quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Um Oscar para Oscar

O Senhor Oscar - e Denis Lavant, por inerência - merecia uma estatueta dourada. Aliás, não sei como é que ninguém se lembrou do óbvio trocadilho entre os dois nomes.









HOLY MOTORS (2012), de Leos Carax

É desta que nos calamos de vez - pelo menos por alguns meses - com os Oscars. Palavra de escuteiro.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Antes de Hollywood, Hiroshima

Noite de gala em Hollywood. A realeza do Cinema reunida debaixo do mesmo tecto. Passadeira vermelha, vestidos elegantes - e outros que nem tanto - e gente charmosa e bem-parecida. Nada contra, atenção. Até porque no final ainda havia uns quantos prémios - uns tais Oscars - para distribuir. E dois convidados muito especiais, um austríaco, a outra francesa, que se pareciam destacar da multidão anglófona e estrangeiros americanizados. E logo com hipótese de roubarem três dois principais galardões da noite.


Mas antes de Hollywood - ou desta nova Hollywood - já havia Hiroshima. Mais concretamente, HIROSHIMA, MON AMOUR, de Alain Resnais, aquele magnífico filme que muitos colocam - e com razão, diga-se de passagem - no hipocentro da Nouvelle Vague. Um pedaço de Cinema tão delicado quanto contundente, tão directo quanto poético. Em Hiroshima, a décadas das rugas, Emmanuelle Riva testava a possibilidade do amor sobreviver à guerra; cinquenta e três anos depois - mas ainda deslumbrante -, pô-lo-ia à prova na derradeira etapa da vida. Curiosamente, Hiroshima, mon amour também esteve nomeado a um Oscar - Melhor Argumento Original, para Marguerite Duras - que acabou por não ganhar. Seria um presságio?

Por esta altura - e com tudo o que fui escrevendo aqui e ali sobre a corrida aos Oscars -, quem nos acompanha regularmente já terá decerto percebido a preferência da casa por AMOUR dentre os nomeados do ano - ao ponto de o incluirmos na nossa Filmoteca Obrigatória, ainda em construção -, estudo fundamental sobre a resistência do amor à extinção dos seus receptáculos. E se no início da noite ainda cultivávamos alguma (pouca) esperança em relação à sua vitória nas principais categorias em que se incluía, sabendo, no entanto, o quão complicado seria ganhar efectivamente algum desses prémios, cedo fomos percebendo que os membros da Academia dificilmente partilhariam da nossa convicção. Isto não é um lamento. A ocasião não o merece, nem os envolvidos o parecem querer. Apenas uma constatação de que num ano em que a oportunidade se proporcionava como talvez em nenhum outro, a AMPAS preferiu entregar - novamente - o galardão ao candidato mais pró-americano - e Hollywood, vista como uma espécie de refúgio - em detrimento de outros mais merecedores. Nada de novo nesse departamento, portanto.

De resto, os Oscars foram os Oscars que se esperava que fossem. E com espaço para umas quantas surpresas. O anfitrião a espaços politicamente incorrecto, as honras repartidas entre as fitas a concurso - com a de Melhor Edição de Som a ser, literalmente, dividida, ex aequo -, a malta mais favorita a conseguir parecer a mais surpreendida. E Spielberg a levar uma valente tareia do alto das suas - de LINCOLN, leia-se - doze nomeações. A Academia norte-americana favoreceu os seus seus - e Ang Lee, ao que parece -; entende-se, ARGO não é um filme mal feito. Mas alguns dos ignorados mereciam mais atenção.

Sobre a obra de Resnais, fica prometida uma análise num momento futuro, mais oportuno e dado à complexidade da tarefa. Contudo, para fechar estas linhas, um último pensamento: escrever uma cartinha à Academia com sete palavras. Tu n'as rien vu à Riva. Apenas. Acho que bastava.

António Tavares de Figueiredo

Prémios da Sociedade Portuguesa de Autores 2013: "Tabu" ganha Melhor Filme


Foram anunciados ontem à noite os vencedores dos prémios da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). 

Ganharam na área do Cinema:

Melhor Filme:

Melhor Actor:
Carlos Santos, por OPERAÇÃO OUTONO

Melhor Actriz:
Rita Durão, por A VINGANÇA DE UMA MULHER

Melhor Argumento:
Carlos Saboga, por LINHAS DE WELLINGTON

Vende-se casa assombrada

Porque em Espanha também as há.



LA HERANCIA VALDEMAR (2010), de José Luis Alemán

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Pré-Fantas abre com filme-concerto

O Pré-Fantas - o Fantas antes do Fantas, por assim dizer - abre esta segunda-feira às 22h00 com um filme-concerto. Os Beautify Junkyards vão interpretar ao vivo no Rivoli uma banda sonora para LA PLANÈTE SAUVAGE, de René Laloux. Para quem não pôde estar presente, fica uma demo do planeado.




Um evento, no mínimo, muito interessante.

O Matinée Portuense inicia a partir de hoje uma cobertura intensiva ao Fantasporto 2013 - a sua 33ª edição -, com notícias, críticas a filmes e entrevistas. Nós já estamos preparados. E vocês?

Programação de 25 a 28 de Fevereiro: Grande Auditório e Pequeno Auditório do Rivoli.

Para ver no Fantas 2013 #11


ROBOT & FRANK, de Jake Schreier (EUA, 2012)

Grande Auditório do Rivoli, 9 de Março às 21h00 (Sessão de Encerramento)

Vencedores dos Oscars 2013

Melhor Filme:

Melhor Actor Principal:
Daniel Day-Lewis, por LINCOLN

Melhor Actriz Principal:
Jennifer Lawrence, por SILVER LININGS PLAYBOOK

Melhor Actor Secundário:
Christoph Waltz, por DJANGO UNCHAINED

Melhor Actriz Secundária:
Anne Hathaway, por LES MISÉRABLES

Melhor Realizador:
Ang Lee, por LIFE OF PI

Melhor Argumento Original:
Quentin Tarantino, por DJANGO UNCHAINED

Melhor Argumento Adaptado:
Chris Terrio, por ARGO

Melhor Filme de Animação:

Melhor Filme Estrangeiro:
AMOUR (Áustria)

Melhor Curta-Metragem:
CURFEW

Melhor Curta-Metragem de Animação:
PAPERMAN

Melhor Documentário:
SEARCHING FOR SUGAR MAN

Melhor Curta-Metragem Documental:
INOCENTE

Melhor Direcção de Fotografia:
Claudio Miranda, por LIFE OF PI

Melhores Efeitos Visuais:
Bill Westenhofer, Guillaume Rocheron, Erik De Boer e Donald Elliott, por LIFE OF PI

Melhor Figurino:
Jacqueline Durran, por ANNA KARENINA

Melhor Caracterização:
Lisa Westcott e Julie Dartnell, por LES MISÉRABLES

Melhor Mistura de Som:
Andy Nelson, Mark Paterson e Simon Hayes, por LES MISÉRABLES

Melhor Edição de Som (ex aequo):

Melhor Banda Sonora Original:
Mychael Danna, por LIFE OF PI

Melhor Canção Original:
Adele e Paul Epworth por Skyfall, de SKYFALL

Melhor Montagem:
William Goldenberg, por ARGO

Melhor Design de Produção:
Rick Carter e Jim Erickson, por LINCOLN

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sunday Stills #26: "The Exorcist"



Na semana em que se celebraram os seus quarenta anos, o fotograma escolhido tinha de pertencer a THE EXORCIST, de William Friedkin. Um dos filmes mais influentes dentro - e fora - do género, a obra-prima de Friedkin revela-se ainda hoje uma fita poderosa, capaz de perturbar o mais destemido dos espectadores.

Para ver no Fantas 2013 #10

PEAU D'ÂNE, de Jacques Demy (França, 1970)

Pequeno Auditório do Rivoli, 3 de Março às 17h15

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Oscars 2013, as nossas escolhas

Com a noite dos Oscars a aproximar-se - é já na madrugada de domingo para segunda -, ficam alguns pensamentos sobre os prémios e a cerimónia. Depois de um ano sem muita incerteza - e em que Max von Sydow, aquele actor fenomenal, perdeu mais uma estatueta -, 2013 pode trazer consigo algumas surpresas.

Não arriscando previsões, eis alguns dos favoritos da redacção para as principais categorias:

  • Melhor Filme: face à (forte) possibilidade de ganhar ARGO ou LINCOLN - os mais academistas dos nomeados -, por cá não conseguimos deixar de pensar em AMOUR ou até mesmo em DJANGO UNCHAINED. A ter de escolher apenas um - e ainda bem que não temos -, iríamos para a obra de Haneke. Lamentamos, Tarantino.

  • Melhor Actor Principal: Denzel Washington aguentou um filme comezinho às costas, Cooper mostrou alguma - mais do que esperávamos - profundidade, Phoenix teve uma interpretação bem acima da média. Mas há um senhor chamado Daniel Day-Lewis que se tornou impossível de ignorar; por nós - e arriscamos que pelos membros da Academia também -, a estatueta seria dele.

  • Melhor Actriz Principal: Jessica Chastain ou Jennifer Lawrence devem levar o prémio para casa; e ninguém estranharia se Naomi Watts - toda esfarrapadinha - o ganhasse. Entre nós, Emmanuelle Riva merecia o prémio. Mas não apostaríamos o nosso dinheiro nisso.

  • Melhor Actor Secundário: Christoph Waltz ou Tommy Lee Jones? - a questão a que muitos têm reduzido a categoria pode muito bem não ser assim tão simples. Isto porque constam igualmente da lista nomes como os de De Niro, Arkin e Seymor Hoffman. Das estatuetas de interpretação, de longe a mais nivelada. De qualquer maneira, o nosso voto vai para Waltz.

  • Melhor Actriz Secundária: Amy Adams, Sally Field e Helen Hunt tiveram um bom ano, com interpretações muito sólidas. Mas Anne Hathaway roubou todas as atenções com os seus breves minutos em LES MISÉRABLES. E a Academia deve concordar connosco nesta.

  • Melhor Realizador: sem Bigelow, PTA ou Tarantino - e, já agora, Affleck, que tem varrido prémios neste departamento -, sobram cinco candidatos muito dignos e uma enorme dor de cabeça para os membros da Academia. Há de tudo, do academismo à irreverência. Para nós, contudo, a decisão não seria difícil: Haneke conseguiu estar um degrau acima de todos os outros. Dos que constam dos nomeados, e dos que ficaram de fora.

  • Melhor Argumento Original: outra categoria complicada de prever. Se gostámos do argumento de obras como AMOUR ou MOONRISE KINGDOM, não nos imaginamos, no entanto, a escolher outra que não DJANGO UNCHAINED. Nesta damos razão a Tarantino.

  • Melhor Argumento Adaptado: podemos dar o prémio a Lucy Alibar e Benh Zeitlin por BEASTS OF THE SOUTHERN WILD? Nós até o dávamos, mas a Academia pensa, quase de certeza, noutros nomes. David O. Russell ou Chris Terrio devem ganhar um homenzinho dourado. E ninguém ficaria surpreendido se Kushner o levasse para casa. Mas a nossa escolha seria outra.

  • Melhor Filme de Animação: para nós, uma das mais fáceis. PARANORMAN seria a nossa escolha, de caras. Mas quando há Burton e a Pixar igualmente nomeados, a nossa escolha revela-se difícil de cumprir.

  • Melhor Filme Estrangeiro: Pablo Larraín apresentou o seu melhor filme - NO - até ao momento. Mas se escolhermos AMOUR para Melhor Filme, achamos que devemos levar a nossa escolha até ao fim. Por isso, um Oscar para a Áustria, se faz favor.

  • Melhor Direcção de Fotografia: outra categoria muita equilibrada. Directores de fotografia como Robert Richardson, Janusz Kamiński e Roger Deakins merecem a estatueta. Mas a nossa decisão Jfinal seria entre Claudio Miranda - e o seu trabalho no Digital em LIFE OF PI - e Seamus McGarvey, por ANNA KARENINA. Como não podem - ou antes, não devem - ganhar os dois, dávamos o prémio a McGarvey.

  • Melhor Banda Sonora Original: John Williams - apesar do magnífico trabalho em LINCOLN - deverá perder novamente. A Academia deve escolher Mychael Danna. E nós aceitamos.

Amanhã todas as dúvidas se dissiparão com a coroação dos vencedores de mais um ano.

Broken City (2013)

Não é preciso muito tempo para se perceber que BROKEN CITY é mais do mesmo. Nem seria outro o objectivo de Allen Hughes, metade da dupla responsável por The Book of Eli - o pós-apocalíptico que punha meio Mundo à procura da última cópia conhecida da Bíblia -, aqui com a oportunidade de se afirmar a solo na cadeira de realizador. Não arriscando, construiu um filme comezinho, com o cast a suportar o argumento sofrível.

Do ex-polícia alcoólico e cocaínado ao mayor corrupto - nos tempos que correm a figura parece estar na moda -, é fácil prever o desenvolvimento da narrativa. Sem rasteiras, truques ou twists, tudo corre conforme o esperado. A solução, face a tamanha incapacidade criativa, passava obrigatoriamente por confiar aos intérpretes a responsabilidade de agarrar a audiência. E se o fim não é completamente alcançado - o espectador tenderá sempre a dispersar a sua atenção quando exposto a uma estória tão pouco original -, é o elenco que consegue unir as pontas soltas do filme.

Hughes, que, nunca fugindo à fórmula, demonstra aqui e ali momentos de alguma habilidade - a cena no cinema acaba por ser uma das melhores da fita -, fez o que dele se esperava. Procurar em Broken City algo de novo - ou, para todos os efeitos, de excelente - é perder tempo. Dentro da média.


Título original: Broken City (EUA, 2013)
Realizador: Allen Hughes
Argumento: Brian Tucker
Intérpretes: Mark Wahlberg, Russell Crowe, Catherine Zeta-Jones, Jeffrey Wright, Barry Pepper, Alona Tal, Natalie Martinez, Kyle Chandler, Griffin Dunne
Música: Atticus Ross, Leopold Ross, Claudia Sarne
Fotografia: Ben Seresin
Género: Crime, Drama, Thriller
Duração: 109 minutos


Para ver no Fantas 2013 #9

BERBERIAN SOUND STUDIO, de Peter Strickland (Reino Unido, 2012)

Grande Auditório do Rivoli, 7 de Março às 23h15

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Gangster Squad (2013)

Cedo se percebeu - desde o infame tiroteio num cinema norte-americano - que GANGSTER SQUAD não estrearia livre de polémica. Isto porque o seu trailer incluía uma cena em que se disparava na direcção da audiência através de uma tela - num caso ominoso da vida a imitar a arte, e vice-versa - que o tal incidente levou à extracção do filme. Adiou-se a estreia e mandou-se a fita para trás para que pudessem ser rodadas novas cenas em substituição da cortada. Mas não será esse o único problema da mais recente obra de Ruben Fleischer.


Tentativa óbvia de reproduzir a atmosfera noir de outros filmes a cores - e o paradoxo não será assim tão descabido, principalmente ao recordar filmes como L.A. Confidential, de Curtis Hanson, ou The Black Dahlia, de Brian De Palma -, ecoam na estória alguns dos arquétipos mais tradicionais do cinema norte-americano. Gangsters e polícias durões - e canastrões, como o de Josh Brolin - pertencem ao imaginário de Hollywood, e por esse prisma se justificará a homenagem que se lhes tenta prestar. O resultado é, no entanto, demasiado artificial para que se lhe reconheça sucesso. Há uma certa desadequação entre o que se filma e como se filma, um estilo que não encontra continuidade no conteúdo.

Essa desadequação empurra os intérpretes para alguma estranheza - principalmente Sean Penn e Ryan Gosling -, reduzindo as personagens a conjuntos de maneirismos ridículos. E se Fleischer surpreendeu há uns anos com a sua paródia zombie - e Zombieland assumia-se mesmo como refrescante e original -, confirma-se aqui como tarefeiro medíocre,  incapaz de desenvolver o filme para lá de um par de sequências razoavelmente planeadas - como aquela em que se chegam a formar trincheiras usando carros -, abusando sempre que possível de ralentis e doutros mecanismos que acabam por se revelar desnecessários. Demasiado factício para ser levado a sério, e mesmo tendo em conta que a necessidade de inclusão de cenas novas terá interferido com o rumo inicialmente planeado, Gangster Squad falha o alvo por muito. Para já, uma das grandes desilusões da temporada.


Título original: Gangster Squad (EUA, 2013)
Realizador: Ruben Fleischer
Argumento: Will Beall (baseado no livro de Paul Lieberman)
Intérpretes: Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn, Emma Stone, Mireille Enos, Anthony Mackie, Robert Patrick, Michael Peña, Giovanni Ribisi, Sullivan Stapleton, Nick Nolte
Música: Steve Jablonsky
Fotografia: Dion Beebe
Género: Acção, Crime, Drama, Thriller
Duração: 113 minutos


Para ver no Fantas 2013 #7

LA PLANÈTE SAUVAGE, de René Laloux (Checoslováquia/França, 1973)

Grande Auditório do Rivoli, 25 de Fevereiro às 22h00 (Filme-concerto com os Beautify Junkyards)
Grande Auditório do Rivoli, 8 de Março Às 19h00

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Beasts of the Southern Wild (2012)

«Once there was a Hushpuppy, and she lived with her daddy in The Bathtub.»

Quem tiver por hábito seguir mais de perto o Mundo do Cinema - e o da Academia, que nem sempre lhe corresponde - verifica facilmente que todos os anos há pelo menos um candidato mais independente aos principais prémios. Ao percorrer as listas deste ano encontramos a escolha em BEASTS OF THE SOUTHERN WILD, de Benh Zeitlin. Deixando desde já clara a sua qualidade acima da média - não vá o leitor pensar que é falta de mérito, ficando-se pelo caminho -, a fita (re)abre, contudo, algumas questões interessantes.


A ruralidade norte-americana, numa comunidade afastada da sociedade - ou da nossa sociedade, que eles lá terão a deles -, vista pelos olhos de uma menina de cinco anos. Sem hospitais, serviços ou aparente civilização, os habitantes da Banheira vão levando vidas simples mas felizes. Até que chega a tempestade. A metáfora - que se traduz no realismo da intempérie - leva o Mundo exterior àquela gente que não compreende, forçando-lhes um estilo de vida que não é o seu. E a menina de cinco anos, cada vez mais sozinha, vai descobrindo as suas forças.

Benh Zeitlin encontrou uma forma de filmar a pobreza nos EUA diferente da de cineastas como David Gordon Green - que entretanto se mudou para os subúrbios -, Debra Granik, ou até William Friedkin com o seu Killer Joe, sem, no entanto, lhe retirar o devido peso dramático. A fábula que aqui se constrói encontra expressão na sua câmara trémula, consumando-se - como, por exemplo, naquele magnífico prólogo - num autêntico espectáculo visual. Das influências neorrealistas às Fantásticas, Zeitlin demonstra rara maturidade nas imagens que capta - e no binómio som-imagem que com tanto cuidado elabora ao longo da obra -, transformando a pobreza e degradação da Banheira num mundo mágico.

Numa época em que tanto se discute o indie - não tanto a nível de orçamento como de corrente estilística, fotografia e banda sonora à cabeça - como um Cinema em si, separado do Outro, Beasts of the Southern Wild surge como forma de provar a universalidade da Arte no tratamento de alguns problemas mais delicados. Entre o visceral e o encantador, o filme de Zeitlin mantém-se poderoso do primeiro ao último segundo, puxando para si o espectador e recusando deixá-lo partir. E se no fim se caminha para a desolação, a percepção do destino muito se deve à intensidade de intérpretes como Quvenzhané Wallis e Dwight Henry - e dos restantes não-actores do elenco -, irrepreensíveis no seu esforço. O futuro é incerto, no mínimo, mas aquela gente mantém-se unida. Não será essa a essência da comunidade?


Título original: Beasts of the Southern Wild (EUA, 2012)
Realizador: Benh Zeitlin
Argumento: Benh Zeitlin, Lucy Alibar (baseado na peça de Lucy Alibar)
Intérpretes: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Gina Montana, Levy Easterly, Lowell Landes, Pamela Harper
Música: Dan Romer, Benh Zeitlin
Fotografia: Ben Richardson
Género: Drama, Fantasia
Duração: 93 minutos


Para ver no Fantas 2013 #6

MAMA, de Andrés Muschietti (Canadá/Espanha, 2013)

Grande Auditório do Rivoli, 1 de Março às 21h00 (Sessão de Abertura)

Programa do Porto Surf Film Festival

Pode até parecer estranho, mas o Porto vai mesmo receber um festival de Cinema dedicado ao surf. Pois que venha ele! O Porto Surf Film Festival decorrerá de 29 a 31 de Março, no Auditório Municipal da Biblioteca Almeida Garrett. O programa, que mistura ficção com documentários, já foi divulgado:

Dia 29 de Março | Sexta-Feira
ONE WINTER STORY, de Sally Lundburg e Elizabeth Pepin | 21h
THE ENDLESS SUMMER II, de Bruce Brown | 22h15

Dia 30 de Março | Sábado
SINGLE FIN YELLOW, de Jason Baffa | 16h
THICKER THAN WATER, de Jack Johnson, Chris Malloy, e Emmett Malloy | 18h15
FINNSURF, de Aleksi Raij | 21h
SEA FEVER, de Ken O'Sulivan | 22h15

Dia 31 de Março | Domingo
THE LOST WAVE, de Sam Boyer, Sam George e Paul Taublieb | 16h
CASTLES IN THE SKY, de Taylor Steele | 17h15
A BROKEDOWN MELODY, de Chris Malloy | 21h
SURFING WITH THE ENEMY, de Scott Braman e Adam Preskill | 22h15

Para mais informações - bilheteira e comunicados -, podem consultar o site oficial do festival.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Varda em 8 fotogramas

Uma das sequências mais brilhantes do Cinema de Agnès Varda, no seu primeiro filme.








LA POINTE-COURTE (1955), de Agnès Varda

Silvia Monfort e Philippe Noiret interpretam um casal em busca da harmonia - Ele traiu-a, Ela não foi capaz do mesmo - numa visita à terra natal dele. Na sequência reproduzida, Ele vai buscá-la à estação de comboios. Filmada sempre de costas, as caras só são descobertas quando Ela lhe pergunta se a dela não mudou durante o tempo em que estiveram afastados. Momento de pura poesia.

(fonte das imagens: Doc Alliance Films)

Para ver no Fantas 2013 #4

THALE, de Aleksander Nordaas (Noruega, 2012)

Pequeno Auditório do Rivoli, 1 de Março às 19h15
Grande Auditório do Rivoli, 5 de Março às 23h15

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ecos de Berlim

Com a edição deste ano do Berlinale a encerrar, uma menção honrosa para João Viana pelo seu A BATALHA DE TABATÔ - que forma díptico com a curta-metragem TABATÔ, exibida igualmente no certame - na categoria de Melhor Primeira Longa-Metragem do festival. O cinema português continua assim a dar cartas - e a recebê-las - no estrangeiro.


O Urso de Ouro foi para o romeno POZITIA COPILULUI [CHILD'S POSE], de Călin Peter Netzer, enquanto David Gordon Green recebeu o Urso de Prata de Melhor Realizador por PRINCE AVALANCHE.

Sunday Stills #25: "Alphaville: Une étrange aventure de Lemmy Caution"



Anna Karina em ALPHAVILLE, UNE ÉTRANGE AVENTURE DE LEMMY CAUTION, de Jean-Luc Godard. Na semana em que se celebrou o Dia dos Namorados - e depois de publicada uma lista das nossas escolhas românticas -, um fotograma do noir de Godard. Porquê? Simples, para que as palavras que o fecham ecoem nas mentes - e nos corações? - de quem nos lê.

«Je vous aime.»

Para ver no Fantas 2013 #3

THE DEEP BLUE SEA, de Terence Davies (EUA/Reino Unido, 2011)

Grande Auditório do Rivoli, 5 de Março às 21h15

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quando as marcas se sabem vender #3

Com a estreia de SIN CITY: A DAME TO KILL FOR planeada para este ano, Frank Miller, o criador da novela gráfica homónima, dirigiu dois anúncios publicitários para a Gucci. A estética, essa, é simplesmente inconfundível.





This Is 40 (2012)

Depois de um conjunto de comédias refrescantes, Judd Apatow traz-nos THIS IS 40, um spin-off de Knocked Up. Com um elenco facilmente associável a filmes anteriores de Apatow, um argumento que infelizmente deixa muito a desejar e uma certa atmosfera que embora familiar não consegue cativar o suficiente.

Para quem conhece os filmes de Apatow este filme não trará nada de novo, é simplesmente mais uma daquelas comédias de domingo à tarde que se costuma apanhar na SIC ou na TVI. No entanto, parece que Apatow não se empenhou tanto neste projecto como em projectos anteriores ou então ficou sem ideias. Esta comédia sobre as chatices de envelhecer, do matrimónio e da prole, tem tantos buracos no enredo que nem dá para perceber como chega a ter mais de duas horas de filme. Há um foco tão grande em tentar enfiar todas as piadas que acho que se esqueceram de atar todas as pontas soltas, e assim, chegando perto do final ficamos com a sensação de que falta alguma coisa, aliás, muita coisa e não são uma ou outra piada boa que conseguem afastar este sentimento. O filme tenta envolver imensas dificuldades das vidas de pessoas de meia idade, velhice, filhos, problemas financeiros, pais ausentes, etc, e em certas alturas esquece-se completamente de onde quer chegar e fica tudo extremamente confuso. Existe também uma disfunção temporal algures e é difícil perceber a linha temporal do filme que deveria ter apenas algumas semanas e no entanto parece ter meses.

Não tem muito que se lhe diga, muitas das piadas provocam gargalhadas e até tem momentos em que se torna divertido de ver, mas com tanta incoerência uma pessoa até se esquece que está a ver um filme que deveria ter enredo, chega a parecer apenas várias sequências de acontecimentos colocados aleatoriamente sem qualquer sentido. E depois temos uma das personagens que não só leva todas as outras à loucura como também o público, Debbie (Leslie Mann), acho que nunca odiei tanto uma personagem fictícia, no entanto de todas foi a única que despertou algum tipo de sentimento em mim, embora negativo. Em geral, é uma comédia mediocre que dá para rir um bocado mas que poderá não agradar a todos. 


Título Original: This Is 40 (EUA, 2012)
Realizador: Judd Apatow
Argumento: Judd Apatow
Intérpretes: Paul Rudd; Leslie Mann; Maude Apatow; Iris Apatow: Jason Segel; John Lithgow; Albert Brooks
Música: Jon Brion
Fotografia: Phedon Papamichael
Género: Comédia
Duração: 134 minutos



Para ver no Fantas 2013 #2


PIETÀ, de Kim Ki-duk (Coreia do Sul, 2012)

Grande Auditório do Rivoli, 3 de Março às 21h15