IL MAIALE (Itália, 2011), de Simone Massi. Sobre os dois primeiros, a conversa é rápida: o de  Chichkanov é um videoclipe - bem filmado, é verdade, mas um videoclipe, ainda assim -, a roçar o artsy-fartsy, enquanto que o de Anderson é uma montagem em split-screen de cenas de Intermezzo: A Love Story, de Gregory Ratoff, decompondo campos-contra-campos de Leslie Howard e Ingrid Bergman (acabei por gostar do resultado). Relativamente ao de Massi, sobre o qual já tive a oportunidade de escrever a propósito de um outro evento, confirmei duas suspeitas: primeiro, que o trabalho técnico da animação é, de facto extraordinário - já para não falar da sonorização -; segundo, que falta significado à obra, viajando-se apenas entre camadas.

NEGOTIATING REPRESENTATION IN ISRAEL AND PALESTINE (Israel/Palestina/Reino Unido, ?), de Huw Wahl, parece-me um objecto com mais valor social/humanitário do que cinematográfico. Não fosse o magnífico trabalho de som - de uma riqueza enorme -, pouco havia a espremer, em Cinema, do conjunto de stills de fotojornalistas narrado pelos próprios. Salva-se a mensagem da liberalização da imagem enquanto ferramenta da consciência social (e global). Melhor na combinação da mensagem com a linguagem cinematográfica é ANDERSARTIG (Alemanha, 2011), de Dennis Stein-Schomburg, animação de traço delicado contada pela única sobrevivente de um bombardeamento a um orfanato alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Relato impressionante de uma juventude perdida, suportada pela leveza etérea que lhe dá forma.

Guardou-se o melhor para o fim. DEUS ET MACHINA (Espanha, 2012), de Koldo Almandoz, é uma obra rara no modo como se desenha. Um homem chega a uma fábrica de manhã e põe a funcionar o Mundo - trata-se de um Deus-Maquinista encantado pela Natureza que gere, mas descontente com os homens que O gerem. Se calhar Nietzsche enganou-se e Deus, afinal, não morreu: escolheu foi demitir-se daquele emprego ingrato e deixar as responsabilidades para outro.

António Tavares de Figueiredo

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Black & White 2013, Dia 1: Macau, o frio, o adeus e a dança

Saio do carro a correr. Porra, o primeiro dia e já estou atrasado! Levanto a acreditação de imprensa - e vejo na mesa a do Junior, que só deve chegar lá para sexta -, e olho para o relógio. Com a brincadeira de ficar na faculdade a falar do campeonato do Porto já não vou a tempo da sessão das 15h00. Menos mal que são os vencedores do ano passado (conheço-os quase todos). Aproveito para conhecer o campus da Católica.

Ou assim contava fazer. Mal saio do edifício das Artes esbarro com uma cara conhecida. O Luís continua o mesmo: magro, com barba e sempre apressado. Pergunta-me se vou à sessão de sexta à noite, que não posso faltar. Mas que raio há de tão importante na sexta à noite? Vai apresentar a curta dele, diz-me, que tenho mesmo de ir. Deixo-o descansado: na sexta até o Junior, amigo em comum, vai! Despede-se - tem sempre muito que fazer - e marca um café para um dos dias do festival. Desisto de dar a minha volta de reconhecimento. Vou é procurar um sítio para me sentar e dar uma vista de olhos pelo programa, que isto de cobrir um certame sem saber ao que se vai não tem jeitinho nenhum.

A Católica é agradável nesta altura do ano. Encontro um banco aquecido pelo Sol e ponho-me a folhear o catálogo. Lá está o Luís Costa e o seu FONTELONGA! Foda-se, não lhe pedi uma entrevista para o blog. Enfim, alguma coisa se há-de arranjar. Recebo uma mensagem. É do Xico, outro dos amigos a estudar na área. Promete-me, também ele, um cafezinho, mas só a partir de amanhã: hoje não tem aulas. Olho novamente para o relógio. Está quase na hora da sessão das 17h00. Decido-me a encontrar a sala.

O auditório não é difícil de encontrar. Mas tenho de descer não-sei-quantos lanços de escadas com uma mala pesadíssima. Entro, escolho um lugar, e, para minha surpresa, mais um reencontro. No palco, diante de mim, uma cara conhecida das fitas nos Passos, Meca dos cinéfilos portuenses. Trocamos "olás", separados por filas de cadeiras, que o tempo não permite outras cortesias. Cabe-lhe apresentar a artist talk de Tomé Quadros, prata-da-casa e jurado nesta edição do Black & White. Fala-se de Macau, de macaístas e macaenses, do choque-transformado-em-fusão cultural, dos Dóci Papiaçam di Macau. E passa-se aos filmes, que são o que verdadeiramente importa.

O trabalho dos Dóci Papiaçam di Macau lembrou-me, quase de imediato, duas coisas: uma foi o teatro chinês, super-exagerado e altamente estilizado, de que Guerra da Mata fala em A Última Vez Que Vi Macau, seu e de João Pedro Rodrigues; a outra, a teoria da fixação do teatro, defendida por Manoel de Oliveira. Mas se a primeira é rapidamente comprovada à medida que as fitas - na sua grande maioria falsos-trailers, auto-satíricos na utilização de estereótipos e lugares-comuns - vão passando, a segunda cedo cai por terra. É que aqui o Cinema não terá tanto o objectivo fixar a obra, como de expandir, através da multimédia, a mensagem do grupo: a preservação do Patuá macaense, o crioulo local.

Reduzidos ao chiste mencionado na apresentação, os trabalhos dos Dóci Papiaçam di Macau, não obstante o seu valor na divulgação de uma identidade cultural muito própria, acabam por se reduzir à curiosidade que encerram em si, enquanto paródias assumidas. Mais interessante pareceu-me, contudo, um dos documentários do próprio Tomé Quadros - em antevisão no início da sessão -, CHÁ GORDO, sobre a prática social que reúne à mesa as famílias macaenses. Aguardo com algum entusiasmo a oportunidade de o ver.

Pausa na programação. E novo intervalo alargado. Começo a pensar no formato a dar à cobertura do festival. Que se lixe, vai ser uma crónica! Começo a desenhar, mentalmente, estas linhas. No Bar das Artes tiro da mala o fiel caderninho - companheiro de rascunhos - e escrevo não sei quantos parágrafos que sei necessitarem de séria revisão quando me apanhar no conforto de casa. Reconheço uma outra amiga (mais uma!), esta mais antiga. Não sabia que conhecia tanta a gente a estudar por estes lados. Vem na minha direcção; ainda bem, não me apetecia nada ter de me levantar para fazer o caminho contrário. Pergunta-me o que faço por aqueles lados, que decerto não estudo ali, ou já me teria visto. Mostro-lho a acreditação e falo-lhe do blog, meio orgulhoso do feito. Pá, deixa de ser parvo, a conversa não lhe interessa, penso para mim. Ela senta-se, contudo, à mesa, admiradíssima por eu editar uma página sobre Cinema. Pomos a conversa em dia, até que alguém a chama. Outro café prometido. Decido guardar o caderno e ir esticar as pernas.

Mal passo a porta que dá para o exterior cruzo-me com o Nuno Reis, do Antestreia. Ficamos a fazer horas cá fora até ao início da sessão da noite. Filmes em circuito comercial, críticos de eleição na blogosfera nacional, festivais e eventos a acompanhar, resenhas em atraso nos respectivos espaços, passam-se todos os tópicos da praxe em revista. Já não nos víamos há largos meses - desde o Fantasporto - e assunto não falta. A malta começa a entrar. Os filmes vão começar.

A edição deste ano abre com 89 MM OD EUROPY (Polónia,1993), de Marcel Lozinski, nomeado em meados da década de 90 ao Oscar de Melhor Curta-Metragem Documental. Escolha interessante. Trabalhadores dos caminhos-de-ferro a trocarem as rodas as carruagens enquanto os passageiros os observam (um deles fotografando-os). A primeira associação que vem à cabeça é o Cinema Novo, trazido pelas Novas Vagas, carregado de consciência social. Findo o filme, apresenta-se o festival e o júri deste ano. Batem-se palmas de minuto a minuto. E corta-se para os seis títulos a concurso nesta primeira leva.

WARMTH (Bielorrússia, 2010), de Victor Asliuk, é, apesar do título, um filme frio. Ambientado numa fábrica de botas, oscila entre grandes-planos fechados na cara dos trabalhadores e uma visão mais distante do vapor que preenche o espaço. Aliás, é nesse fumo ubíquo que o melhor do filme se descobre, na visão impessoal - mal contrariada pelas pessoas, próximas de ferramentas - daquele mundo industrial. Igualmente frio pareceu-me NEST (Geórgia, 2011), de Tornike Bziava. Dele destaco a solidão inicial do protagonista, um velho viúvo com um filho divorciado, e um plano extraordinariamente belo: o pai, sentado na cama, aperta a gravata ao filho, num dos gestos mais íntimos possíveis.

Bem mais alegres são THE FEAST (Alemanha, ?), de Boris Seewald, e FROM DAD TO SON (Alemanha, 2011), de Nils Knoblich. O primeiro, experimental, cola várias coreografias num espectáculo visual frenético e, diga-se com toda a justiça, feliz. O segundo, animação paralelepípeda, história de um pai agricultor com o filho preso, conseguiu deixar-me com um sorriso nos lábios, apesar das óbvias limitações técnicas.

O primeiro português a competir, Vasco Mendes, surpreendeu pela positivo. O seu FOR THOSE WHO STAY (Portugal, ?) terá sido, porventura, o melhor do dia. Muito graças aos magníficos planos em contra-luz daquele bar de aeroporto, onde a despedida é para os que não embarcam. Nem o facto de, no final, parecer um anúncio a uma qualquer marca de cerveja o prejudicou: quem filma assim merece o maior dos elogios. No pólo oposto ficou LOOKING FOR SOMETHING (PART ONE: A WINTER VISIT) (Alemanha, ?), de Fjodor Donderer, feito entre imagens granuladas e uma pretensiosa narração filosófica-ambiental. A retórica ficou, no entanto, longe de convencer.

António Tavares de Figueiredo

terça-feira, 21 de maio de 2013

The Great Gatsby (2013)

Diz uma publicação recente num espaço online português dedicado ao Cinema: «Mas atenção, não gosto de me deslumbrar com isso [efeitos especiais], nem tão pouco prestigiar um filme por essa vertente, embora claro que possa constatar o bom trabalho realizado nesse campo. Normalmente neste tipo de discussão faço um esforço e prefiro, numa perspectiva, avaliar a história e a sua adaptação, noutra, o aspecto inovador da realização. O resto é puramente acessório na maioria dos casos.». A reflexão serve de excelente ponto de partida para a análise a THE GREAT GATSBY, de Baz Luhrmann. E não é preciso muito para perceber o motivo. Ou não fosse Luhrmann um dos grandes cineastas do deslumbramento, das elaboradas encenações visuais, do bigger than life cinematográfico. E não descrevesse, também, o romance de F. Scott Fitzgerald a opulência de uma sociedade, pouco preocupada com gastos e excessos.


(Sobre a publicação, um aparte. Se é verdade que concordo com o que se escreveu no Caminho Largo - sítio de destaque na blogosfera portuguesa, editado pelos irmãos Teixeira -, também o será que reservo na minha abordagem ao Cinema um lugar mais do que «puramente acessório» para os efeitos especiais. Mesmo que os considere por vezes, exagerados e algo descabidos no contexto da história.)

Mas comecemos pela câmara de Luhrmann. Nem de propósito, escrevi há poucas semanas sobre Spring Breakers, de Harmony Korine. E nem de propósito porquê? Passo a explicar: a lógica videoclipe que Korine explode no seu girls gone wild é a mesma que serve de base ao estilo visual de Luhrmann. Claro que podemos discutir que o australiano a utiliza melhor, mais consistentemente ou de forma mais refinada - e parece-me que sim, a todas as alíneas -, mas a ideia que a sustenta não deixa de ser a mesma. A música omnipresente, os ralentis ad nauseam, a montagem, a trechos, histérica, tudo se conjuga na visão super-excitada saída (e mantida pelas) das novas MTVs.

Olhando para trás, não surpreende que Luhrmann (ainda) faça uso desses mecanismos. Primeiro, porque resultaram em filmes como Romeo + Juliet e Moulin Rouge! - Australia salta à vista como o "patinho feio" do conjunto -, naquele onanismo pop que tão bem caracteriza a sua obra; depois, porque, olhando ao que se escreveu em The Great Gatsby, seria expectável que os recursos se adaptassem à situação em causa. Mas do papel à prática a distância é, por vezes, grande demais. O romance de Fitzgerald é, já de si, tão exagerado - com as festas, as personagens, os sonhos - que, somando-lhe os artifícios deste Cinema, se torna simplesmente desmedido.

É esse exagero que esvazia a história. A exuberância histriónica dos décors, da banda-sonora anacrónica, da fotografia que se impulsiona no 3D - e lá está, de novo, o exagero - e no caleidoscópio colorido provoca um entusiasmo inebriante que distrai do argumento, tirado quase à letra do original. Não que haja nele alguma qualidade de maior - mesmo considerando a fidelidade à fonte -, mas o pouco valor possível de ser encontrado vai-se perdendo na folia. O que me leva a perguntar: será que, hoje em dia, interessa mais deslumbrar a audiência com um espectáculo visual megalómano do que com um texto inteligente e cuidadosamente pensado? Pelo que tenho visto ultimamente, começo a duvidar da resposta. Gostaria, ainda assim, de pensar que não se insulta o espectador de forma tão grave.

(Novo parêntese, agora sobre o argumento e a sua relação com o romance de Fitzgerald. Por muito que goste de The Great Gatsby - e gosto mesmo muito, ao ponto de o considerar o grande romance americano por excelência -, gosto ainda mais dos últimos capítulos, no filme resumidos em poucos minutos. Parece-me claro que não se soube muito bem o que fazer com o material à disposição. Só à luz dessa evidência se explica igualmente a necessidade de inventar um Carraway-narrador, a recuperar do alcoolismo através do reconto catártico da sua relação com Gatsby.)

Há, contudo, aspectos positivos a elogiar. A habilidade de Luhrmann chega-lhe para cobrir alguns dos defeitos da sua própria visão, imaginando algumas sequências - lembro-me, por exemplo, da within/outside de Carraway - razoavelmente inspiradas. Nenhuma, no entanto, superior ao grande plano fechado no brinde de Gatsby ao espectador, diante de um luxurioso fogo-de-artifício. Esse momento apenas, sintetizando o mundo de aparências no qual as personagens - e Leonardo DiCaprio divide-se particularmente bem entre sorrisos forçados e uma aparência de desconforto engolido - se movem, quase justifica o resto do filme.

Não se perdendo completamente, a adaptação de Luhrmann de The Great Gatsby sucumbe à obrigação de justificar o seu investimento. Naquela Nova Iorque pré-Crash, naquelas mansões separadas por uma baía, vivem-se falsas-vidas. «All New York, packed up in automobiles, went in the weekend - the all weekend - to that house». É precisamente nessas máscaras que a ideia de Luhrmann encontra maior correspondência no romance de Fitzgerald - contrastando com o simbolismo oco no qual frequentemente se deixa cair -, na solidão que Gatsby projecta mesmo entre as multidões. Numa sociedade coberta por máscaras, a de Gatsby calha apenas de ser a mais vistosa.


Título Original: The Great Gatsby (Austrália/EUA, 2013)
Realizador: Baz Luhrmann
Argumento: Baz Luhrmann, Craig Pearce (baseado no romance de F. Scott Fitzgerald)
Intérpretes: Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire, Joel Edgerton, Elizabeth Debicki, Isla Fisher, Jason Clarke
Música: Craig Armstrong
Fotografia: Simon Duggan
Género: Drama, Romance
Duração: 142 minutos


domingo, 19 de maio de 2013

Sunday Stills #37: "Offside"



Num dia em que os olhos do país estão voltados para dois jogos de futebol, escolhemos recordar que o desporto tem uma dimensão que não se fica pelo jogo tout court. No novo milénio, ninguém o terá exemplificado melhor do que Jafar Panahi, com o seu OFFSIDE. A luta das mulheres contra a exclusão social começa, afinal, pelo jogo que só admite homens na bancada.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Photo (2012)

Creio que Carlos Saboga não podia ter escolhido melhor altura para se lançar na realização. Aos 76 anos, e depois de escrever para nomes como Jorge Paixão da Costa, Fernando Lopes, António-Pedro Vasconcelos, Mário Barroso - que aqui lhe devolve o "favor", fotografando-lhe a estreia - e Raoul Ruiz, experiência não lhe falta para saber o que deve, e quando, arriscar. Não se estranha, portanto, que se verifique em PHOTO a mesma atenção ao detalhe e às personagens secundárias que marcou - ainda marcará? - os seus argumentos para outros autores.


Abre o filme em Paris, e logo uma morte. Um corpo num quarto muito escuro, iluminado por uma esfera luminosa. Quando a filha aparece, uma outra mulher - a empregada? a amante? - diz-lhe que a mãe pediu para que se queimem todos os papéis e fotografias deixados. Lá vai a rapariga explorar o espólio, nova esfera iluminada no fundo, e eis que encontra umas fotografias de um grupo de rapazes portugueses, datadas de 1970-e-troca-o-passo. E um postal de um desses exilados demonstrado à francesa a vontade de assistir ao parto da filha. Corte para o velório, com o quarto ainda mais escuro - e a mesma esfera luminosa -, e um homem mais velho, o agora pai adoptivo, a colocar paternalmente a mão no ombro da filha. A descrição não lhe faz a justiça devida, mas a primeira vinheta demonstra que Saboga - auxiliado pela extraordinária direcção de fotografia de Barroso - percebe o que faz. O mosaico que constrói, introduzindo personagens - algumas desnecessárias, diga-se de passagem -, revela o que de melhor continua a haver no trabalho de Saboga: o argumento cuidado.

As peças parecem encaixar exactamente no sítio certo, sem nunca fugirem ao lugar que lhes é reservado. E a câmara corta as cidades em travelling, enquanto se ouve, em voz-off, um italiano pedinchão que quer Elisa de volta a Roma. Não cede, e chegada ao destino - um tal jardim à beira-mal plantado -, põe-se à procura do pai biológico que a mãe lhe tentou esconder.

Mas, no fundo, não passa tudo de um pretexto de Elisa para fugir ao namorado italiano que a pediu em casamento. O whodunnit parental, que depressa dá lugar - e o pai adoptivo bem diz à filha não ter qualquer interesse em entrar no «melodrama grotesco (...) do falso-pai, suposto pai e pai substituto» - ao criminal, e que a traz a Portugal poderia muito bem tê-la levada a um outro país qualquer. Ou mesmo ficar-se por Paris, nas margens do Sena. O espaço geográfico torna-se, assim, irrelevante - salvo o contexto sócio-político salazarista, é claro - a partir do momento em que se percebe que há ali alguém a evadir-se do presente. E que para isso está disposta a viver «entre fantasmas» - quase ao ponto de se tornar ela própria num - de um passado assombrado.

De resto, saltam à vista algumas semelhanças - temáticas, espaciais e temporais - entre Photo Night Train to Lisbon, de Bille August. Não deixa de ser curioso que após anos a empurrar a questão para o canto, estreiem em sala separados por menos de dois meses dois filmes - sem considerar para o efeito Operação Outono, de Bruno de Almeida, de finais do ano passado - que abordam de forma mais ou menos aberta as atrocidades cometidas durante o Estado Novo. E que sejam dois estrangeiros - Elisa e Raimund, respectivamente - a colocar o dedo na ferida. Nas mãos e no espírito partido de antigos prisioneiros, na culpa provocada pelas denúncias forçadas, em inspectores desajustados da realidade actual - Rui Morrison, a melhor personagem da estória? - que choram ao encontrar os seus "filhos" massacrados. Tanto num como no outro caso, mesmo admitindo que em Night Train to Lisbon a representação dos efeitos causados pelos encontros com a PIDE é mais explícita, o passado não-tão-distante que se projecta na tela custa a digerir.

No fim, restam apenas fragmentos: do tempo, da verdade, da mentira, das próprias fotografias que dão o título ao filme. Saboga estilhaça a memória dos intervenientes, confunde factos e versões, mistura traições com o amor. E fá-lo com tamanha leveza que quase se perdem as subtilezas no subtexto. Veja-se, por exemplo, a magnífica mise-en-abyme que coloca Elisa a ver-se grávida de si mesma num auto-retrato da mãe.

Para terminar, que estas linhas já vão longas, três breves notas: 1) aos 76 anos, Carlos Saboga soube contrariar a ansiedade característica de uma primeira direcção, evitando o atropelo de ideias; 2) igualmente impressionante é a sensualidade que consegue imprimir, a espaços, num filme pontuado pela morte; e 3) por uma questão de justiça para com o filme de August acima mencionado - já por cá pontuado -, Photo leva também da minha parte oito câmaras, ainda que o tenha achado ligeiramente superior (mas não o suficiente para lhe subir a classificação). A primeira fita de Saboga fica, desde já, a pedir uma segunda. E nós agradecemos.


Título Original: Photo (França/Portugal, 2012)
Realizador: Carlos Saboga
Argumento: Carlos Saboga
Intérpretes: Anna Mouglalis, Simão Cayatte, Johan Leysen, Marisa Paredes, Rui Morrison, Didier Sandre
Fotografia: Mário Barroso
Género: Drama
Duração: 85 minutos




segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nos Bragas #4

Quinta-feira, dia 16 de Maio, o Cineclube FDUP encerra a sua programação regular do semestre com PATHER PANCHALI, de Satyajit Ray.

Design por Teresa Chow

A fechar a sua programação regular, o Cineclube apresenta um cineasta absolutamente ímpar e nunca antes mostrado no panorama cineclubístico universitário do cidade do Porto: Satyajit Ray traz o cinema indiano de autor pela mão do primeiro tomo da sua famosa Triologia de Apu: O Lamento da Vereda [Pather Panchali] (1956), filme icónico do indiano que funde a estética do realismo (tributário de De Sica e outros) com temas intemporais, como o papel da Arte, a mudança e a passagem do tempo, assim como o confronto entre os valores tradicionais e os modernos e a sua percepção pelo indivíduo.


Às 18h15, na sala 0.01 (piso do bar). Entrada gratuita.

domingo, 12 de maio de 2013

Sunday Stills #36: "Badlands"



Em semana de estreia nacional do seu mais recente filme - TO THE WONDER -, recordamos BADLANDS, de Terrence Malick. O fotograma seleccionado, com Martin Sheen sobreposto à imensidão dos campos, sintetiza bem o fundo etéreo que caracteriza o trabalho do cineasta norte-americano.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Spring Breakers (2012)

Às tantas, há em SPRING BREAKERS um momento de rara inspiração: Alien - o rapper gangster/piroso de James Franco - ensaia ao piano, iluminado por um pôr-de-sol rosa, uma balada de Britney Spears. Corta-se das raparigas a dançarem alegremente, de armas na mão e encapuçadas, para uma série de assaltos realizados pelo bando, sempre ao som daquela música angelical - «This song is by a little-known pop singer by the name of Britney Spears, An angel on this earth if there ever was one.» -, escolhida para mostrar às franguinhas o lado mais sentimental do durão. A iconoclastia pop de Harmony Korine encontra nessa sequência o seu expoente máximo, fruto da sobreposição de realidades inicialmente díspares que se encontram num estado quase-onírico.


Uma atmosfera de sonho, semelhante a uma realidade virtual, mantida pelas próprias personagens, dessensibilizadas do que se passa à sua volta. Uma das raparigas diz às outras para pensarem num assalto que estão prestes a cometer como se de um videojogo se tratasse. O crime é visto, em plano-sequência, da perspectiva da condutora, à distância e através das janelas do restaurante. Esse tratamento das acções, às quais quase se extraem os agentes, volta a resultar muito bem na cena do tribunal - que marca também a passagem entre a euforia inicial e os primeiros indícios da ressaca -, quando as raparigas dizem muito inocentemente ao juiz que não têm dinheiro para pagar a fiança.

Essa visão muito peculiar da narrativa, cultivada por Korine desde os seus primeiros trabalhos, misturando formatos e composições, continua presente apesar da (falsa) aproximação ao Cinema convencional. Spring Breakers é, contudo, fundamentalmente um exercício de (des)montagem. Dos planos, das personagens, da imagem das princesas Disney, da cultura voltada para o seu próprio umbigo e, sobretudo, das próprias convenções do género - o policial, o drama, a comédia -, baralhadas e desconstruídas ao ponto do estranhamento.

Mas, principalmente, Korine destrói a lógica videoclipe que tem vindo a surgir no Cinema contemporâneo. E fá-lo pelo propositado mau-gosto com que filma, a espaços prolongado por longuíssimos ralentis - a sequência de abertura, por exemplo, ao som de Skrillex, ao qual se voltará no final, novamente ao piano -, iluminando a tela em tons de arco-íris-choque.

O mau-gosto, no entanto, não é de agora. Faz até lembrar o dos seus argumentos para Larry Clark - Kids (1995) e Ken Park (2002) -, outros teenage wastelands. Nesse sentido, faço minhas as palavras da Rita Morais de Carvalho - « (...) de relembrar do hábito de Korine levar à exaustão a análise dos seus personagens, tal como acontece novamente em Spring Breakers - daí se aconselhar a ver o filme depois de já conhecer alguma coisa do realizador e a não levar, certamente, tudo à letra» -, num pertinente aviso à navegação. para que não se faça do estilo visual de Spring Breakers algo simplesmente literal. Também daí o vazio do argumento, preenchido por repetições ad nauseam de imagens e ideias fragmentadas, quererá dizer mais acerca da inanidade do explorado do que o que realmente mostra. Por não se poder esconder a vacuidade dos comportamentos - porque, efectivamente, não há ali nada senão o hedonismo histriónico de umas spring breaks alimentadas a alucinogénicos -, tenta-se atribuir-lhes um sentido qualquer, metralhando máximas pseudo-filosóficas que, a cada reprodução, se vão esvaziando do seu significado.

Se há mais de uma década, numa outra série sobre quatro amigas cosmopolitas, já havia quem dissesse «My friends think I'm shallow. Sometimes I think they're right. Other times I think, "Hey, I'm fucking a model."», já não estranho que o gangster de Franco se saia com tão abjecto monólogo - o do «This is the fuckin' American dream. This is my fuckin' dream, y'all.» - sobre o seu sonho americano. Um sonho que, de tão desmedido - as festas, as drogas, o sexo, o dinheiro, o poder -, dinamita quem por ele é seduzido. E, matando o sonho, já não resta sequer um pesadelo que nos sirva de salva-vidas: sobra apenas o psicadelismo do miasma fluorescente que inunda o campo, do tasteless a que Korine parece tão dedicado. E isso, quer se goste, quer não, merece o maior dos elogios. Se serve de retrato definitivo de uma - a minha? - geração? Deixo a resposta para quem, achando-se de direito, se sinta habilitado a dá-la. Para já, e para mim, um dos sérios candidatos a melhor do ano.


Título Original: Spring Breakers (EUA, 2012)
Realizador: Harmony Korine
Argumento: Harmony Korine
Intérpretes: James Franco, Selena Gomez, Vanessa Hudgens, Ashley Benson, Rachel Korine, Gucci Mane
Música: Cliff Martinez, Skrillex
Fotografia: Benoît Debie
Género: Comédia, Crime, Drama
Duração: 94 minutos



domingo, 5 de maio de 2013

Sunday Stills #35: "We Need to Talk About Kevin"



O amor maternal tem limites? No Dia da Mãe recordamos WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN, de Lynne Ramsay, um dos mais recentes filmes a abordar a questão.

sábado, 4 de maio de 2013

Evil Dead (2013)

Fede Alvarez não descobriu a pólvora com o seu EVIL DEAD. Nada do que ensaia é novo: a cabana abandonada no bosque, o grupo de amigos com falta de juízo, o livro maligno, os mortos-vivos demoníacos e até o gore desmedido já existiam nos originais de Sam Raimi. É, contudo, na desconstrução desses elementos, despidos até ao esqueleto - as convenções -, que o seu trabalho se destaca.


Da sua reinterpretação das bases do Terror da década de 80 é possível concluir imediatamente duas coisas fundamentais acerca do seu trabalho. A primeira é que o uruguaio é um claro fã dos originais da década de 80. Essa admiração, mais ou menos óbvia, manifesta-se através da detalhada recriação de cenas icónicas da franquia - a violação pelas árvores, por exemplo - e dos movimentos característicos da câmara de Raimi, nomeadamente dos travellings pelo bosque na primeira pessoa. Se é verdade que ao entregar-se a esse exercício de reconstrução Alvarez quase se nega por completo a um estilo próprio, também o será que a aposta em fórmulas comprovadas - mas devidamente desenvolvidas - lhe permite aguentar o filme sem arriscar demasiado a aprovação da audiência.

A outra é que Alvarez compreende como poucos outros realizadores da sua geração o sentido de "escalação". O clímax é cuidadosamente construído, cena após cena, até se chegar a uma última set-piece - uma chuva de sangue literal - que coloca um ponto final na acção. É raro encontrar um cineasta no Terror actual que, em vez de atropelar os sustos com a própria pressa de assustar, percebe de forma tão completa o poder climático do género.

No meio de tanto fluído corporal e membros decepados - há um cheiro nauseabundo que parece querer descolar do ecrã através da fotografia de Aaron Morton - encontra-se no novo Evil Dead mais do que o suficiente para agradar tanto a velhos como a novos entusiastas da saga. Discutivelmente, um dos melhores filmes de Terror a sair de um estúdio norte-americano nos últimos dez anos.


Título Original: Evil Dead (EUA, 2013)
Realizador: Fede Alvarez
Argumento: Fede Alvarez, Rodo Sayagues (baseado nos filmes de Sam Raimi)
Intérpretes: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore, Randal Wilson
Música: Roque Baños
Fotografia: Aaron Morton
Género: Terror
Duração: 91 minutos


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Filme do Mês #4

Todos os meses, o filme com estreia - comercial - nacional que melhor pontuação recebeu da redacção do Matinée Portuense, e o que por cá se escreveu sobre ele.

Abril, 2013

Abril passou sem nos dar a oportunidade de seguir com atenção o circuito comercial. Poucos filmes vistos e ainda menos comentados. Contas feitas, LOS AMANTES PASAJEROS, a comédia aeronáutica de Pedro Almodóvar, foi a obra que melhor pontuação recebeu dos redactores do blog. Oito câmaras voadoras e mais uma crítica do António Tavares de Figueiredo.

«LOS AMANTES PASAJEROS abraça, em toda a sua despreocupação, a pulsão idiossincrática de Almodóvar, a vontade de transgredir convenções sociais ultrapassadas. Existissem mais filmes assim, tão dados ao nonsense do Cinema em si, e o Mundo seria um lugar melhor. Se não, pelo menos um mais feliz.» (ATF)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Curtas: "Ataque de Pánico!"

ATAQUE DE PÁNICO! (2009), de Fede Álvarez.





Em vésperas da estreia em Portugal do seu EVIL DEAD, relembramos a curta-metragem que deu fama a Fede Álvarez. ATAQUE DE PÁNICO!, quatro minutos e qualquer coisa de robots gigantes a atacarem Montevideu. Merece ser vista.