segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Nos Bragas #6

Terça-feira, dia 22 de Outubro (amanhã), o Cineclube FDUP apresenta GERTRUD, a última obra realizada por Carl Theodor Dreyer.

Design por Daniel Mudrák

Para a segunda sessão deste semestre, terça-feira, dia 22, o Cineclube FDUP reservou o último filme de Carl Theodor Dreyer, GERTRUD (1964), o culminar da carreira do realizador dinamarquês marcada por obras-primas como A Paixão de Joana d'Arc (1928) ou Ordet (A Palavra) (1955).

Gertrud é o retrato de uma mulher que abandona o casamento, motivada pela crença num amor ideal de que o marido não é reflexo, e que procura na relação com o jovem amante Erland e nas memórias de uma paixão antiga, Gabriel.


Às 18h15, na sala 0.01 (piso do bar). A entrada é gratuita.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Nos Bragas #5

Terça-feira, dia 8 de Outubro (amanhã), o Cineclube FDUP volta à carga com THE SHOP AROUND THE CORNER, de Ernst Lubitsch, a obra que marca o começo da sua programação para temporada 2013/2014.

Design por Daniel Mudrák

Um dos filmes mais amados de Ernst Lubitsch, embora bastante diferente das suas obras-primas dos anos trinta,(...) THE SHOP AROUND THE CORNER, adaptado de uma peça húngara, é quase sentimental, com a história de dois modestos colegas de trabalho que se vêem todos os dias na loja, sem suspeitar que trocam, um com o outro, uma correspondência amorosa. Mas, também neste registo, a mise en scène de Lubitsch é um prodígio de perfeição.


Às 18h15, na sala 0.01 (piso do bar). A entrada é gratuita: não há desculpa para faltar!

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

À Boleia


Se alguma vez se perguntaram como seria apanhar uma boleia deste vosso humilde escriba, o Caminho Largo dá-vos a resposta. Cinco perguntas de Cinema - e sobre Cinema - às quais tive o maior prazer de responder, numa iniciativa que já contou com a participação de nomes como Nuno Reis, João Palhares e David Furtado (e com muitos mais ainda por vir).

O resultado, esse, está à distância de um clique.

domingo, 4 de agosto de 2013

Sunday Stills #48: "The House of the Devil"


Com a chegada esta semana a Portugal do seu THE INKEEPERS - mais vale tarde do que nunca -, voltamos ao terror nas nossas sunday stills com THE HOUSE OF THE DEVIL, de Ti West. Para ver numa sala escura.

domingo, 28 de julho de 2013

Sunday Stills #47: "Drive"


Na semana de estreia nacional do seu novo filme - ONLY GOD FORGIVES, novamente protagonizado por Ryan Gosling - recordamos na nossa habitual rubrica semanal a magnífica cena do elevador de DRIVE, de Nicolas Winding Refn. Um resumo de como as luzes podem exorcizar num só momento todos os demónios de quem iluminam.

domingo, 21 de julho de 2013

Sunday Stills #46: "Belleville Rendez-Vous"


O Tour acabou: ficam os vencedores - com assinatura portuguesa nos pódios - e as recordações. No Cinema, a mais bela e delicada será, porventura, este BELLEVILLE RENDEZ-VOUS, de Sylvain Chomet. E a promessa de que para o ano há mais.

sábado, 20 de julho de 2013

CCOP - Top de Junho de 2013


ANTES DA MEIA-NOITE, filme que completa a trilogia das personagens Jesse e Celine, foi considerado o melhor filme do mês de Junho. Mas não só. Com 8,82 de classificação média (especialmente impressionante agora que deram entrada seis novos membros no CCOP), o filme tem entrada directa para o primeiro lugar do top anual. Entre todos os filmes já votados pelo CCOP, ANTES DA MEIA-NOITE recebeu a décima segunda maior classificação de sempre, a mesma conseguida por BLADE RUNNER (1982). Se comparamos com o ano passado, é uma nota apenas ligeiramente inferior à do líder de 2012: Tabu, que foi classificado com a nota média de 8,89. Os filmes que completam o pódio de Junho são ambos escandinavos: o sueco À PROCURA DE SUGAR MAN (vencedor do Óscar 2013 de Melhor Documentário), que deu entrada directa no décimo lugar do top anual e o norueguês HEADHUNTERS - CAÇADORES DE CABEÇAS. Nota para a reposição em sala do clássico de 1953, ATÉ À ETERNIDADE, com a média de 7,73.


Para conhecer os restantes filmes do top mensal e as entradas e saídas do top anual, basta consultar o site oficial do CCOP aqui

domingo, 14 de julho de 2013

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Filme do Mês #6

Todos os meses, o filme com estreia - comercial - nacional que melhor pontuação recebeu da redacção do Matinée Portuense, e o que por cá se escreveu sobre ele.

Junho, 2013

Em Junho, votámos pelo reencontro. Do Amor, do Sol, da maresia. E o de Celine e Jesse connosco (o espectador). BEFORE MIDNIGHT, de Richard Linklater, foi o primeiro filme do ano a conseguir a pontuação perfeita. As dez câmaras vermelhas foram-lhe dadas por António Tavares de Figueiredo.


«Tento resolver a questão central que BEFORE MIDNIGHT coloca: será possível ser-se fiel (ao outro, a nós) sem, no entanto, o ser? Não consigo encontrar a resposta. Sei apenas que, a acabar na Grécia, o mais trágico dos destinos - e, voltando ao tal almoço grego, já lembrava um dos convivas que foram os gregos a inventar a Tragédia -, não podia pedir melhor conclusão para a história de Jesse e Celine. Mas a porta, essa, ficou aberta a um novo reencontro. Por agora...» (ATF)

domingo, 30 de junho de 2013

Sunday Stills #43: "Il deserto rosso"


Das obras de Michelangelo Antonioni poucas serão as que se comparam em puro ambiente a IL DESERTO ROSSO. No fotograma, Monica Vitti.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Entrei no Quarto Errado


Em plena época baixa de actividade entre portas - os outros compromissos dos redactores assim o obrigam - o José Carlos Maltez, do blog A janela encantada, convidou-me a programa um ciclo de Cinema como bem me aprouvesse. Pois bem, não me fiz rogado, e pus-me a escolher os filmes.

O tema, esse, ficou Entrei no Quarto Errado. Para conferir as obras seleccionadas, basta passar por aqui. E aproveitar para dar uma vista de olhos pelo resto do espaço (e não só pelas outras entradas d'O Meu Ciclo).

domingo, 23 de junho de 2013

Sunday Stills #42: "Aniki Bóbó"


Na noite mais tradicional do Porto não podíamos deixar de lembrar a cidade que nos empresta o nome. A homenagem, claro está, nem é nossa: fazemo-la através de ANIKI BÓBÓ, de Manoel de Oliveira, obra seminal que imprime o Porto em cada um dos seus fotogramas.

domingo, 16 de junho de 2013

Sunday Stills #41: "From Here to Eternity"


O beijo na praia entre Burt Lancaster e Deborah Kerr em FROM HERE TO ETERNITY, de Fred Zinnemann. Ou como um fotograma imortalizou um filme na história do Cinema.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Trailer de "Blue Jasmine"

Woody Allen não falha desde 1982: todos os anos estreia, pela menos, um filme. O de 2013, BLUE JASMINE, marca o seu regresso aos states. Nova Iorque, essa, é que continua longe. A fita, protagonizada por Cate Blanchett, tem estreia prevista em Portugal para 5 de Setembro.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sunday Stills #40: "Rosa de Areia"



Um dia depois do habitual - o 10 de Junho assim o pediu - fomos buscar o fotograma desta semana (ou, melhor, da última) a uma das grandes obras do Cinema português. Referimo-nos a ROSA DE AREIA (1989), de António Reis e Margarida Cordeiro, mais poesia do que filme. Se tivermos em atenção que o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é assinalado na morte de um artista - em detrimento, por exemplo, da independência do território -, não me parece, de todo, descabido que se celebre a ocasião com Arte. Até porque o trabalho de Reis (com ou sem Margarida Correio a seu lado) espelha uma outra faceta do que é ser português, do que é sentir Portugal.

sábado, 8 de junho de 2013

Before Midnight (2013)

Acabado de sair de BEFORE MIDNIGHT, não deixa de ter a sua certa piada que um jovem casal tenha decidido sentar-se na mesa atrás da qual componho estas linhas. Passe a indelicadeza de escutar conversas alheias, lembro-me imediatamente do almoço grego do filme, "regado" a histórias trocadas entre casais em diferentes fases de relacionamento, quando os ouço falar de amor eterno. Da rapariga que do alto dos seus twenties nega a sua existência - antes que a viúva a cale (a ela, e a todos) com a fugacidade da memória do falecido marido - ao patriarca que afirma que no casamento a paixão é substituída pelo pragmatismo de quem cuida do parceiro.


A aceitar essa visão mais prática -e cínica - do tema, Jesse e Celine guiam-se já pelas regras da conveniência. O entusiasmo do boy meets girl, boy loses girl, boy gets girl back dos primeiros capítulos deu lugar à responsabilidade de uma união com duas filhas, mais um do casamento anterior. Sem a liberdade que a família tira, não ensaiam com tanta frequência o charme juvenil e a sexualidade despreocupada de quem abandonava comboios com desconhecidos e perdia voos de regresso a casa por uma noite com amantes recuperados. As personagens de Hawke e Delpy - que, diga-se, são os papéis das suas carreiras - não são as mesmas desses tempos de juventude; ou, melhor, sendo-as, envelheceram (mas sem, necessariamente, amadurecerem). E ainda bem. O espectador que as acompanhou ao longo destas quase duas décadas - importa realçar o tempo que passou desde a primeira noite em Viena - não continuará, certamente, o mesmo. Confirma-se, pois, aquela que julgo ser a característica mais interessante do Cinema de Richard Linklater, a sua rara capacidade de evoluir com as personagens a que se dedica.

Outrossim, reforça-se algo que não me canso de defender: o cineasta norte-americano é um dos grandes auteurs - e um dos mais multifacetados, também - em actividade. De um lado temos o Linklater das trips ácidas, de Dazed and Confused e A Scanner Darkly; do outro, o de câmara rohmeriana, o contador de estórias e explorador de intimidades que tenta congelar a vida em celulóide. Menos certo parece-me, contudo, decantar esses seus dois lados. Ou se tal, mesmo querendo-o, seria sequer possível.

Essa subtil complexidade do trabalho de Linklater manifesta-se com especial força na passagem dos enquadramentos partilhados - a norma nos anteriores filmes e na primeira parte deste - para o esquema de campo-contra-campo adoptado durante a discussão do casal. Nesses momentos em que tudo quase se desmorona - quase? - revela-se a dolorosa verdade que, apesar de indiciada logo desde o início, o espectador escolheu ignorar: há algo de errado no relacionamento entre Jesse e Celine. Ele, onanista, fantasia nos livros que escreve com a sexualidade de outras aventuras (continua um teen americano, como Celine, às tantas lhe diz). Ela, frustrada com a sua ausência, ressente-se desse seu lado fetichista. Já não há romantismo, só desgaste.

O jovem casal que partilhava o pátio comigo já se foi, deixando-me a sós com estas linhas. Revivo mentalmente - com todas as liberdades que o Cinema me permite - a cena final que tenta, mais do que recompor, redimir aquelas personagens por quem me apaixonei, já lá vão alguns anos. E o magnífico travelling-out - todo o filme goza, aliás, goza de uma direcção de fotografia belíssima - que me "puxou", uma vez mais, das suas vidas. Tento resolver a questão central que Before Midnight coloca: será possível ser-se fiel (ao outro, a nós) sem, no entanto, o ser? Não consigo encontrar a resposta. Sei apenas que, a acabar na Grécia, o mais trágico dos destinos - e, voltando ao tal almoço grego, já lembrava um dos convivas que foram os gregos a inventar a Tragédia -, não podia pedir melhor conclusão para a história de Jesse e Celine. Mas a porta, essa, ficou aberta a um novo reencontro. Por agora...


Título Original: Before Midnight (EUA, 2013)
Realizador: Richard Linklater
Argumento: Richard Linklater, Julie Delpy, Ethan Hawke (baseados nas personagens de Richard Linklater e Kim Krizan)
Intérpretes: Ethan Hawke, Julie Delpy, Seamus Davey-Fitzpatrick, Walter Lassally, Ariane Labed, Yiannis Papadopoulos, Athina Rachel Tsangari, Panos Koronis
Música: Graham Reynolds
Fotografia: Christos Voudouris
Género: Drama
Duração: 108 minutos


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Cinema no 10º aniversário do Serralves em Festa

Para quem vive no Porto e conta passar pelo Serralves em Festa - a 10ª edição da maior mostra de expressão artística contemporânea em Portugal - este fim-de-semana há Cinema para ver. Ficam as actividades planeadas:

Sábado, 8 de Junho

Cinema de Animação | Auditório da Fundação de Serralves | 12h00

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Domingo, 9 de Junho

SEVEN CHANCES (1925), de Buster Keaton | Auditório da Fundação de Serralves | 12h00

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Entrevista com Luís Costa: «Há coisas que não precisam de explicação»

Não é raro ficar-se amigo de um entrevistado, ultrapassadas as formalidades do questionário. Mais raro é, no entanto, ter a oportunidade de entrevistar um amigo à partida, alguém com quem já partilhamos experiências em comum. A propósito da estreia de FONTELONGA - obra belíssima sobre uma aldeia portuguesa - no Black & White 2013, lançamos o repto ao Luís Costa: falar-nos do seu filme como se não nos conhecesse. Acompanhado por Simon de Sousa, um dos produtores - e a poucas horas de subir ao palco do Auditório Ilídio Pinho para receber o Prémio do Público para a Secção de Vídeo do festival -, Luís aceitou o convite. Fica o resultado da conversa naquela esplanada ventosa, onde se relembraram caminhadas de regresso ao Porto "alimentadas" por Bergman e Malick, o Cinema e, acima de tudo, esse «milagre da memória» que se traduz na sua fita de estreia.

Como é que vão parar a Fontelonga? Sei que na apresentação da obra disseste que é a aldeia dos teus avós maternos, mas donde é que surge a ideia de ir lá filmar?

Luís Costa: Olha, engraçado que perguntes isso. Estávamos a acabar um trabalho - um ensaio sobre o tempo - para uma das cadeiras da universidade, e estávamos a caminho das bombas para comprar tabaco, não sei se te lembras...

Simon de Sousa: Tu disseste-me isso quando estávamos naquele café à beira da praia.

LC: Mas ali estávamos a comprar tabaco na BP, e estávamos a falar do meu avô e de não-sei-que-mais, e pensei "vou fazer um filme sobre o meu avô". Ele [o Simon] disse-me para primeiro pensar naquele, mas lá fiquei com o bichinho do FONTELONGA. Ainda não tinha acabado o ano, e já estava a equipa convidada para fazer o filme.

Começas a tua carreira com um documentário. É um registo no qual gostarias de continuar?

LC: Quero realizar mais documentários, mas não sei se é o formato no qual quero ficar definitivamente.

Mas mais sobre Fontelonga?

LC: Não, isso não. Já chega. Encerrei o capítulo sobre Fontelonga; e bem, creio.

Na apresentação do filme falaste de outra ideia muito interessante, o «milagre da memória». Que floreamos momentos da nossa infância, fazemos dos nossos avós heróis e guardamos uma ideia do passado que pode não corresponder exactamente ao que realmente se passou. De que forma sentes, ao filmar um lugar que te viu crescer, esse peso?

LC: Naturalmente, como muitos sabem, Fontelonga já foi uma terra cheia de vida. E eu, quando era miúdo, vinha com o carro cheio de fruta, cheio de tudo: era azeite, batatas... A transição para um aldeia deserta foi muito rápida - é essa a noção que tenho desde novo. E parece-me que foi desde que o meu avô morreu que a aldeia também começou a morrer. E com a aldeia a ficar deserta a minha preocupação era redimi-la uma última vez. Uma aldeia que era grande e que nunca mais ninguém vai dizer que conseguiu ser grande, percebes? Foi tentar, pelas palavras da Maria José, dizer que aquilo já teve vida, e tentar lembrar a aldeia num último momento, lembrá-la no discurso dela - no presente - aquilo que já foi.

Sentes o teu filme como uma espécie de elegia à aldeia, um canto-de-cisne da ruralidade portuguesa, ou mais como uma tentativa de usar a própria memória para a fixar?

LC: Acho que é uma mistura dos dois. Acho que é uma mistura perfeita dos dois. É tentar fazer jus à aldeia. Aliás, quando começamos, eu pensei "se calhar, isto vai ser muito centrado no meu avô", mas passou a ser um filme sobre a morte das aldeias de Portugal. E passou a ser um filme de Fontelonga. E depois passou a ser, digo eu, uma coisa universal.

FONTELONGA acaba no cemitério, num plano magnífico. É uma metáfora para a morte da própria aldeia?

LC: Curioso que perguntes isso. Não sei se te posso responder à pergunta. O filme, numa primeira versão, não terminava assim. Nem tenho bem a certeza onde é que o tal plano encaixava. Mas depois de o vermos ficámos com a sensação que precisava de um ponto final. Fomos mexendo, e...

SdS: E nada.

LC: Exacto, e nada. Há coisas que não precisam de explicação.

Black & White 2013, Dia 3: do milagre da memória


Já terminado o Black & White 2013 há largos dias, e olhando o que ficou para trás, vou compreendendo melhor o que o Luís Costa quis dizer quando falou no «milagre da memória» durante a apresentação de FONTELONGA. Nessa coisa muito curiosa de se guardar na cabeça uma imagem do que foi, e que pode ou não - e inclino-me mais para a segunda opção - corresponder à realidade. À distância, tudo parece mais simples: os vencedores já se conhecem, a festa já se fez, os filmes já passaram. Sobra o simulacro quimérico que se retém do celulóide, das estórias projectadas. Mas, e passe a melancolia que "salta" destas linhas, já me adianto. Recuemos uma semana.

Na esplanada ventosa do Bar das Artes - onde, um dia mais tarde, entrevistaria o Luís e o Simon -, sento-me finalmente com o Xico. No auditório realiza-se uma artist talk com Evgen Bavcar, fotógrafo cego - para quem, desconfio, a imagem mental que guarda das formas e situações se afigura especialmente importante -, abandonada a meio; não que não estivesse a ser interessante, porque estava, mas a oportunidade de discutir Cinema com um dos gajos com quem mais gosto de o fazer é irrecusável. As cadeiras ainda não estão quentes, e já vamos em Tarkovsky. Que o russo tirava planos como ninguém, que os filmes dele são colossos. Tudo bem, concordo, mas e então o Dreyer? Pá, tens razão, o Dreyer; aqueles enquadramentos pelos ombros eram sobrenaturais, toda a gente parecia tocada pela Graça. E vamos a Reis - outra vez? Sim, outra vez. -, àquela Natureza poética, aos trabalhos com a esposa Margarida, a ANA e a JAIME. Lynch, esse mestre do non-sequitur, mete-se oportunamente na conversa. E César Monteiro, Gomes, Oliveira, Villaverde, enfim, todos esses gigantes do Nosso Cinema passados em revista. E acaba-se, como quem não quer a coisa, no Luís, amigo em comum, e no seu filme. Do Xico leva os maiores elogios: que houve quem chorasse ao vê-lo, que está muito bem feito. E a expectativa aumenta.

Despedimo-nos. E o meu telemóvel toca. É o Junior. Não conseguiu chegar a tempo do filme do Luís, que só pode ir amanhã. Discutimos a cobertura ao festival, a entrevista marcada, as crónicas que já se escreveram puxando do vernáculo e as que ainda faltam escrever. E vou tomar um café, para despertar da moleza provocada pelo Sol da tarde. As horas vão passando comigo a rabiscar no caderno. A inspiração, essa, tarda em chegar. A sineta salva-me do marasmo criativo: vão começar os filmes.

É um experimental a abrir as hostilidades. Literalmente. HERMENEUTICS (Rússia, 2012), de Alexei Dmitriev, exercita a (des)montagem, construindo um raccord entre um disparo de obus que aterroriza as tropas inimigas e um fogo-de-artifício que maravilha a populaça. Resumindo a questão - que, aliás, se resume por si na curta duração da peça -, a guerra como gáudio. Menos imediato é HAMAIKETAKOA (Espanha, 2012), de Telmo Esnal. Através de contornos absurdistas, Esnal transforma os homens em cães que rosnam entre si, colocando as mulheres a assistir ao espectáculo (diário, pelo que se julga). A ideia - e o comentário - é interessante; pena sobrar tão pouco no fim, para além das gargalhadas.

Das ruas passa-se para o ringue de THE FINAL BELL (França, ?), de Lionel Michaud. O pior pugilista de sempre, conforme nos é confessado pelas legendas finais, não quer perder o último combate. Uma personagem manhosa (o agente?) pede-lhe que o faça a troco de um emprego a tempo inteiro, depois a namorada emasculadora que prefere a segurança do rendimento à honra do "seu" homem, mas nem isso o convence. Resta ir à luta e esperar que o outro caia mais depressa do que ele. De Michaud, que quase "estrangula" o filme com tanto classicismo - que, apesar de tudo, sempre lhe terá valido o Grande Prémio do Júri -, dá para perceber a atracção pela Hollywood clássica através da forma como filma. Razoável.

TIN & TINA (Espanha, 2013), de Rubin Stein, foi a grande surpresa da noite. Terror a puxar pelos bons tempos da Hammer e da Universal, bem como pelo arquivo de gente como Carpenter, Lynch, Buñuel e mais uns quantos, cumpre o seu objectivo na perfeição: deixar a audiência desconfortável. Stein utiliza com particular habilidade a câmara, quase estática, terminando num travelling memorável: lentamente, revela o corpo chacinado do pai coberto pelas penas provenientes de uma «luta de anjos» - leia-se, almofadas - dos filhos. No meio de tamanha bizarria há ainda tempo para um dos melhores jump scares dos últimos anos. Altamente recomendado.

Os dois portugueses do dia merecem, cada um, o seu próprio parágrafo. SOB/UNDER (Portugal, 2012), de Nuno Prudêncio, é uma ode ao Cinema. Melhor, ao trabalho invisível por detrás do Cinema. Talvez seja por isso que às tantas a personagem de Sisley Dias diz ao protagonista que o seu trabalho - legendar filmes - não passa de um erro gráfico na imagem. Naquele gabinete em que a realidade se confunde com a ficção, em que as personagens trocam de lado na tela, trabalham-se esses caracteres que, embora errados, dão significado à acção. «Se quiseres, temo-nos um ao outro para traduzir durante o resto da vida. E já é trabalho suficiente.», diz o protagonista à amada pela legendagem de uma fita. E assim, como quem não quer a coisa, Prudêncio transporta a beleza do Cinema para a própria realidade.

Há um plano - nem de propósito, o último - em FONTELONGA (Portugal, 2013), de Luís Costa, que, desconfio, há-de ficar comigo por muitos anos que venham: no cemitério, Maria José, a narradora de tão sentido elogio à aldeia portuguesa, afirma com naturalidade que havemos todos de morrer e ninguém se lembrará de nós. É esse o grande soco no estômago da obra de estreia de Costa, um documentário filmado na aldeia dos seus avós maternos, esvaziada de gente e de vida. Só com essa intimidade se consegue capturar de forma tão bela a essência de um lugar, a verdade que se esconde no espaço. Costa teve ainda o mérito de pensar como poucos o seu filme: nada é deixado ao acaso, tudo tem uma razão de ser. Do «milagre da memória», esse romance tão bonito, conservado pela câmara para quem o quiser recordar.

António Tavares de Figueiredo

quarta-feira, 5 de junho de 2013

«A mechanical wonder»

A cinefilia como cura para o vampirismo, ou como o nascer-do-Sol mecânico salvou uma alma à deriva.









INTERVIEW WITH THE VAMPIRE: THE VAMPIRE CHRONICLES (1994), de Neil Jordan

terça-feira, 4 de junho de 2013

Filme do Mês #5

Todos os meses, o filme com estreia - comercial - nacional que melhor pontuação recebeu da redacção do Matinée Portuense, e o que por cá se escreveu sobre ele.

Maio, 2013

Ainda não foi desta que conseguimos seguir as estreias comerciais com a atenção desejada. Ainda assim, dos filmes vistos, poucos foram os que desiludiram a redacção. Gangsters coloridos, festas desmedidas, passados revisitados e passeios pelos montes. Feito o resumo do mês, SPRING BREAKERS, de Harmony Korine, que, com as suas nove câmaras fluorescentes, levou para casa o título mensal.

«Por não se poder esconder a vacuidade dos comportamentos - porque, efectivamente, não há ali nada senão o hedonismo histriónico de umas spring breaks alimentadas a alucinogénicos -, tenta-se atribuir-lhes um sentido qualquer, metralhando máximas pseudo-filosóficas que, a cada reprodução, se vão esvaziando do seu significado.» (ATF)

domingo, 2 de junho de 2013

Sunday Stills #39: "The Darjeeling Limited"



Depois de uma semana em que estivemos praticamente afastados do Cinema - o Primavera Sound não ajudou -, apanhamos de novo o comboio. E logo com um fotograma de THE DARJEELING LIMITED, de Wes Anderson.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Um Filme, Uma Mulher

Desafiado pela Sofia Santos, do blog girl on film, a escolher uma mulher do Cinema e sobre ela escrever o que me aprouvesse, tirei a pena do descanso e pus-me ao trabalho. Para ler o resultado do esforço - e conhecer a minha preferência cinéfila no que ao sexo feminino diz respeito - é só passar por aqui. Convém é ler também os outros textos da iniciativa, que valem bem a pena.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ecos de Cannes

A cada grande festival que passa o Cinema português vai ganhando novos premiados. Este ano, em Cannes, foi a vez de João Nicolau, com o seu GAMBOZINOS (Quinzena dos Realizadores). A Palma d'Ouro, essa, foi para LA VIE D'ADÈLE, de Abdellatif Kechiche.



Seguem-se os vencedores em todas as categorias:

SELECÇÃO OFICIAL

Palma d'Ouro - Longa-Metragem:
LA VIE D'ADÈLE, de Abdellatif Kechiche

Grande Prémio:
INSIDE LLEWIN DAVIS, de Joel e Ethan Coen

 Melhor Realizador:
Amat Escalante, por HELI

Prémio do Júri:
LIKE FAHTER, LIKE SON, de Hirokazu Koreeda

Melhor Argumento:
Jia Zhangke, por A TOUCH OF SIN

Melhor Actriz:
Bérénice Bejo, por LE PASSÉ

Melhor Actor:
Bruce Dern, por NEBRASKA

Palma d'Ouro - Curta-Metragem:
SAFE, de Byoung-gon Moon

Prémio Vulcain do Artista:
GRIGRIS, de Mahamat-Saleh Haroun

Menções Especiais - Curtas-Metragens:
HVALFJORDUR, de Gudmundur Arnar Gudmundsson
37°4 S, de Adriano Valerio

UN CERTAIN REGARD

Prémio Un Certain Regard:
L'IMAGE MANQUANTE, de Rithy Panh

Prémio do Júri:
OMAR, de Hany Abu-Assad

Melhor Realizador:
Alain Guiraudie, por L'INCONNU DU LAC

A Certain Talent:
Diego Quemada-Diez, por LA JAULA DE ORO

Avenir Prize:
FRUITVALE STATION, de Ryan Coogler

JÚRI ECUMÉNICO

Melhor Filme:
LE PASSÉ, Asghar Farhadi

Menções Honrosas:
MIELE, de Valeria Golino
LIKE FATHER, LIKE SON, Hirokazu Koreeda

QUINZENA DOS REALIZADORES

Prémio Art Cinema
LES GARÇONS ET GUILLAUME, À TABLE!, de Guillaume Galliene

Prémio SACD:
LES GARÇONS ET GUILLAUME, À TABLE!, de Guillaume Galliene

Menção Especial:
TIP TOP, de Serge Bozon

Prémio Illy de Curta-Metragem:
GAMBOZINOS, de João Nicolau

Menção Especial de Curta-Metragem:
POUCO MAIS DE UM MÊS, de André Novais Oliveira

Prémio Label Europa Cinemas:
THE SELFISH GIANT, de Clio Barnard

SEMANA DA CRÍTICA

Grande Prémio:
SALVO, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza

Menção Especial:
LOS DUEÑOS, de Ezequiel Radusky e Agustin Toscano

Prémio Revelação France 4:
SALVO, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza

Prémio SACD:
LE DÉMANTÈLEMENT, de Sébastien Pilote

Prémio Canal+ - Curta-Metragem:
PLEASURE, de Ninja Thyberg

Prémio Descoberta - Curta-Metragem:
COME AND PLAY, de Daria Belova

Black & White 2013: os vencedores

PRÉMIOS DO JÚRI

Grande Prémio (Vídeo):
THE FINAL BELL, de Lionel Michaud

Melhor Vídeo - Ficção:
1949, de Paul Florian Muller

Melhor Vídeo - Documentário:
WARMTH, de Victor Asliuk

Melhor Vídeo - Experimental:
HERMENEUTICS, de Alexei Dmitriev

Melhor Vídeo - Animação:
ANDERSARTIG, de Dennis Stein-Schomburg

Melhor Áudio:
BLACK ON WHITE, de Emma Bowen

Melhor Fotografia:
AWAKE, de Fábio Roque

PRÉMIOS DO PÚBLICO

Melhor Vídeo:
FONTELONGA, de Luís Costa

Melhor Áudio:
VESSEL, de João Almeida

Melhor Fotografia:
HISTÓRIAS PASSADAS, de Margarida Sá Marques

MENÇÕES HONROSAS

Video - Ficção:
TIN & TINA, de Rubin Stein
HOTEL AMENITIES, de Julia Guillén Creagh

Vídeo - Animação:
NON-CITIZENS, de Aliona Gloukhova

Fotografia:
VACÍOS EN ESPERA, de Bruno Bresani

4:40 (Associação de Estudantes da UCP)

EM LINHA, EM CÍRCULO, de Afonso Gonçalves, Filipa Figueiredo, Mariana Mesquita e Rafaela Guimarães

domingo, 26 de maio de 2013

Sunday Stills #38: "La dolce vita"



A propósito da 10ª edição do Black & White a da estética monocromática que caracteriza o festival, relembramos esta semana LA DOLCE VITA, de Federico Fellini. Poucos filmes - e realizadores - conseguiram enraizar-se de forma tão profunda no preto-e-branco como este deambular de Marcello pelas ruas de Roma. La Dolce Vita e Fellini provam a capacidade do Cinema de se elevar à vida.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Black & White 2013, Dia 2: o Deus-Maquinista no comando do moralismo universal

Encontro-me com o João, um dos amigos locais, numa cervejaria de esquina, pouco visível ao transeunte mais distraído. Fico com o benefício de escolher a mesa. Que seja uma cabine nos fundos, então. Ainda os finos não encontraram o caminho da mesa e já se fala dos planos dos mestres, de Bergman, Tarkovsky e Reis. Gajo culto, este João. A conversa lembra-me algo que Edgar Pêra escreveu sobre Paulo Rocha: numa das aulas, o último rumava em direcção à tela, de joelhos, oferecendo um braço em troca do olho de Dreyer para tirar planos. O João que, confessa-me, também não acha nada mal o negócio faustiano sugerido por Rocha, despede-se com o resto do seu fino e a certeza de que nestas terras lusitanas ninguém fotografa Cinema tão bem como o Rui Poças. Concordo. E ponho-me a ouvir discussões alheias.

Ao balcão fala-se do Porto. Do clube, claro está! Nota mental: guardar um dia destes para escrever sobre o Porto - a cidade, claro está! - lá no blog. Resisto à tentação de dar uma vista de olhos ao catálogo. Quero manter o desafio de seguir o festival em modo guerrilha, deixar-me guiar pelos deuses do celulóide. Estar na sala às horas marcadas e abrir os olhos, só e apenas. Ao balcão ainda se berra sobre o Porto. O caderno, esse, fica na mala; prefiro escutar o ambiente que me rodeia, saborear o momento. A vida trata-me bem. Merda, tenho de pedir ao Luís a tal entrevista! A ver se o encontro na Católica.

O Sol já se põe quando regresso ao campus. O telemóvel vibra-me no bolso. Nem de propósito, uma mensagem do Luís. O gajo deve ser bruxo! Vou ter com ele. Diz que nos dá a entrevista com todo o gosto, que é um prazer. E despede-se num abrir e fechar de olhos, sempre apressado. Desço ao bar. Mais amigos. Uns quase de infância, outros de boémias noitadas nos Leões. Pergunta-se pelo paradeiro (incerto) de conhecidos em comum, fala-se de música, festarolas e, sobretudo, Cinema. Chamam-me doido por preferir Truffaut a Godard (um «tu não sabes o que dizes» roda a mesa). Começa uma sessão competitiva de audio - à qual falto -, e aproveito para esticar as pernas. Mais reencontros, mais abraços partilhados, mais parvoíces disparadas para o ar ao desbarato. O Junior, bracarense semanal, telefona-me. Garante-me que chega sem falta amanhã, que ainda apanha os dois últimos grupos de vídeo a competição. Desligo mesmo a tempo: toca a sineta. Vão começar os filmes.

HOTEL AMENITIES (Espanha, 2012), de Julia Guillén Creagh, abre bem a sessão. Dois amantes, ambos casados com outras pessoas, encontram-se pela primeira vez num quarto de hotel. Conheceram-se online e pretendem agora consumar o caso. Só que o Universo é um sacana moralista que parece não os querer deixar concretizar o desejo carnal. Os telemóveis tocam nas piores alturas possíveis; primeiro o dela, depois o dele. São os respectivos cônjuges. Um momento de dúvida para, no final, a porta se fechar com o aviso para não incomodar o par. O resto não se precisa de saber.

Já PELUQUERO FUTEBOLERO (Espanha, 2012), de Juan Manuel Aragon, vive principalmente do seu argumento. Não revelando nada de novo, aproveita, ainda assim, os elementos à disposição para criar uma história divertida pelos seus contornos absurdos. Vale pelas gargalhas e pela (passageira) interrogação se a desorientação do homem que, acabado de trair o clube, vai cortar o cabelo não passará de um conflito interior?

Menos objectivos - até porque não precisam de o ser - são MILK GLASS (Rússia, ?), de Egor Chichkanov, DOUBLE TAKE (Suécia, ?), de J. Tobias Anderson, e DELL' AMMAZZARE IL MAIALE (Itália, 2011), de Simone Massi. Sobre os dois primeiros, a conversa é rápida: o de  Chichkanov é um videoclipe - bem filmado, é verdade, mas um videoclipe, ainda assim -, a roçar o artsy-fartsy, enquanto que o de Anderson é uma montagem em split-screen de cenas de Intermezzo: A Love Story, de Gregory Ratoff, decompondo campos-contra-campos de Leslie Howard e Ingrid Bergman (acabei por gostar do resultado). Relativamente ao de Massi, sobre o qual já tive a oportunidade de escrever a propósito de um outro evento, confirmei duas suspeitas: primeiro, que o trabalho técnico da animação é, de facto extraordinário - já para não falar da sonorização -; segundo, que falta significado à obra, viajando-se apenas entre camadas.

NEGOTIATING REPRESENTATION IN ISRAEL AND PALESTINE (Israel/Palestina/Reino Unido, ?), de Huw Wahl, parece-me um objecto com mais valor social/humanitário do que cinematográfico. Não fosse o magnífico trabalho de som - de uma riqueza enorme -, pouco havia a espremer, em Cinema, do conjunto de stills de fotojornalistas narrado pelos próprios. Salva-se a mensagem da liberalização da imagem enquanto ferramenta da consciência social (e global). Melhor na combinação da mensagem com a linguagem cinematográfica é ANDERSARTIG (Alemanha, 2011), de Dennis Stein-Schomburg, animação de traço delicado contada pela única sobrevivente de um bombardeamento a um orfanato alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Relato impressionante de uma juventude perdida, suportada pela leveza etérea que lhe dá forma.

Guardou-se o melhor para o fim. DEUS ET MACHINA (Espanha, 2012), de Koldo Almandoz, é uma obra rara no modo como se desenha. Um homem chega a uma fábrica de manhã e põe a funcionar o Mundo - trata-se de um Deus-Maquinista encantado pela Natureza que gere, mas descontente com os homens que O gerem. Se calhar Nietzsche enganou-se e Deus, afinal, não morreu: escolheu foi demitir-se daquele emprego ingrato e deixar as responsabilidades para outro.

António Tavares de Figueiredo

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Black & White 2013, Dia 1: Macau, o frio, o adeus e a dança

Saio do carro a correr. Porra, o primeiro dia e já estou atrasado! Levanto a acreditação de imprensa - e vejo na mesa a do Junior, que só deve chegar lá para sexta -, e olho para o relógio. Com a brincadeira de ficar na faculdade a falar do campeonato do Porto já não vou a tempo da sessão das 15h00. Menos mal que são os vencedores do ano passado (conheço-os quase todos). Aproveito para conhecer o campus da Católica.

Ou assim contava fazer. Mal saio do edifício das Artes esbarro com uma cara conhecida. O Luís continua o mesmo: magro, com barba e sempre apressado. Pergunta-me se vou à sessão de sexta à noite, que não posso faltar. Mas que raio há de tão importante na sexta à noite? Vai apresentar a curta dele, diz-me, que tenho mesmo de ir. Deixo-o descansado: na sexta até o Junior, amigo em comum, vai! Despede-se - tem sempre muito que fazer - e marca um café para um dos dias do festival. Desisto de dar a minha volta de reconhecimento. Vou é procurar um sítio para me sentar e dar uma vista de olhos pelo programa, que isto de cobrir um certame sem saber ao que se vai não tem jeitinho nenhum.

A Católica é agradável nesta altura do ano. Encontro um banco aquecido pelo Sol e ponho-me a folhear o catálogo. Lá está o Luís Costa e o seu FONTELONGA! Foda-se, não lhe pedi uma entrevista para o blog. Enfim, alguma coisa se há-de arranjar. Recebo uma mensagem. É do Xico, outro dos amigos a estudar na área. Promete-me, também ele, um cafezinho, mas só a partir de amanhã: hoje não tem aulas. Olho novamente para o relógio. Está quase na hora da sessão das 17h00. Decido-me a encontrar a sala.

O auditório não é difícil de encontrar. Mas tenho de descer não-sei-quantos lanços de escadas com uma mala pesadíssima. Entro, escolho um lugar, e, para minha surpresa, mais um reencontro. No palco, diante de mim, uma cara conhecida das fitas nos Passos, Meca dos cinéfilos portuenses. Trocamos "olás", separados por filas de cadeiras, que o tempo não permite outras cortesias. Cabe-lhe apresentar a artist talk de Tomé Quadros, prata-da-casa e jurado nesta edição do Black & White. Fala-se de Macau, de macaístas e macaenses, do choque-transformado-em-fusão cultural, dos Dóci Papiaçam di Macau. E passa-se aos filmes, que são o que verdadeiramente importa.

O trabalho dos Dóci Papiaçam di Macau lembrou-me, quase de imediato, duas coisas: uma foi o teatro chinês, super-exagerado e altamente estilizado, de que Guerra da Mata fala em A Última Vez Que Vi Macau, seu e de João Pedro Rodrigues; a outra, a teoria da fixação do teatro, defendida por Manoel de Oliveira. Mas se a primeira é rapidamente comprovada à medida que as fitas - na sua grande maioria falsos-trailers, auto-satíricos na utilização de estereótipos e lugares-comuns - vão passando, a segunda cedo cai por terra. É que aqui o Cinema não terá tanto o objectivo fixar a obra, como de expandir, através da multimédia, a mensagem do grupo: a preservação do Patuá macaense, o crioulo local.

Reduzidos ao chiste mencionado na apresentação, os trabalhos dos Dóci Papiaçam di Macau, não obstante o seu valor na divulgação de uma identidade cultural muito própria, acabam por se reduzir à curiosidade que encerram em si, enquanto paródias assumidas. Mais interessante pareceu-me, contudo, um dos documentários do próprio Tomé Quadros - em antevisão no início da sessão -, CHÁ GORDO, sobre a prática social que reúne à mesa as famílias macaenses. Aguardo com algum entusiasmo a oportunidade de o ver.

Pausa na programação. E novo intervalo alargado. Começo a pensar no formato a dar à cobertura do festival. Que se lixe, vai ser uma crónica! Começo a desenhar, mentalmente, estas linhas. No Bar das Artes tiro da mala o fiel caderninho - companheiro de rascunhos - e escrevo não sei quantos parágrafos que sei necessitarem de séria revisão quando me apanhar no conforto de casa. Reconheço uma outra amiga (mais uma!), esta mais antiga. Não sabia que conhecia tanta a gente a estudar por estes lados. Vem na minha direcção; ainda bem, não me apetecia nada ter de me levantar para fazer o caminho contrário. Pergunta-me o que faço por aqueles lados, que decerto não estudo ali, ou já me teria visto. Mostro-lho a acreditação e falo-lhe do blog, meio orgulhoso do feito. Pá, deixa de ser parvo, a conversa não lhe interessa, penso para mim. Ela senta-se, contudo, à mesa, admiradíssima por eu editar uma página sobre Cinema. Pomos a conversa em dia, até que alguém a chama. Outro café prometido. Decido guardar o caderno e ir esticar as pernas.

Mal passo a porta que dá para o exterior cruzo-me com o Nuno Reis, do Antestreia. Ficamos a fazer horas cá fora até ao início da sessão da noite. Filmes em circuito comercial, críticos de eleição na blogosfera nacional, festivais e eventos a acompanhar, resenhas em atraso nos respectivos espaços, passam-se todos os tópicos da praxe em revista. Já não nos víamos há largos meses - desde o Fantasporto - e assunto não falta. A malta começa a entrar. Os filmes vão começar.

A edição deste ano abre com 89 MM OD EUROPY (Polónia,1993), de Marcel Lozinski, nomeado em meados da década de 90 ao Oscar de Melhor Curta-Metragem Documental. Escolha interessante. Trabalhadores dos caminhos-de-ferro a trocarem as rodas as carruagens enquanto os passageiros os observam (um deles fotografando-os). A primeira associação que vem à cabeça é o Cinema Novo, trazido pelas Novas Vagas, carregado de consciência social. Findo o filme, apresenta-se o festival e o júri deste ano. Batem-se palmas de minuto a minuto. E corta-se para os seis títulos a concurso nesta primeira leva.

WARMTH (Bielorrússia, 2010), de Victor Asliuk, é, apesar do título, um filme frio. Ambientado numa fábrica de botas, oscila entre grandes-planos fechados na cara dos trabalhadores e uma visão mais distante do vapor que preenche o espaço. Aliás, é nesse fumo ubíquo que o melhor do filme se descobre, na visão impessoal - mal contrariada pelas pessoas, próximas de ferramentas - daquele mundo industrial. Igualmente frio pareceu-me NEST (Geórgia, 2011), de Tornike Bziava. Dele destaco a solidão inicial do protagonista, um velho viúvo com um filho divorciado, e um plano extraordinariamente belo: o pai, sentado na cama, aperta a gravata ao filho, num dos gestos mais íntimos possíveis.

Bem mais alegres são THE FEAST (Alemanha, ?), de Boris Seewald, e FROM DAD TO SON (Alemanha, 2011), de Nils Knoblich. O primeiro, experimental, cola várias coreografias num espectáculo visual frenético e, diga-se com toda a justiça, feliz. O segundo, animação paralelepípeda, história de um pai agricultor com o filho preso, conseguiu deixar-me com um sorriso nos lábios, apesar das óbvias limitações técnicas.

O primeiro português a competir, Vasco Mendes, surpreendeu pela positivo. O seu FOR THOSE WHO STAY (Portugal, ?) terá sido, porventura, o melhor do dia. Muito graças aos magníficos planos em contra-luz daquele bar de aeroporto, onde a despedida é para os que não embarcam. Nem o facto de, no final, parecer um anúncio a uma qualquer marca de cerveja o prejudicou: quem filma assim merece o maior dos elogios. No pólo oposto ficou LOOKING FOR SOMETHING (PART ONE: A WINTER VISIT) (Alemanha, ?), de Fjodor Donderer, feito entre imagens granuladas e uma pretensiosa narração filosófica-ambiental. A retórica ficou, no entanto, longe de convencer.

António Tavares de Figueiredo

terça-feira, 21 de maio de 2013

The Great Gatsby (2013)

Diz uma publicação recente num espaço online português dedicado ao Cinema: «Mas atenção, não gosto de me deslumbrar com isso [efeitos especiais], nem tão pouco prestigiar um filme por essa vertente, embora claro que possa constatar o bom trabalho realizado nesse campo. Normalmente neste tipo de discussão faço um esforço e prefiro, numa perspectiva, avaliar a história e a sua adaptação, noutra, o aspecto inovador da realização. O resto é puramente acessório na maioria dos casos.». A reflexão serve de excelente ponto de partida para a análise a THE GREAT GATSBY, de Baz Luhrmann. E não é preciso muito para perceber o motivo. Ou não fosse Luhrmann um dos grandes cineastas do deslumbramento, das elaboradas encenações visuais, do bigger than life cinematográfico. E não descrevesse, também, o romance de F. Scott Fitzgerald a opulência de uma sociedade, pouco preocupada com gastos e excessos.


(Sobre a publicação, um aparte. Se é verdade que concordo com o que se escreveu no Caminho Largo - sítio de destaque na blogosfera portuguesa, editado pelos irmãos Teixeira -, também o será que reservo na minha abordagem ao Cinema um lugar mais do que «puramente acessório» para os efeitos especiais. Mesmo que os considere por vezes, exagerados e algo descabidos no contexto da história.)

Mas comecemos pela câmara de Luhrmann. Nem de propósito, escrevi há poucas semanas sobre Spring Breakers, de Harmony Korine. E nem de propósito porquê? Passo a explicar: a lógica videoclipe que Korine explode no seu girls gone wild é a mesma que serve de base ao estilo visual de Luhrmann. Claro que podemos discutir que o australiano a utiliza melhor, mais consistentemente ou de forma mais refinada - e parece-me que sim, a todas as alíneas -, mas a ideia que a sustenta não deixa de ser a mesma. A música omnipresente, os ralentis ad nauseam, a montagem, a trechos, histérica, tudo se conjuga na visão super-excitada saída (e mantida pelas) das novas MTVs.

Olhando para trás, não surpreende que Luhrmann (ainda) faça uso desses mecanismos. Primeiro, porque resultaram em filmes como Romeo + Juliet e Moulin Rouge! - Australia salta à vista como o "patinho feio" do conjunto -, naquele onanismo pop que tão bem caracteriza a sua obra; depois, porque, olhando ao que se escreveu em The Great Gatsby, seria expectável que os recursos se adaptassem à situação em causa. Mas do papel à prática a distância é, por vezes, grande demais. O romance de Fitzgerald é, já de si, tão exagerado - com as festas, as personagens, os sonhos - que, somando-lhe os artifícios deste Cinema, se torna simplesmente desmedido.

É esse exagero que esvazia a história. A exuberância histriónica dos décors, da banda-sonora anacrónica, da fotografia que se impulsiona no 3D - e lá está, de novo, o exagero - e no caleidoscópio colorido provoca um entusiasmo inebriante que distrai do argumento, tirado quase à letra do original. Não que haja nele alguma qualidade de maior - mesmo considerando a fidelidade à fonte -, mas o pouco valor possível de ser encontrado vai-se perdendo na folia. O que me leva a perguntar: será que, hoje em dia, interessa mais deslumbrar a audiência com um espectáculo visual megalómano do que com um texto inteligente e cuidadosamente pensado? Pelo que tenho visto ultimamente, começo a duvidar da resposta. Gostaria, ainda assim, de pensar que não se insulta o espectador de forma tão grave.

(Novo parêntese, agora sobre o argumento e a sua relação com o romance de Fitzgerald. Por muito que goste de The Great Gatsby - e gosto mesmo muito, ao ponto de o considerar o grande romance americano por excelência -, gosto ainda mais dos últimos capítulos, no filme resumidos em poucos minutos. Parece-me claro que não se soube muito bem o que fazer com o material à disposição. Só à luz dessa evidência se explica igualmente a necessidade de inventar um Carraway-narrador, a recuperar do alcoolismo através do reconto catártico da sua relação com Gatsby.)

Há, contudo, aspectos positivos a elogiar. A habilidade de Luhrmann chega-lhe para cobrir alguns dos defeitos da sua própria visão, imaginando algumas sequências - lembro-me, por exemplo, da within/outside de Carraway - razoavelmente inspiradas. Nenhuma, no entanto, superior ao grande plano fechado no brinde de Gatsby ao espectador, diante de um luxurioso fogo-de-artifício. Esse momento apenas, sintetizando o mundo de aparências no qual as personagens - e Leonardo DiCaprio divide-se particularmente bem entre sorrisos forçados e uma aparência de desconforto engolido - se movem, quase justifica o resto do filme.

Não se perdendo completamente, a adaptação de Luhrmann de The Great Gatsby sucumbe à obrigação de justificar o seu investimento. Naquela Nova Iorque pré-Crash, naquelas mansões separadas por uma baía, vivem-se falsas-vidas. «All New York, packed up in automobiles, went in the weekend - the all weekend - to that house». É precisamente nessas máscaras que a ideia de Luhrmann encontra maior correspondência no romance de Fitzgerald - contrastando com o simbolismo oco no qual frequentemente se deixa cair -, na solidão que Gatsby projecta mesmo entre as multidões. Numa sociedade coberta por máscaras, a de Gatsby calha apenas de ser a mais vistosa.


Título Original: The Great Gatsby (Austrália/EUA, 2013)
Realizador: Baz Luhrmann
Argumento: Baz Luhrmann, Craig Pearce (baseado no romance de F. Scott Fitzgerald)
Intérpretes: Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire, Joel Edgerton, Elizabeth Debicki, Isla Fisher, Jason Clarke
Música: Craig Armstrong
Fotografia: Simon Duggan
Género: Drama, Romance
Duração: 142 minutos


domingo, 19 de maio de 2013

Sunday Stills #37: "Offside"



Num dia em que os olhos do país estão voltados para dois jogos de futebol, escolhemos recordar que o desporto tem uma dimensão que não se fica pelo jogo tout court. No novo milénio, ninguém o terá exemplificado melhor do que Jafar Panahi, com o seu OFFSIDE. A luta das mulheres contra a exclusão social começa, afinal, pelo jogo que só admite homens na bancada.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Photo (2012)

Creio que Carlos Saboga não podia ter escolhido melhor altura para se lançar na realização. Aos 76 anos, e depois de escrever para nomes como Jorge Paixão da Costa, Fernando Lopes, António-Pedro Vasconcelos, Mário Barroso - que aqui lhe devolve o "favor", fotografando-lhe a estreia - e Raoul Ruiz, experiência não lhe falta para saber o que deve, e quando, arriscar. Não se estranha, portanto, que se verifique em PHOTO a mesma atenção ao detalhe e às personagens secundárias que marcou - ainda marcará? - os seus argumentos para outros autores.


Abre o filme em Paris, e logo uma morte. Um corpo num quarto muito escuro, iluminado por uma esfera luminosa. Quando a filha aparece, uma outra mulher - a empregada? a amante? - diz-lhe que a mãe pediu para que se queimem todos os papéis e fotografias deixados. Lá vai a rapariga explorar o espólio, nova esfera iluminada no fundo, e eis que encontra umas fotografias de um grupo de rapazes portugueses, datadas de 1970-e-troca-o-passo. E um postal de um desses exilados demonstrado à francesa a vontade de assistir ao parto da filha. Corte para o velório, com o quarto ainda mais escuro - e a mesma esfera luminosa -, e um homem mais velho, o agora pai adoptivo, a colocar paternalmente a mão no ombro da filha. A descrição não lhe faz a justiça devida, mas a primeira vinheta demonstra que Saboga - auxiliado pela extraordinária direcção de fotografia de Barroso - percebe o que faz. O mosaico que constrói, introduzindo personagens - algumas desnecessárias, diga-se de passagem -, revela o que de melhor continua a haver no trabalho de Saboga: o argumento cuidado.

As peças parecem encaixar exactamente no sítio certo, sem nunca fugirem ao lugar que lhes é reservado. E a câmara corta as cidades em travelling, enquanto se ouve, em voz-off, um italiano pedinchão que quer Elisa de volta a Roma. Não cede, e chegada ao destino - um tal jardim à beira-mal plantado -, põe-se à procura do pai biológico que a mãe lhe tentou esconder.

Mas, no fundo, não passa tudo de um pretexto de Elisa para fugir ao namorado italiano que a pediu em casamento. O whodunnit parental, que depressa dá lugar - e o pai adoptivo bem diz à filha não ter qualquer interesse em entrar no «melodrama grotesco (...) do falso-pai, suposto pai e pai substituto» - ao criminal, e que a traz a Portugal poderia muito bem tê-la levada a um outro país qualquer. Ou mesmo ficar-se por Paris, nas margens do Sena. O espaço geográfico torna-se, assim, irrelevante - salvo o contexto sócio-político salazarista, é claro - a partir do momento em que se percebe que há ali alguém a evadir-se do presente. E que para isso está disposta a viver «entre fantasmas» - quase ao ponto de se tornar ela própria num - de um passado assombrado.

De resto, saltam à vista algumas semelhanças - temáticas, espaciais e temporais - entre Photo Night Train to Lisbon, de Bille August. Não deixa de ser curioso que após anos a empurrar a questão para o canto, estreiem em sala separados por menos de dois meses dois filmes - sem considerar para o efeito Operação Outono, de Bruno de Almeida, de finais do ano passado - que abordam de forma mais ou menos aberta as atrocidades cometidas durante o Estado Novo. E que sejam dois estrangeiros - Elisa e Raimund, respectivamente - a colocar o dedo na ferida. Nas mãos e no espírito partido de antigos prisioneiros, na culpa provocada pelas denúncias forçadas, em inspectores desajustados da realidade actual - Rui Morrison, a melhor personagem da estória? - que choram ao encontrar os seus "filhos" massacrados. Tanto num como no outro caso, mesmo admitindo que em Night Train to Lisbon a representação dos efeitos causados pelos encontros com a PIDE é mais explícita, o passado não-tão-distante que se projecta na tela custa a digerir.

No fim, restam apenas fragmentos: do tempo, da verdade, da mentira, das próprias fotografias que dão o título ao filme. Saboga estilhaça a memória dos intervenientes, confunde factos e versões, mistura traições com o amor. E fá-lo com tamanha leveza que quase se perdem as subtilezas no subtexto. Veja-se, por exemplo, a magnífica mise-en-abyme que coloca Elisa a ver-se grávida de si mesma num auto-retrato da mãe.

Para terminar, que estas linhas já vão longas, três breves notas: 1) aos 76 anos, Carlos Saboga soube contrariar a ansiedade característica de uma primeira direcção, evitando o atropelo de ideias; 2) igualmente impressionante é a sensualidade que consegue imprimir, a espaços, num filme pontuado pela morte; e 3) por uma questão de justiça para com o filme de August acima mencionado - já por cá pontuado -, Photo leva também da minha parte oito câmaras, ainda que o tenha achado ligeiramente superior (mas não o suficiente para lhe subir a classificação). A primeira fita de Saboga fica, desde já, a pedir uma segunda. E nós agradecemos.


Título Original: Photo (França/Portugal, 2012)
Realizador: Carlos Saboga
Argumento: Carlos Saboga
Intérpretes: Anna Mouglalis, Simão Cayatte, Johan Leysen, Marisa Paredes, Rui Morrison, Didier Sandre
Fotografia: Mário Barroso
Género: Drama
Duração: 85 minutos