segunda-feira, 2 de julho de 2012

Restless (2011)

Ao contrário do grosso de cineastas que tentam explorar a perda da inocência das suas personagens, Gus Van Sant tenta, acima de tudo, preservá-la. A primeira opção é quase sempre a mais fácil, mas os grandes cineastas podem dar-se ao luxo de explorar a outra via e criar verdadeiros hinos à catarse. Restless é exemplo disso mesmo, misto de alegria juvenil e sentimentalismo latente. Juntar um rapaz obcecado por funerais (Henry Hopper) a uma rapariga com um cancro em fase já terminal (Mia Wasikowska) só poderia dar nisso, mesmo que pelo meio exista o fantasma de um piloto japonês (Ryo Kase) que, por vezes, parece existir apenas pela sua própria vontade. Não que o resultado final não seja fascinante, até porque o é, mas esperar algo diferente seria irrealista.

A geração de cineastas independentes que surgiu durante os anos 80 foi pródiga em gente capaz de fazer sua toda a dor do mundo e disfarçá-la debaixo de camadas e camadas de simbolismo, por vezes, obscuro. Do rapaz que perdeu os pais num acidente de carro e se vê limitado pelos fantasmas que cria à rapariga com três meses de vida e uma mãe alcoólica é difícil evitar pensar que mal terão feito os protagonista de Restless para sofrerem o destino que Jason Lew e Gus Van Sant lhes decidiram dar. A verdade é que más coisas acontecem a gente boa mais frequentemente do que seria desejável, e que ambas as personagens, por muito mal que se encontrem, continuam a ter pessoas que se preocupam com elas.

Belo? Claro. Idílico? Também. Perfeito? Não. As falhas no argumento multiplicam-se e acaba por não se perceber se o fantasma do kamikaze que Enoch vê é real ou produto da sua imaginação. Perto do final, Annabel também diz ser capaz de o ver, mas, mais uma vez, resta saber se não passou de um artifício para aliviar a ansiedade do namorado em relação à sua iminente partida. Restless acaba, no entanto, por ser um interessante exercício de cinema, sendo capaz, no momento próprio, de troçar do melodrama em que por vezes quase cai. A banda sonora (fantástica escolha de cantigas, e uma das próximas a servir de playlist no meu leitor de música) e a fotografia pouco saturada ajudam à atmosfera lírica da película, não atrapalhando o efeito pretendido por Van Sant. Seja como for, Restless faz bem à alma, mesmo que, no fundo, pareça o feel good de todo um rol de filmes coming-of-age.


Titulo Original: Restless (EUA, 2011)
Realizador: Gus Van Sant
Argumento: Jason Lew
Intérpretes: Henry Hopper, Mia Wasikowska, Ryo Kase, Schuyler Fisk, Jane Adams
Música: Danny Elfman
Fotografia: Harris Savides
Género: Drama, Romance
Duração: 91 minutos



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