quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Bellflower (2011)

Todos os anos o Fantas exibe pelo menos um filme que serve de prova de que, mesmo com baixo orçamento, é possível fazer cinema de qualidade. Bellflower será um desses filmes, recheado de actores desconhecidos e rodado em localizações perdidas no meio de nenhures, que, mesmo na face de um possível handicap, é capaz de entreter o público e deixá-lo com uma sensação de tempo bem passado.

A estreia de Evan Glodell na realização tem coluna vertebral no imaginário do universo de Mad Max. Mas fica-se por aí: Mad Max suporta apenas o desenvolvimento da acção, não se sobrepondo à identidade própria do filme que nele se inspirou, e Bellflower nunca tenta ser uma cópia reles de um dos mais míticos filmes pós-apocalípticos de sempre.

Sobre a premissa do filme, e tentando não revelar mais do que o necessário, um jovem entra numa espiral descendente de degradação, perdendo aos poucos a sua sanidade e entrando num ciclo de violência, afectando todos os que o rodeiam: o seu melhor amigo, a sua ex-namorada e a sua amante. A perda da sanidade do protagonista, Woodrow, serve de mote para a confusão que se estabelece entre o que o realmente se passa no filme e o que se poderia ter passado.

Bellflower é, no mínimo, delirante! Dele, o mítico Roger Ebert terá escrito que marca a estreia de um realizador único com uma energia a fazer lembrar Tarantino; não estará longe da verdade, mas serão os próximos trabalhos de Glodell a confirmar ou desmentir o hype que se gerou em torno do que poderá muito bem um dos filmes independentes de 2011. Mas se é verdade que o futuro de Glodell na realização será ainda uma incógnita, é também verdade que Bellflower me deixou colado à cadeira em várias partes da película (quem já o viu saberá muito bem porquê), e que, à parte de alguns cortes e planos pior conseguidos, tem uma realizção competente e um enredo interessante.

Quem ainda não viu Bellflower não sabe o que está a perder e deveria ir a correr vê-lo: desde a sua fotografia degradada a fazer lembrar as mais áridas planícies, à influência orgânica do imaginário de Mad Max, passando pelo argumento alucinante e uma banda sonora escolhida a dedo que fará a delícia dos fãs de música mais alternativa, este é, sem dúvida, um dos melhores filmes presentes nesta edição do Fantasporto. A longa espera de Evan Glodell (e de Tyler Dawson, amigo próximo do realizador/protagonista na vida real) para rodar este seu projecto valeu bem a pena!


Título original: Bellflower
Realizador: Evan Glodell
Argumento: Evan Glodell
Intérpretes: Evan Glodell, Jesse Wiseman, 
Tyler Dawson, Rebeka Brandes
Música: Jonathan Keevil
Fotografia: Joel Hodge
Género: Acção, Drama, Romance
Duração: 106 minutos



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Savages Crossing (2009)

Uma triste tentativa a um cliché usado até à exaustão, Savages Crossing de Kevin James Dobson é um ‘thriller psicológico’ que falha completamente no seu suposto género. Um filme que é quase certo de fazer uma pessoa saltar da cadeira… para sair da sala e ir ver outra coisa qualquer.

Um típico filme sobre um psicopata a quem falta um certo parafuso na caixa craniana, embora nisto seja um pouco difícil perceber se realmente é alguma destas coisas. É um pouco difícil saber quem é o verdadeiro centro da história mas julgo que é sobre uma mulher, Sue, e o seu filho que tentam fugir do marido que quer o dinheiro dela e como eles ficam presos, devido a uma tempestade, com mais duas mulheres na propriedade dum cowboy, em Savages Crossing, e da sua mulher (coisa que não é clara), juntamente com o maluquinho que está a trás do dinheiro. Pelos vistos Sue contratou um polícia (?) para matar o marido, porque aparentemente tem medo dele, e esse polícia também decide aparece na propriedade do cowboy para executar o seu ‘trabalho’ e a partir daí tudo parece correr terrivelmente mal. Isto acaba por ser um conto sobre como corre tudo mal a um cowboy com complexo de herói.

Pode se dizer que é quase triste ver o filme até ao fim, as falhas são tantas que nos obriga a perguntar quem financia tal aberração. Muitas das actuações são exageradas, enquanto outras são quase inexistentes e falta duma realização em termos tudo cai por terra e torna-se doloroso de ver. Sendo um thriller à uma tentativa de criar suspense em muitas situações, e tal não acontece, é simplesmente frustrante e aborrecido fazendo com que 86 minutos pareçam 3 horas. A única coisa que se aproveita nisto tudo é a imagem do filme que mesmo assim é pouco satisfatória devido a filmagens feitas por chimpanzés.

Por amor de Deus, não percam tempo com isto, não aconselho a ninguém. Existem dezenas de thrillers sobre o mesmo assunto, com melhor elenco e rumo de história que são melhores que isto, seriam 86 minutos dolorosos que nunca iriam recuperar.


Título original: Savages Crossing
Realizador: Kevin James Dobson
Argumento: John Jarratt, Cody Jarrett
Intérpretes: Chris Haywood, Sacha Horler, Charlie Jarratt, John Jarratt 
Música: Chris Goodes, Des Keneally, James Starnes
Fotografia: Steve Cooper
Género: Thriller Psicológico, Crime
Duração: 86 minutos

Shame (2011)

Um dos melhores filmes do Fantasporto 2012 e foi exibido na sessão de abertura do festival. Realizado por Steve McQueen, “Shame” é um drama sobre o dia-a-dia de um homem viciado em sexo, protagonizado por Michael Fassbender, que teve participações em “Inglorious Basterds” e “300”, e a britânica Carey Mulligan, nomeada para Óscar de Melhor Actriz pelo seu desempenho em “An Education”. Com um elenco e realização de qualidade, este filme garante ser um sucesso entre os amantes do género.

Devido à sua condição psicológica, Brandon (Michael Fassbender), executivo numa empresa, é quase forçado em situações que lhe garantam satisfação sexual, seja através de prostitutas ou de pornografia. Durante o filme vemos como tenta controlar o seu vício e conviver com ele enquanto tenta viver uma vida normal, coisa que não corre a seu favor quando recebe uma visita inesperada da sua irmã, Sissy (Carey Mulligan). Brandon chega a desenvolver afecto verdadeiro por uma das secretárias da empresa onde trabalha e tenta construir algo como uma relação amorosa com ela, mas o seu vício, que se limita a sexo sem compromissos, faz com que tal não seja possível e com todo o stress psicológico causado por situações envolvendo a sua irmã, patrão e a secretária levam a que Brandon sofra de uma espécie de colapso e ceda completamente aos seus desejos sexuais, que ele procura satisfazer a qualquer custo, até mesmo com outros homens.

Ao longo do filme chegamos até a sentir empatia pela personagem de Michael Fassbender, cuja vida se vê completamente controlada pelo seu vício. As excelentes actuações do elenco garantem que um enredo sólido de fácil entendimento para a audiência, e segue um rumo fluido e nada entediante. A realização por Steve McQueen mostra ser um pilar importante na integridade da história, que impede que esta siga um destino um pouco mais confuso do que o necessário. É um filme que, obviamente, recomendo a qualquer um, isto porque é interessante e não como muitos outros dramas que nos colam à cadeira pelos motivos errados. 

Vencedor da Volpi Cup e do prémio FIPRESCI em Veneza é claramente merecedor de mérito e sucesso tendo sido aceite positivamente pelo público e aplaudido com grande convicção após a sua exibição no Fantasporto. Definitivamente um começo fantástico para o Fantasporto 2012!


Título original: Shame
Realizador: Steve McQueen
Argumento: Abi Morgan, Steve McQueen
Intérpretes: Michael Fassbender, Carey Mulligan
Música: Harry Escott
Fotografia: Sean Bobbitt
Género: Drama
Duração: 101 minutos




domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Serbian Film (2010)

Aqui no Matinée decidimos fazer um retorno bastante apelativo, por assim dizer, ao fazermos uma pequena critica a Srpski Film, um filme de terror gore sérvio realizado por Srđan Spasojević, também seu co-produtor e co-argumentista. É um filme que à primeira vista não tem muito que se lhe diga, mas à medida que o filme avança vê-mo-nos a entrar na montanha-russa do abuso psicológico que é o Srpski Film, algo que definitivamente irá por à prova o estômago de qualquer um, e que prova essa será... 

O filme começa como algo completamente mediano, vemos o dia-a-dia de Miloš,um ex-actor pornográfico que tem uma vida, aparentemente, normal com a sua mulher e filho,Marija e Petar. Entretanto, Milos recebe um convite de uma velha amiga e companheira de trabalho para um projecto misterioso, que envolve a realização de um filme pornográfico, projecto esse que garante uma vida bastante confortável para Milos e a sua família. Após aceitar o convite Milos é levado a conhecer o realizador, Vukmir Vukmir, um homem de certa forma excêntrico, que lhe explica como tem grandes planos para este filme e que revolucionará o cinema pornográfico, mas mesmo assim mantendo o 'argumento' do filme um pouco às escuras de Milos que mesmo assim aceita, começando assim a sua viagem pela pornografia underground.

A partir daqui é uma auto-estrada cujo todas a saídas levam aos lugares mais sombrios da mente humana. Acho que se vê de tudo um pouco, desde necrofilia a pedofilia, incesto, violação, e abusos aos quais é quase senão completamente impossível assistir numa sala de cinema normal. Não é uma surpresa que este filme tenha sida banido de bastantes países do mundo, apenas em alguns festivais de cinema é que passaram o filme para o público, incluindo o Fantasporto que passou o filme a 11 de Março de 2011.

Resumindo, até pode ser considerado um bom filme em termos técnicos mas se tivermos em conta o seu conteúdo é bastante perturbador e grotesco, embora, claro, isto depende da capacidade de tolerância de cada um. Não é um filme que eu pessoalmente aconselhe a qualquer um ver, e isto é algo que não costumo fazer, mas se se considera valente o suficiente para o ver então, força, será de certeza uma experiência única e avassaladora.


Tirulo original: Srpski Film (Sérvia, 2010)
Realizador: Srđan Spasojević
Argumento: Aleksandar Radivojević; Srđan Spasojević
Intérpretes: Srđan Todorović; Jelena Gavrilović; Slobodan Beštić; Sergej Trifunović
Música: Sky Wikluh
Fotografia: Nemanja Jovanov
Género: Crime, Drama, Terror, Thriller
Duração: 104 minutos (Director's Cut); 99 minutos (UK Cut)





sábado, 25 de fevereiro de 2012

Estamos de volta!

Depois de uma longa pausa para repor baterias, a redação do Matinée está de volta (e já não era sem tempo!).
E o que seria melhor para nos arrancar deste marasmo inicial do que uma cobertura (quase) intensiva do Fantasporto 2012? Pois é, pessoal, leram bem: estes dois vossos amigos vão andar estas duas semanas pelo Rivoli vendo filmes e anotando nomes.

É, parece que estamos de volta, e sabe tão bem!