Todos os anos o Fantas exibe pelo menos um filme que serve de prova de que, mesmo com baixo orçamento, é possível fazer cinema de qualidade. Bellflower será um desses filmes, recheado de actores desconhecidos e rodado em localizações perdidas no meio de nenhures, que, mesmo na face de um possível handicap, é capaz de entreter o público e deixá-lo com uma sensação de tempo bem passado.
A estreia de Evan Glodell na realização tem coluna vertebral no imaginário do universo de Mad Max. Mas fica-se por aí: Mad Max suporta apenas o desenvolvimento da acção, não se sobrepondo à identidade própria do filme que nele se inspirou, e Bellflower nunca tenta ser uma cópia reles de um dos mais míticos filmes pós-apocalípticos de sempre.
Sobre a premissa do filme, e tentando não revelar mais do que o necessário, um jovem entra numa espiral descendente de degradação, perdendo aos poucos a sua sanidade e entrando num ciclo de violência, afectando todos os que o rodeiam: o seu melhor amigo, a sua ex-namorada e a sua amante. A perda da sanidade do protagonista, Woodrow, serve de mote para a confusão que se estabelece entre o que o realmente se passa no filme e o que se poderia ter passado.
Bellflower é, no mínimo, delirante! Dele, o mítico Roger Ebert terá escrito que marca a estreia de um realizador único com uma energia a fazer lembrar Tarantino; não estará longe da verdade, mas serão os próximos trabalhos de Glodell a confirmar ou desmentir o hype que se gerou em torno do que poderá muito bem um dos filmes independentes de 2011. Mas se é verdade que o futuro de Glodell na realização será ainda uma incógnita, é também verdade que Bellflower me deixou colado à cadeira em várias partes da película (quem já o viu saberá muito bem porquê), e que, à parte de alguns cortes e planos pior conseguidos, tem uma realizção competente e um enredo interessante.
Quem ainda não viu Bellflower não sabe o que está a perder e deveria ir a correr vê-lo: desde a sua fotografia degradada a fazer lembrar as mais áridas planícies, à influência orgânica do imaginário de Mad Max, passando pelo argumento alucinante e uma banda sonora escolhida a dedo que fará a delícia dos fãs de música mais alternativa, este é, sem dúvida, um dos melhores filmes presentes nesta edição do Fantasporto. A longa espera de Evan Glodell (e de Tyler Dawson, amigo próximo do realizador/protagonista na vida real) para rodar este seu projecto valeu bem a pena!
Realizador: Evan Glodell
Argumento: Evan Glodell
Intérpretes: Evan Glodell, Jesse Wiseman,
Tyler Dawson, Rebeka Brandes
Tyler Dawson, Rebeka Brandes
Música: Jonathan Keevil
Fotografia: Joel Hodge
Género: Acção, Drama, Romance
Duração: 106 minutos