quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Flight (2012)

Robert Zemeckis decidiu finalmente responder a quem o acusava de estar cada vez mais distante da realidade. Depois de uma década sem dirigir actores - trabalhou as suas vozes e movimentos, faltando a presença física - e do departamento de animação do seu estúdio ter encerrado portas, volta às lides com FLIGHT, estudo de personagem baseado no talento de Denzel Washington.


Assumindo logo que Zemeckis é um realizador de filmes familiares - as suas obras mais aclamadas são também as mais simpáticas e aconchegantes -, pode-se estranhar que tenha escolhido esta estória em particular para marcar o seu regresso. Terá sido uma outra tentativa, mais extrema, de se aproximar da tal realidade que lhe andava fugida - ou da qual tentou escapar durante anos a fio - desde Cast Away. E para um cineasta que sempre confiou bastante na vertente Fantástica das suas fitas - viagens no tempo, bonecada a interagir com detectives mal-humorados, lendas nórdicas e espíritos vingativos - Flight constitui um choque ainda maior. Não que, em si, seja menos acessível do que os seus trabalhos anteriores, mas significa uma quebra acentuada em relação à habitual dimensão imaginada dos seus filmes. Isto além, é claro, de restringir a faixa etária habitualmente atraída pelo norte-americano.

Mas o afastamento da sua zona de conforto traduz-se igualmente na falta de à-vontade com Zemeckis  trata o material que tem em mãos. Longe do brilhantismo, continua um tarefeiro capaz, construindo bons momentos de Cinema - a queda do avião é especialmente impressionante - e outros mais comezinhos que cumprem a função de não o comprometer. A estranheza em relação ao carácter da história manifesta-se também na necessidade de confiar sem reservas no seu protagonista, mais experiente no modelo abordado. Flight gravita, assim, em torno de Denzel Washington, roubando espaço às outras personagens. Cenas como a entrada de John Goodman ao som de Sympathy for the Devil ou a do consumo de cocaína tornam-se demasiado periféricas face ao foco central da história, reduzindo-se (injustamente) a meros apontamentos dentro do filme.

Concluí-se que Flight foi pensado para os prémios da indústria. Zemeckis, academista como nunca, estrutura-o de modo a facilitar a consideração e maximizar o número de galardões passíveis de serem conquistados. Andam todos à procura dos cobiçados homenzinhos dourados - produtores, realizador e actores -, por isso não será de estranhar que se desenterrem do livro todos os lugares-comuns do género. Não errando o alvo por muito, no fim fica-se com um pastel emocional e moralista que, não sendo particularmente entusiasmante, cumpre o seu objectivo. Falha, sobretudo, por abusar do sentimentalismo, da previsibilidade da acção com que se guia.


Título Original: Flight (EUA, 2012)
Realizador: Robert Zemeckis
Argumento: John Gatins
Intérpretes: Denzel Washington, Kelly Reilly, Bruce Greenwood, Don Cheadle, John Goodman, Melissa Leo, Nadine Velazquez
Música: Alan Silvestri
Fotografia: Don Burgess
Género: Drama
Duração: 138 minutos



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