quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

The Sessions (2012)

Porque a sexualidade não tem de ser um bicho-de-sete-cabeças.

Alguém chamou a THE SESSIONS o «festival hit of the year». Foi vendido em Sundance por seis milhões de dólares e conquistou a crítica à sua passagem. Gerou-se a ideia de que poderia haver algo de especial em relação ao filme e o mercado foi-se alargando. A curiosidade nasceu, talvez, do compromisso dos envolvidos para com a história e da delicada honestidade com que a tratam. O que equivalerá a escrever que a câmara de Ben Lewin é das mais sensíveis do último ano, carregada de força e emoção.


Recusa-se cair no sentimentalismo oco ou retratar a personagem paralisada como um coitadinho. A responsabilidade - sentida, sobretudo, por Lewin e John Hawkes - de caracterizar Mark O'Brien como alguém resistente, um lutador dono de um sentido de humor desenvolvido que lhe permite lidar com a sua condição, é cumprida. É essa simplicidade de processos, essa vontade de não vitimizar as personagens, que mais se destaca em The Sessions, que, não sendo um filme particularmente excelente, surpreende pela seriedade que consegue sempre conservar, apesar da leveza narrativa com que é abordado.

Mas deixa algo a desejar. Na tentativa de se distanciar de outros dramas, mais sérios, protagonizados por gente presa no seu próprio corpo - e a última década foi fértil neles, com os superlativos Mar adentro e Le scaphandre et le papillon - perde um pouco o rumo e, infelizmente, tropeça nuns quantos lugares-comuns. O pároco que debita pérolas de sabedoria que mais parecem saídas de um bolinho-da-sorte ou o último sermão, com toda a gente reunida na igreja, serão exemplos de um lista maior do que o desejável. Não que o filme não tenhas as suas qualidades - as interpretações de Hawkes e Helen Hunt, confortável como poucas outras actrizes com a (sua) nudez, contam-se entre as mais evidentes -, mas as suas escorregadelas baixam-lhe a fasquia para níveis perto da mediania, longe do que poderia ter sido.

No fim, acaba-se com uma fita simpática e competente, mas pouco mais que isso. O poeta enclausurado troca o caixão de metal - que encerrava, por sua vez, um outro caixão, esse de carne e osso - por um que lhe permite a liberdade com que sempre sonhou. Se fica potencial por aproveitar? Sim, mas sobra também a certeza do carinho com que Lewin - ele próprio um sobrevivente da poliomielite, a doença que afectou O'Brien - trabalhou o material em mãos, sempre consciente das suas fragilidades e de como as ultrapassar. E é exactamente esse carinho que transforma The Sessions num filme agradável e fácil de ver. As coisas são como são. Resta-nos saber tirar o melhor partido delas.


Título Original: The Sessions (EUA, 2012)
Realizador: Ben Lewin
Argumento: Ben Lewin
Intérpretes: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, W. Earl Brown, Robin Weigert
Música: Marco Beltrami
Fotografia: Geoffrey Simpson
Género: Drama
Duração: 95 minutos



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