Toda a premissa de uma história de super-heróis baseia-se no factor moralidade da personagem que obtém os poderes sobre-humanos, ou seja, que os usará para combater as injustiças e o crime. Claro, tal factor nunca é muito explorado e simplesmente supõem-se que se trata de uma personagem de bom carácter que só pensa em praticar boas acções, excepto se for o vilão, que apenas vive para a destruição sem sentido e o caos. Chronicle, de Josh Trank, vem por de parte todas essas suposições e trás ao de cima uma nova - e se um grupo de adolescentes normais, nos tempos actuais, recebessem um conjunto de habilidades telecinéticas que lhes permitisse fazer o impossível? Seria muito difícil de imaginar o pior?
Andrew (Dane DeHaan) é um típico jovem socialmente desajeitado, cujo as únicas amizades se resumem a Matt (Alex Russel), um primo complacente, e pertence a uma família disfuncional, onde o pai é um reformado bêbedo que liberta as frustrações no filho e a mãe incapacitada com uma doença terminal. Quando é quase forçado a ir a uma festa pelo primo, os dois acompanhados por Steve (Michael B. Jordan) encontra um buraco suspeito no meio dos bosque, no qual entram e encontram um artefacto que lhes atribui a capacidade de controlar objectos com a mente. Abrem assim a porta para alcançar o impossível, tudo nas mãos de adolescentes emocionalmente instáveis.
Não há muitos filmes do estilo found footage que se possam considerar bons, desde Blair Witch Project tem sido um género em ascensão e como o já mencionado não foi algo que me agradou, tenho, por hábito, baixas expectativas. No entanto, este foi uma agradável surpresa. Estive disposto a descartar a ideia de um adolescente, que não é portador de grandes fundos monetários, possuir uma câmara de filmar de 500-700$, para mim é a grande falha em todo o enredo. Mas, isso à parte, é um filme bastante realista, leva a sério todo o dilema de o que fazer se por mero acaso se ganha super poderes, e sinceramente seria difícil acreditar que a primeira ideia a vir à cabeça seria combater o crime, não, aliás neste filme tal ideia nem chega a ver a luz do sol. Em vez disso, limitam-se a praticar e usar os poderes para pregar partidas inofensivas e divertirem-se, como adolescentes normais fariam. Resumindo, o argumento consegue ser bastante cuidadoso, não revela a mais nem a menos, toda a origem e identificação do artefacto que as personagens encontraram é mantida na escuridão de modo a dar a sensação de realidade, a juntar o facto de ser tudo apenas imagens que foram gravadas com uma câmara de mão por um grupo de amigos. As actuações também são bastantes boas, tanto que realmente senti empatia por algumas delas, e todo o ambiente trágico do inevitável fim torna-se bastante credível. Os efeitos especiais, são óptimos para o pretendido e tendo em conta o baixo orçamento, foi uma grande conquista, não chegam a ser muito extravagantes durante maior parte do filme, mas o suficiente para manter o público entretido e intrigado.
O tema inclinado para os super-heróis, e visto que é algo contado do ponto de vista de adolescentes, é perfeito para um público alvo mais jovem e consegue recriar atitudes e comportamentos típicos de uma vida sem grandes responsabilidades nem consideração pelas consequências, ainda mais quando se deixam governar pelas emoções e hormonas instáveis, o que naturalmente costuma dar mau resultado. Em retrospectiva, acho que nem as sábias e inspiradoras palavras de Ben Parker conseguiriam incutir algum bom senso na cabeça das personagens.
Finalmente, é um filme a ver, sem dúvida, óptimo conceito, excelente argumento, e acima de tudo uma execução impressionante. Com a pouca afluência de qualidade nos filmes do género, este sim, é uma lufada de ar fresco, digno de umas quantas visualizações.
Realizador: Josh Trank
Argumento: Max Landis; Josh Trank
Intérpretes: Dane DeHaan; Alex Russel; Michael B. Jordan; Michael Kelly; Ashley Hinshaw; Bo Petersen; Anna Wood
Fotografia: Matthew Jensen
Género: Ficção-Cientifica, Thriller; Drama
Duração: 84 minutos
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