domingo, 27 de maio de 2012

The Tree of Life (2011)

Seria difícil para The Tree of Life usufruir de uma passagem pelas salas de cinema livre de controvérsia. Primeiro, porque o trailer já dava para perceber, pelo menos em parte, o que estava para vir. Segundo, porque apesar de ter ganhado a Palme d'Or em Cannes, metade do público vaiou a decisão do júri em lhe conceder o prémio. Em Itália um cinema projectou o filme na ordem errada durante uma semana, embora sem queixas por parte do público, que julgava tratar-se apenas do estilo de edição vanguardista escolhido por Malick. Nos EUA alguns cinemas viram-se obrigados a colocar avisos sobre a narrativa não-linear da fita quando demasiados clientes confusos começaram a sair a meio e a exigir o reembolso dos bilhetes. Sean Penn, numa entrevista ao periódico francês Le Figaro, admitiu não ter percebido o rumo que Malick pretendeu dar à sua personagem. É assim The Tree of Life, tão fácil de gostar quanto de odiar.

Alguns filmes são assim. Ponto final, parágrafo. No caso de Terrence Malick, tem sido assim a sua carreira. Ave rara numa indústria onde todos os outros ganham a vida a dar a cara e a posar para as objectivas dos fotógrafos, por esta altura o cineasta norte-americano assume-se como um dos últimos verdadeiros perfeccionistas numa arte que cedo se rendeu ao dinheiro e à fama. Malick é um génio, amiúde incompreendido por quem não se quer ao trabalho de tentar entender a sua visão. E The Tree of Life não passa disso mesmo: a sua visão espiritual, a espaços até mesmo religiosa, sobre a vida, a criação, a morte e a (sua) infância.

Pelos olhos de Jack, ora jovem, ora envelhecido, vai-nos sendo mostrado o Mundo de Malick. A sua crença. A sua descrença. A sua família. Criado numa pequena cidade rural no Texas dos anos 50, Jack é o mais velho de três irmãos. Nos seus pais vê as duas facetas de um Deus habituado a adorar: na mãe, o Deus benevolente, no pai, o Deus austero. É nesse ambiente de eterno conflito, tanto interno, como externo, que a inocência de Jack é perdida em actos cada vez maiores e mais graves.

Brad Pitt tem em Mr.O'Brien, o pai, um dos papéis mais interessantes da sua preenchida carreira. Agressivo e austero, pensa que nada na vida é livre de custo e que os bons não estão talhados para ter sucesso. O que não significa que seja mau pai. Jack é interpretado por Sean Penn e por Hunter McCracken, como adulto e jovem, respectivamente. O primeiro tem insuficiente tempo de ecrã para causar qualquer impressão que seja no espectador, o segundo é absolutamente espantoso na pele da sua personagem. E depois há Jessica Chastain. Deslumbrante, a actriz californiana vai roubando todas as atenções para si, tornando impossível ignorá-la sempre que aparece em cena. Dos protagonistas adultos, é ela a que mais se destaca. Tecnicamente, a fita é um manual de cinema, um prodígio dos tempos modernos. A fotografia de Emmanuel Lubezki, nomeada para o Oscar, é simplesmente incrível. Os efeitos visuais utilizados seguem a mesma linha (Malick pediu ajuda a Douglas para os idealizar). A música capaz de conferir à película o carácter épico, quase operático, pretendido. Tudo unido por uma realização que surge próxima da perfeição, com Malick a conseguir de alguma forma impor ordem na sucessão caótica de imagens e planos.

A criação do Universo. O aparecimento da Terra. O nascimento da compaixão. A crença. A descrença. A vida no Texas rural dos anos 50. Tudo em pouco mais de 2 horas de filme. The Tree of Life é a magnum opus de Terrence Malick, simultâneamente simples e complexa na sua essência, incapaz de deixar quem quer seja indiferente depois de a ver. O director de fotografia diz que Malick tem mais seis horas de filmagem, e que pode editar um Director's Cut de quase seis horas que explore melhor a história do filme. O principal problema que se coloca é se haverá alguém com paciência para o ver. Acho que sim. À partida, já se sabia que a Academia dificilmente lhe entregaria qualquer prémio, preferindo de longe escolhas mais seguras e consensuais entre o grande público. «Onde estavas Tu?» - a frase que abre o filme é também a ideal para o fechar. Merece ser recordado? Sim! Porque o Cinema não se faz só de bilheteiras e prémios.


Título Original: The Tree of Life (EUA, 2011)
Realizador: Terrence Malick
Argumento: Terrence Malick
Intérpretes: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Hunter McCracken, Laramie Eppler, Tye Sheridan
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Género: Drama
Duração: 139 minutos



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