«Ninotchka, it's midnight. One half of Paris is making love to the other half.» - Mentiria se por aqui escrevesse que esta mítica tirada, de Melvyn Douglas a Greta Garbo em Ninotchka, não é uma das minhas preferidas de toda a história do Cinema. Simultâneamente, descreve bem o ambiente de Paris, algo entre o romantismo e a beleza mística de outros tempos e gerações. MIDNIGHT IN PARIS, de Woody Allen, vive muito dessa aura. À meia-noite, na Paris de Allen, param carros que nos levam de bom-grado a festas de outros tempos. Confesso, não seria uma cidade em que não me agradasse viver.
Não é segredo que o principal amor de Allen, a par da música e da sua mulher, é Nova Iorque. Tanto, que a cidade é cenário e personagem de grande parte da sua obra. Paris já tinha merecido também o seu olhar atento, assim como Veneza. Seguiu-se Barcelona há coisa de dois ou três anos, e em 2012 será a vez de Roma. Mas voltemos a Paris. Depois de Everyone Says I Love You a lente de Allen voltou-se de novo para a Cidade das Luzes. Gil, um americano com ambição de ser escritor, está em Paris de férias com a família da sua noiva. Como ele próprio diz, já lá esteve antes, mas escolheu não ficar. Caricatura do próprio realizador (ou será antes um alter-ego?), é distraído e neurótico ao estilo do seu criador. É fácil deixarmo-nos levar por este argumentista que abomina as os seus próprios argumentos e sonha com outra era, repleta de gente mais interessante do que a com quem convive. Owen Wilson surge refrescante, longe do seu habitual papel de adorável idiota. E depois há Rachel McAdams que, mesmo tapada por Marion Cotillard (a francesa é de outro nível), aparece em bom nível no papel de noiva insuportável, mimada pelos pais e inconsciente nas consequências das suas acções. Os três à frente de ilustre gente como Michael Sheen (quase irreconhecível), Corey Stoll, Alison Pill, Tom Hiddleston, Kathy Bates e Adrien Brody. E até Carla Bruni, primeira-dama francesa à data da rodagem, tem direito a papel neste elenco de luxo.
Midnight in Paris tem alguns momentos deliciosos de cinema. O encontro de Gil com o grupo surrealista liderado por um Dalí obcecado por rinocerontes é um deles. As psicoses e inexplicáveis surtos de loucura de Hemingway também são de destacar. Mas, no fim, ficará para sempre ligada à obra a possibilidade que ela nos oferece de visitar o nosso imaginário. Todos nós temos períodos preferidos, plenos de ídolos e personalidades que, de uma forma ou de outra, nos marcaram - a nossa Época Dourada. O que nos esquecemos é que quem por lá viveu também terá tido a sua, e por aí adiante. É mais fácil criticar o presente, admirando em retrospectiva o passado, do que o tentar mudar. Não será a melhor obra de Woody Allen, mas, discutivelmente, é uma das mais próximas na última década ao seu estilo. E uma das que mais prazer dá - pelo menos a mim deu - ver. Este ano haverá mais, se tudo correr como o esperado. A cidade é que será outra.
Realizador: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Kathy Bates, Kurt Fuller, Mimi Kennedy, Michael Sheen, Carla Bruni, Alison Pill, Yves Heck, Corey Stoll, Tom Hiddleston, Léa Seydoux, Adrien Brody
Fotografia: Darius Khondji
Género: Comédia, Fantasia, Romance
Duração: 94 minutos
Concordo com o último parágrafo, adorei a cena do Dalí... Mas falta algo ao filme, apesar de este ser bom... 3*
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