quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lincoln (2012)

É impossível negar que grande parte da carreira de Steven Spielberg se encontra intimamente ligada - e vice-versa - ao Cinema norte-americano produzido desde o último quarto do século XX. Cineasta que se desmultiplica em géneros - quer como realizador, quer como produtor -, Spielberg nunca teve medo de assumir o risco nas suas obras. Curiosamente, ou talvez nem tanto, LINCOLN não será dos seus projectos mais atrevidos, revelando-se, no entanto, um dos melhores a sair da sua câmara neste novo milénio.


Recriação das semanas que levaram à promulgação da Emenda que extinguiu a escravatura nos EUA - e dos meios pelos quais se obtiveram os votos necessários -, na altura em guerra civil, Lincoln cedo demonstra, através de um primeiro - e, para todos os efeitos, último - plano de batalha, lamacento e confuso, a sua superioridade técnica em relação às habituais alternativas do género. A magnífica direcção de fotografia de Janusz Kamiński, aliada às irrepreensíveis direcções de arte e figurino, capta na perfeição o ambiente da época, abundante em sombras e tons esmaecidos, e imerge o espectador na narrativa. O trabalho iniciado na imagem - e, nesse sentido, a direcção de Spielberg é muito segura, guiando o filme cuidadosamente por  enquadramentos e cortes - é complementado pela sonoplastia, com a banda-sonora de John Williams a alternar magistralmente entre estados de espírito e de humor. De resto, a competência de Lincoln a nível dos vários departamentos faz dele um excelente filme de época e principal candidato aos prémios - leia-se, Oscars - que se avizinham.

Mas, e apesar da inegável qualidade técnica, o melhor do filme concentra-se no elenco. Daniel Day-Lewis, discutivelmente o actor mais talentoso da sua geração, volta a compor uma personagem como só ele sabe, transformando-se completamente em Lincoln; do discurso aos maneirismos, a metamorfose é verdadeiramente espantosa. Fica-se com um Presidente carismático, amado pelo povo - a mulher chega a dizer-lhe, em tom de aviso, « No one is loved as much as you by the people.» -, e líder dos seus, muito bem secundado, sobretudo, por Sally Field e Tommy Lee Jones.

Spielberg volta a apostar no Drama, terreno por onde se tem movido com mais frequência nas últimas décadas - e que lhe tem valido muitos galardões -, como forma de relembrar a História - no mesmo ano em que Quentin Tarantino tentou um resultado semelhante com o seu Django Unchained - e despertar reflexões. E fá-lo através de um filme imenso - tanto na mensagem como na duração -, apelando ao lado emocional do público como poucos o sabem fazer. Lincoln, à imagem da personagem epónima, não surge livre de falhas e defeitos; antes, sabe jogar com elas e contorná-las, evidenciando o que tem de melhor. Aconselhado como um dos melhores de 2012 e prova de como Hollywood ainda não se perdeu definitivamente.


Título Original: Lincoln (EUA, 2012)
Realizador: Steven Spielberg
Argumento: Tony Kushner (baseado, em parte, no livro de Doris Kearns Goodwin)
Intérpretes: Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, John Hawkes, Hal Holbrook, Jackie Earle Haley, Jared Harris, Lee Pace
Música: John Williams
Fotografia: Janusz Kamiński
Género: Biografia, Drama, Histórico
Duração: 150 minutos


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Trailer de "Upside Down"

Romance sci-fi, Upside Down já tem trailer. O filme, protagonizado por Kirsten Dunst e Jim Sturgess, não tem ainda, contudo, data de estreia prevista para Portugal.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

The Woman in Black (2012)

THE WOMAN IN BLACK, de James Watkins, tenta dar nova vida a um género quase morto, com um ambiente gótico e antigo que demonstra ser eficaz no aumento da tensão e suspense. Com Daniel Radcliffe no papel principal, mostra-nos como o jovem actor amadureceu desde a saga de Harry Potter, ainda que não seja no seu potencial máximo.


Arthur Kipps (Daniel Radcliffe), um advogado e pai víuvo, é enviado para tratar de assuntos legais relativos à mansão Eel Marsh. Logo de inicio não bem aceite na vila onde fica hospedado e após ver uma mulher misteriosa nas redondezas da mansão coisas assombrosas começam a acontecer às crianças da vila.

Uma típica história de fantasmas que, surpreendentemente, pouco desenvolvimento tem. O foco excessivo em tentar assustar o público não deixa espaço para qualquer tipo de enredo misterioso. Nem os desempenhos por parte do elenco têm ênfase suficiente para tornar tudo mais interessante, com diálogos reduzidos e participações que pouco ou nada acrescentam ao que se passa. Todos os cenários me pareceram pouco significantes, quando a sua obscuridade deveria realçar o ambiente sombrio de um filme do género. Num modo geral, poucas são as coisas que realmente brilham neste filme, nomeadamente todo o estilo gótico da casa de Eel Marsh, onde grande parte da acção se passa, que poderia ter sido mais explorada. Depois temos Radcliffe, que parece empenhado no seu papel mais sério de um advogado viúvo e pai solteiro que corre o risco de vir a ser despedido, uma personagem que mesmo sendo o protagonista parece que apenas está lá para contar a história do espírito que assombra a aldeola e pouca importância dão ao seu próprio desenvolvimento pessoal.

Não se perde muito em The Woman in Black, se gostarem de estar constantemente agarrados à cadeira com a antecipação do próximo susto, então este será o filme para vocês. No entanto, se procuram algo com mais profundidade e mais coeso, então talvez não será a melhor escolha, pois tal como a mansão Eel Marsh, este filme é extremamente enevoado.


Título Original: The Woman in Black (Reino Unido/Canadá/Suécia, 2012)
Realizador: James Watkins
Argumento: Jane Goldman (baseado no romance de Susan Hill)
Intérpretes: Daniel Radcliffe; Ciarán Hinds; Jessica Raine; Liz White; Daniel Cerqueira; Misha Handley
Música: Marco Beltrami
Fotografia: Tim Maurice-Jones
Género: Terror, Thriller
Duração: 95 minutos


Entre Djangos

De Corbucci a Tarantino, de Nero a Foxx, muitas são as diferenças entre os Djangos. Uma delas - porventura das mais insignificantes - resume-se à cor dos capuzes usados pelos acólitos do vilão.



Stills de DJANGO (1966), de Sergio Corbucci, e de DJANGO UNCHAINED (2012), de Quentin Tarantino - com crítica já publicada neste espaço, pela pena do Wladimir Jr. Ribeiro -, respectivamente.

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Ou então vai-se buscar uma imagem a THE BIRTH OF A NATION, de D.W. Griffith, origem - revelada através de uma entrevista em que Tarantino afirmou odiar John Ford pela sua opção de encarnar um dos cavaleiros brancos no filme de Griffith - da tal cena de DJANGO UNCHAINED acima ilustrada. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tucker and Dale vs Evil (2010)

Uma abordagem diferente, e curiosamente agradável , ao género de terror slasher com um desenvolvimento improvável de coincidências catastróficas. TUCKER AND DALE VS EVIL, de Eli Craig, eleva a fasquia das paródias de terror e traz-nos uma visão infeliz da vida de dois saloios com quem a sorte não se cruza. Surpreendentemente, esta comédia proporciona o público com um tempo bem passado, acompanhado de piadas à volta de clichés, acidentes e as mutilações que tanto nos diverte.


Quando Tucker (Alan Tudyk) e Dale (Tyler Labine) decidem passar umas férias na nova casa de férias de Tucker, um grupo de jovens universitários também se encontra a caminho do mesmo bosque para acampar. Durante uma sessão de pesca nocturna de Tucker e Dale, uma das universitárias, Allison (Katrina Bowden), sofre um acidente e Dale vai em seu auxilio, o despoleta um mal entendido com o grupo de universitários que agora julgam estar a lidar com uma dupla de saloios homicidas. Infelizmente, sempre que tentam dar a volta à situação as coisas só pioram.

Não se trata de algo com um calibre excedente mas é um bom pedaço de comédia. Todas as piadas são muito bem executadas, não só no diálogo mas também nas situações caricatas que vão surgindo. As desventuras da dupla de protagonistas são de certeza inéditas, pelo menos inseridas neste género, e o culminar de acontecimentos presentes e passados mudam drasticamente a ideia inicial que o público cria dos antagonistas e as supostas vitimas no terror slasher. Nesta confusão de mal-entendidos apenas uma das personagens parece ter algum tipo de raciocínio lógico por detrás de tudo e como seria de esperar essa é rapidamente despachada, e apenas outra sofre algum tipo de desenvolvimento, ainda que seja uma mudança exponencial. Em geral, não passam de desempenhos medianos suficientes para não estragar tudo, o que já nem é mau de todo e permite que o filme mantenha uma qualidade bastante boa. Sendo esta a estreia de Eli Craig na cadeira de realizador numa longa-metragem, até nem se safou nada mal.

Para aqueles que apreciam uma boa paródia de filmes de terror como Scary Movie, este filme não irão querer perder. Tucker and Dale vs Evil promete divertir o público, numa época onde o melhor que se pode tirar do terror são apenas umas valentes gargalhadas.


Titulo Original: Tucker and Dale vs Evil (EUA/Canadá, 2010)
Realizador: Eli Craig
Argumento: Eli Craig; Morgan Jurgenson
Intérpretes: Tyler Labine; Alan Tudyk; Katrina Bowden; Jesse Moss; Philip Granger; Brandon Jay McLaren; Christie Laing
Música: Mike Shields
Fotografia: David Geddes
Género: Terror, Comédia
Duração: 89 minutos



Banda Sonora: "The Hunger"

Bela Lugosi Is Dead, de Bauhaus.




Música que abre The Hunger, de Tony Scott, numa fabulosa sequência inicial - das melhores da carreira do britânico -, Bella Lugosi Is Dead, da banda de Peter Murphy, tornou-se um marco da cultura gótica. Recorde-se, pois, Catherine Deneuve e David Bowie a escolherem as suas próximas presas num clube nocturno ao som de Bauhaus. E, já agora, o próprio filme, pérola muitas vezes ignorada na obra de Scott.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Django Unchained (2012)

A mais recente obra-prima de Quentin Tarantino não deixa nada por contar, não tem limites e deixa qualquer um preso à cadeira do inicio ao fim. DJANGO UNCHAINED possui tudo que se podia esperar de um filme do Tarantino, violência extrema, personagens caóticas, uma visão obscura e realista de um tema taboo e um estilo de realização e originalidade que apenas Tarantino nos pode proporcionar. A espera foi grande e o resultado compensa e satisfaz todos os desejos depravados dos fãs de Tarantino enquanto nos injecta com uma lição moralista e bastante directa.


Pessoalmente já aguardava esta estreia com imensa ansiedade e dela esperava grandes coisas, felizmente não me desiludiu e até ultrapassou as expectativas. A caracterização das personagens e o desempenho dos actores são óptimas, a destacar Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio, cujas personalidades se contrabalançam na perfeição, um caçador de prémios que despreza a escravidão, é calmo e inteligente, e o dono de uma grande plantação que ganha a vida com lutas entre escravos, que por sua vez é mentalmente instável e narcisista. Depois temos Jamie Foxx que mostra do que é capaz e dá vida ao protagonista vingativo e determinado, Django, com um desempenho ao qual se deve dar grande mérito, num papel que muitos teriam grandes dificuldades em desempenhar, Foxx vai para além do que seria de esperar.

Django (Jamie Foxx) é comprado, à força, por Dr. King Schultz (Christoph Waltz) que acaba por lhe oferecer a liberdade. Esta dupla junta-se para apanhar e matar criminosos durante o inverno após o qual partem para salvar a mulher de Django, Broomhilda (Kerry Washington), das mãos de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um magnata das lutas de mandigos que dificilmente dá o braço a torcer.

Django Unchained é divertido de ver, facilmente nos apercebemos que muitos dos actores também se divertem nos papeis que desempenham, uma junção de comédia sem consideração por quem possa ofender, acção sangrenta e destrutiva e uma pitada de romance e heroísmo. Nem todos poderão apreciar o filme pelo que ele realmente é, uma crítica assertiva a uma das épocas mais cinzentas dos Estados Unidos, e poderão ficar ligeiramente ofendidos. Isto é uma das coisas que temos que admirar em Tarantino, a sua capacidade inigualável de não ter qualquer tipo de preocupação pelo que possam vir a achar do seu projecto e o faz como quer e bem lhe apetece, apenas quer transmitir a sua mensagem à sua maneira. E como seria de esperar, Tarantino dá o ar da sua graça com uma aparição breve no filme e ainda que não acrescente nada à narrativa, continua a ser uma adição engraçada aos seus filmes.

Posso garantidamente afirmar que é um grande começo de ano para o cinema. Já com algumas nomeações para os Oscares, aqui no Matinée temos os dedos cruzados para que algum vá para Django Unchained, pois é merecido. Escusado será dizer que se trata de um filme a não perder, teve estreia nacional na passada quinta-feira, e este é um filme que irão querer ver numa sala de cinema pelo menos uma vez. 


Título Original: Django Unchained (EUA, 2012)
Realizador: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Intérpretes: Jamie Foxx; Christoph Waltz; Leonardo DiCaprio; Kerry Washington; Samuel L. Jackson; James Remar
Fotografia: Robert Richardson
Género: Aventura, Acção, Drama, Western
Duração: 165 minutos




Sunday Stills #22: "Nuit et brouillard"



Fotograma de NUIT ET BROUILLARD, de Alain Resnais. Na data em que se recorda a libertação do campo de concentração Auschwitz, o documentário de Resnais assume-se como o meio perfeito para não esquecer as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Obrigatório como poucos outros filmes.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Lo imposible (2012)

Não são raros os casos em que um trailer é capaz de tirar ao espectador a vontade de ver o filme. Principalmente os que revelam toda a narrativa assim de chofre, manchando a necessidade de descoberta geralmente associada ao Cinema. Quem tivesse visto o material promocional de LO IMPOSIBLE saberia à partida que a família da história seria separada pelo tsunami do sudeste asiático e que andariam durante o filme todo uns à procura dos outros, apenas para se reencontrarem no final. E seriam todos mais felizes e humildes pela experiência vivida, não fosse essa a habitual formulação do género. E, efectivamente, é isso que ali se passa, sem tirar nem pôr. Há, contudo, algo mais a escrever sobre a nova fita de Juan Antonio Bayona.


O espanhol guia o seu segundo filme - depois do curioso El orfanato, que versava também a separação de uma família - com segurança, apesar da dimensão do projecto; toma-lhe as rédeas e confirma o talento que se lhe tinha detectado no título anterior. De forma mais ou menos surpreendente, faz das melhores utilizações recentes da câmara trémula - cuja utilização encontra em Lo imposible o sentido que normalmente lhe falta -, alternando-a eficazmente com planos estáveis e travellings bem encaixados. A direcção fluída de Bayona retira o melhor dos actores - Naomi Watts e Tom Holland misturam quase na perfeição vulnerabilidade e força; Ewan McGregor tem uma das suas interpretações mais sólidas dos últimos anos, capaz de tornar uma simples chamada para casa num dos momentos cinematográficos mais tocantes do ano -, que se superiorizam à banalidade do enredo.

O talento envolvido na recriação do desastre - e daquela sequência em que Watts e Holland navegam à deriva pelas ruas alagadas da cidade - justifica a inclusão de Lo imposible na lista dos filmes visualmente mais impressionantes de 2012. E mesmo que Bayona nem sempre consiga resistir às tentações do melodrama excessivo - que o leva a prolongar interminavelmente os desencontros entre os membros da família - e da universalização da história, o catalão revela-se cada vez menos uma promessa e mais uma certeza. Do based on a true story às vulgares convenções do género, transforma-se uma obra de potencial comezinho num dos filmes-catástrofe mais ambiciosos da última década. Aposta segura.


Título Original: Lo imposible (Espanha, 2012)
Realizador: Juan Antonio Bayona
Argumento: Sergio G. Sánchez, María Belón
Intérpretes: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Geraldine Chaplin, Marta Etura, Sönke Möhring
Música: Fernando Velázquez
Fotografia: Óscar Faura
Género: Drama, Thriller
Duração: 114 minutos



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Trailer de "The East"

The East pode muito bem vir a revelar-se um dos melhores filmes exibidos na edição deste ano de Sundance. Com direcção de Zal Batmanglij - realizador e co-argumentista de Sound of My Voice -, conta com o protagonismo de Brit Marling, que volta a assinar o texto, Ellen Page e Alexander Skarsgård. Enquanto não chega a Portugal, vale a pena ver o trailer.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Trailer de "Stoker"

Chan-wook Park, cineasta responsável por obras como Oldboy, a trilogia da vingança e Thirst - que, pessoalmente, tenho como o melhor filme de vampiros da última década - prepara-se para lançar o seu primeiro filme em inglês. Stoker conta no seu elenco com Nicole Kidman, Mia Wasikowska e Matthew Goode, entre outros; a fita ainda não tem data de estreia prevista para Portugal.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A grande armadilha

Quem gosta de Cinema e tem por hábito analisá-lo com maior cuidado saberá o perigo que significa ver um filme que abra com um traiçoeiro «baseado em factos reais». E escrevo "perigo" porque o tal aviso induz quase automaticamente a um certo condicionamento analítico do qual até o mais atento dos espectadores tem dificuldade em escapar.


Ao olhar para a lista das estreias em sala durante o primeiro trimestre do ano, podemos identificar facilmente  várias fitas que fazem - ou podem fazer (*) - uso do mecanismo. De LO IMPOSIBLE - de resto, aqui representado pelo fotograma do seu aviso - a HITCHCOCK, passando por LINCOLN e HYDE PARK ON HUDSON, muitos são os filmes que se inspiram concretamente em acontecimentos da vida real. E o problema nem passará por aí - bem como a solução não passará por subtrair completamente a realidade ao Cinema -, mas sim pelos segundos de fundo tipicamente preto que exibem em letrinhas brancas a mensagem de que o que se está prestes a ver não é produto exclusivo da imaginação de alguém.

Outra das questões surge quando se reflecte sobre o valor de verdade vulgarmente atribuído a facto. Será o "facto real/verídico" uma mera redundância, ou esconder-se-á algo mais por detrás do suposto pleonasmo? Outrossim, quanto de verdade haverá sob a égide da realidade ficcional? Os exemplos mais recentes de como desarmar a bomba aparecem dos lugares mais improváveis. Em ARGO, de Ben Affleck, título baseado na extracção (verídica) de membros da embaixada norte-americana em Teerão através de um falso-filme, a dissonância manifestou-se no momento do clímax - a fuga no aeroporto -, que, ao que parece, nunca existiu nos moldes em que apresentado; nesse caso em particular, a realidade revelou-se menos entusiasmante do que a ficção quando tinha tudo para ser exactamente o oposto. Já Kathryn Bigelow foi desarmada por duas vezes em pouco mais de uma década: em K-19: THE WIDOWMAKER (2002) a tripulação do submarino russo, apesar de ter gostado do filme, criticou a hollywoodização dos acontecimentos representados; já com ZERO DARK THIRTY (2012) - sobre a perseguição a Osama bin Laden - foi a vez da CIA desmentir parte do reproduzido. Assoma-se, assim, a dúvida acerca dos limites do verdadeiro num objecto que se assume logo em si como uma mentira, uma encenação mais ou menos precisa da vida.

Escreveu-se tanto apenas para concluir o que há muito já se sabia, que o tal aviso se assume como a grande armadilha do Cinema. E que se a moda não é de agora, tem-se tornado, pelo menos, mais frequente nas últimas décadas. Pede-se à audiência um envolvimento emocional superior - através da confusão das fronteiras entre o real e o ficcionado - mesmo antes da acção começar, apelando-se ao investimento na história pela via mais fácil. Cabe ao cinéfilo mais precavido saber resistir à eficácia daquela simples frase.

Esta crónica foi baseada em factos verídicos.

António Tavares de Figueiredo

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(*) - à data de escrita destas linhas, alguns dos filmes mencionados não tinham ainda sido visualizados; coloca-se apenas - e por agora - a possibilidade da mensagem constar explicitamente da sua forma. 

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sunday Stills #21: "A Zed & Two Noughts"



Um dos filmes mais absurdos - no melhor dos sentidos - de Peter Greenaway, A ZED & TWO NOUGHTS coloca ao espectador várias questões pertinentes no âmbito da análise fílmica e filosófica. Uma das mais interessantes será, porventura, a da importância da simetria na vida e no Cinema. Valerá a pena separar o que tão bem se confunde?

The Dark Knight Rises (2012)

Sete anos após o seu inicio, a saga épica do cavaleiro das trevas chega finalmente ao seu último capítulo. Conhecendo Christopher Nolan, era de esperar um final grandioso que, fundamentalmente, agradasse toda a sua enorme legião de fãs. Isto acabou por se demonstrar complicado quando THE DARK KNIGHT RISES é posto em comparação com o seu antecessor The Dark Knight, que não só foi bastante aclamado mas também subiu a fasquia para níveis que seriam impossíveis de ultrapassar. 

Uma nova ameaça tenta tomar controlo sobre Gotham, Bane (Tom Hardy). Para combater este mal, Bruce Wayne (Christian Bale) volta do seu isolamento para tornar a assumir a sua antiga persona, Batman. No entanto, Bane demonstra ser um adversário muito acima das capacidades deste Batman abatido por feridas antigas, o que levará Bruce numa busca pela regeneração física e mental para que consiga salvar Gotham dos planos malignos de Bane.


Começando do principio, as expectativas para este terceiro e ultimo filme da saga eram inimaginavelmente grandes. Depois do grande sucesso que foi o anterior, dificilmente Nolan conseguiria estar à altura e tal se verificou, não se trata de algo que ultrapasse a qualidade cinematográfica de The Dark Knight mas garanto que é definitivamente um final apropriado para uma trilogia soberba. Tem tudo o que se poderia querer, um vilão carismático e poderoso, planos grandiosos de destruição em massa que apenas Nolan nos pode proporcionar e, claro, o herói com problemas de garganta que todos temos vindo a adorar.

Como já referi, não é de certeza livre de falhas, falhas essas que são demasiado evidentes para serem ignoradas e roubam todo o ímpeto que o filme ganha. Surpreendentemente, todas as falhas fatais ocorrem na ultima hora de filme em vários níveis. O vilão, inicialmente ameaçador, acaba reduzido a uma mera sombra do que julgamos que é, os planos de destruição massiva sofrem um desfecho pouco satisfatório e confuso, o nosso herói parece perder noção do que se passa, aparvalha, e o suposto contributo da Catwoman (Anne Hathaway) é completamente fútil e desnecessário para todo o enredo. Quase parece que chegaram a meio do argumento e regrediram mentalmente, uma total desilusão. Tudo é tratado como e explicado da maneira mais confusa possível, acabando por tirar toda a energia acumulada em quase duas horas de filme, deixando o público insatisfeito.

Nem tudo é perdido e ainda se aproveita bastante do entretenimento e êxtase que o filme proporciona. Sendo realista, o peso das expectativas e das exigências por parte dos fãs terá influenciado o resultado final e a necessidade de atingir algo de calibre superior revelou ser areia demais para Nolan, que mesmo com a pressão gigantesca continua a oferecer-nos uma experiência cinematográfica excelente. The Dark Knight Rises pode ter ficado aquém da grandeza, mas não deixa de ser o final de uma grande trilogia, que até à data provou, vezes sem conta, ser a melhor saga de super-heróis transferida para o cinema.  


Título Original: The Dark Knight Rises (EUA/Reino Unido, 2012)
Realizador: Christopher Nolan
Argumento: Christopher Nolan; Jonathan Nolan; David S. Goyer
Intérpretes: Christian Bale; Gary Oldman; Tom Hardy; Joseph Gordon-Levitt; Anne Hathaway; Morgan Freeman
Música: Hans Zimmer
Fotografia: Wally Pfister
Género: Acção, Thriller, Crime
Duração: 165 minutos



sábado, 19 de janeiro de 2013

Curtas: "Mamá"

MAMÁ (2008), de Andrés Muschietti.




Três minutos chegam e sobram para aterrorizar a audiência, e a curta de Andrés Muschietti prova a afirmação. O resultado foi tão positivo que se decidiu expandir a narrativa para uma longa-metragem. MAMA, produzida por Guillermo del Toro e protagonizada por Jessica Chastain, abrirá o Fantasporto 2013.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

The Possession (2012)

Aparentemente, os demónios andam bastante atarefados nos últimos anos, infelizmente o que eles destroem não são as famílias mas sim o cinema. THE POSSESSION não demonstra qualquer tipo de virtude que o torne algo agradável de ver. Esta história, supostamente baseada em factos verídicos, não poderia ser mais vazia.

Durante uma venda de garagem, Clyde (Jeffrey Dean Morgan) e as suas duas filhas compram uma caixa que, misteriosamente, atrai a atenção da filha mais nova, Emily (Natasha Calis). O que Clyde não sabia, e que acaba por descobrir, é que a caixa que comprou para a filha contém um pesadelo que lhe irá destruir a família.

The Possession não passa de uma cópia, pouco imaginativa, do The Exorcist, sem qualquer tipo de potencial para ser algo melhor. Um enredo que nada de novo acrescenta ao género que representa e, sinceramente, em vez de nos fazer saltar da cadeira, apenas aborrece. A quantidade de clichés de filmes fantasmagóricos tornam todo o desenvolvimento bastante previsível, com actuações tão banais que maior parte das vezes até parece que nem se estão a esforçar. O único 'terror' nesta desgraça resume-se a uma quantidade enorme de ruído, gritos e uma sessão de exorcismo que parece tirada dum filme como Scary Movie.

Em análise geral, diria que não é um filme com que se deva perder muito tempo. Não tem qualquer tipo de encanto, todas as incoerências, e são muitas, a facilidade com que se prevê todos os acontecimentos e a fraca concepção em geral tornam os 92 minutos nuns 184 minutos insuportáveis.


Titulo Original: The Possession (EUA/Canadá, 2012)
Realizador: Ole Bornedal
Argumento: Juliet Snowden; Stiles White
Intérpretes: Jeffrey Dean Morgan; Natasha Calis; Kyra Sedgwick; Madison Davenport; Matisyahu; Grant Show
Música: Anton Sanko
Fotografia: Dan Laustsen
Género: Terror, Thriller
Duração: 92 minutos



Zero Dark Thirty (2012)

A localização - e conseguinte morte - de Osama bin Laden baralhou as contas a Kathryn Bigelow e Mark Boal. A dupla responsável pelo aclamado The Hurt Locker depressa passou do plano original - um (outro) filme de batalha, ambientado no início da invasão do Afeganistão - para uma crónica da caça ao homem mais procurado do Mundo, ou, pelo menos, daquele que os norte-americanos mais queriam encontrar. Mas já lá iremos. Comecemos antes por ZERO DARK THIRTY, que é como quem diz pelo início.


Bigelow volta a afirmar o seu mérito como cineasta, e não apenas como mera tarefeira. Zero Dark Thirty figura grande parte das características e mecanismos que marcaram os seus filmes anteriores. Do jargão à clivagem entre a protagonista e o ambiente que a rodeia, há a continuação de toda uma obra que ficou - ou não, pelo que se vê - para trás. Só que aqui a guerra é outra, ao Terror, mais secreta e subterrânea. É, sobretudo, um trabalho de paciência em que se força a resistência dos envolvidos, tanto do terrorista escondido como de quem o procura durante anos a fio. É preciso esperar, esgravatar informações e torturar rebeldes.

Sim, torturar. Porque escrever sobre este filme e ignorar a tortura que nele se representa - bem como as suas implicações - é fazer de conta que não se tem um elefante sentado ao canto da sala. E que grande elefante que aqui se tem. Abre-se quase a frio com um homenzinho a ser castigado, imagem que se tornará algo recorrente ao longo da fita. Sem que haja uma glorificação da prática, ela é, no entanto, vista como um mal menor - Jason Clarke lá vai repetindo ao prisioneiro «you lie to me, I hurt you» -, uma necessidade face à luta desleal a ser travada. É a narrativa eivada pela retórica pró-americana - tal como acontecia, por exemplo, em Argo, de Ben Affleck -, com os norte-americanos, todos muito bonzinhos e patrióticos, a enfrentarem os árabes corridos a má rês. Há uma tentativa curiosa de suavizar a questão - surge a certa altura um responsável da CIA ocidental e muçulmano, visto a rezar no seu gabinete -, mas a intenção, essa, há muito que ficou estabelecida.

O que não anula a coragem de Bigelow como realizadora ou a qualidade do argumento escrito por Boal. Mostra-se, mesmo que através de uma lente parcial e subjectiva, o que durante muito tempo se tentou esconder e fingir que não existia. Falha a tensão alcançada em The Hurt Locker - um autêntico manual de como a criar e manter -, compensando-a, contudo, com excelentes sequências de Cinema, planos e momentos que perduram na memória, e uma interpretação bastante sólida de Jessica Chastain. Mais do que o bom filme que se revela, Zero Dark Thirty expõe de forma razoavelmente capaz - mais, aliás, do que seria expectável de um produto made in States - os problemas relacionados com a legalidade e a moralidade dos meios utilizados em tempos de guerra. E tal basta para lhe garantir um lugar entre as obras mais faladas do ano.


Título Original: Zero Dark Thirty (EUA, 2012)
Realizador: Kathryn Bigelow
Argumento: Mark Boal
Intérpretes: Jessica Chastain, Jason Clarke, Jennifer Ehle, Mark Strong, Joel Edgerton, Chris Pratt, Reda Kateb, James Gandolfini
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Greig Fraser
Género: Drama, Histórico, Thriller
Duração: 157 minutos



quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Trailer de "Movie 43"

Muita malta famosa realiza um filme, com ainda mais malta famosa a protagonizar. Podia ser esta a premissa de Movie 43, filme-omnibus que reúne alguns dos maiores nomes do entretenimento actual. A fita tem estreia agendada em Portugal para 21 de Fevereiro.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

The Sessions (2012)

Porque a sexualidade não tem de ser um bicho-de-sete-cabeças.

Alguém chamou a THE SESSIONS o «festival hit of the year». Foi vendido em Sundance por seis milhões de dólares e conquistou a crítica à sua passagem. Gerou-se a ideia de que poderia haver algo de especial em relação ao filme e o mercado foi-se alargando. A curiosidade nasceu, talvez, do compromisso dos envolvidos para com a história e da delicada honestidade com que a tratam. O que equivalerá a escrever que a câmara de Ben Lewin é das mais sensíveis do último ano, carregada de força e emoção.


Recusa-se cair no sentimentalismo oco ou retratar a personagem paralisada como um coitadinho. A responsabilidade - sentida, sobretudo, por Lewin e John Hawkes - de caracterizar Mark O'Brien como alguém resistente, um lutador dono de um sentido de humor desenvolvido que lhe permite lidar com a sua condição, é cumprida. É essa simplicidade de processos, essa vontade de não vitimizar as personagens, que mais se destaca em The Sessions, que, não sendo um filme particularmente excelente, surpreende pela seriedade que consegue sempre conservar, apesar da leveza narrativa com que é abordado.

Mas deixa algo a desejar. Na tentativa de se distanciar de outros dramas, mais sérios, protagonizados por gente presa no seu próprio corpo - e a última década foi fértil neles, com os superlativos Mar adentro e Le scaphandre et le papillon - perde um pouco o rumo e, infelizmente, tropeça nuns quantos lugares-comuns. O pároco que debita pérolas de sabedoria que mais parecem saídas de um bolinho-da-sorte ou o último sermão, com toda a gente reunida na igreja, serão exemplos de um lista maior do que o desejável. Não que o filme não tenhas as suas qualidades - as interpretações de Hawkes e Helen Hunt, confortável como poucas outras actrizes com a (sua) nudez, contam-se entre as mais evidentes -, mas as suas escorregadelas baixam-lhe a fasquia para níveis perto da mediania, longe do que poderia ter sido.

No fim, acaba-se com uma fita simpática e competente, mas pouco mais que isso. O poeta enclausurado troca o caixão de metal - que encerrava, por sua vez, um outro caixão, esse de carne e osso - por um que lhe permite a liberdade com que sempre sonhou. Se fica potencial por aproveitar? Sim, mas sobra também a certeza do carinho com que Lewin - ele próprio um sobrevivente da poliomielite, a doença que afectou O'Brien - trabalhou o material em mãos, sempre consciente das suas fragilidades e de como as ultrapassar. E é exactamente esse carinho que transforma The Sessions num filme agradável e fácil de ver. As coisas são como são. Resta-nos saber tirar o melhor partido delas.


Título Original: The Sessions (EUA, 2012)
Realizador: Ben Lewin
Argumento: Ben Lewin
Intérpretes: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, W. Earl Brown, Robin Weigert
Música: Marco Beltrami
Fotografia: Geoffrey Simpson
Género: Drama
Duração: 95 minutos



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Clássicos franceses no Fantasporto 2013

No que toca ao Fantas 2013, as boas-novas não param de surgir.

O cinema francês marca presença na 33ª edição do Fantasporto com uma retrospectiva dedicada aos grandes nomes dos anos dourados daquela cinematografia, realizada com o apoio do Institut Français Portugal. As estrelas do cinema francês vão assim "encher" os écrans do Teatro Rivoli de 1 a 9 de Março. De Sandrine Bonnaire a Simone Signoret, passando por Jeanne Moreau, Jean Marais, Jacqueline Bisset ou Isabelle Huppert. Será tempo para ver e recordar grandes clássicos e grandes interpretações.

Se não há Cinema sem paixão e se não há paixão sem glamour, as estrelas são a face mais visível da 7ª Arte. Ainda que muitas vezes se confunda o star system com o cinema americano, no panorama europeu o cinema francês tem sido o que ao longo das décadas melhor tem trabalhado o glamour e as "vedetas" na promoção dos seus filmes. O Fantasporto 2013 recupera grandes rostos do período dourado do cinema gaulês, numa retrospectiva onde eles abundam. Sete filmes dos mais conceituados realizadores - de Agnès Varda a Claude Chabrol, de Alain Resnais a Jacques Demy - em sete géneros cinematográficos que confirmam a diversidade desta cinematografia. Mas muito mais do que sete serão as estrelas que ilustram esta significativa retrospectiva que será complementada com uma belíssima exposição de fotos da colecção de Jean Loup Passek ex-director do departamento de cinema do Centro George Pompidou. Rostos de uma fotogenia excepcional, que marcaram o imaginário de milhões de espectadores como Jean Marais, Jeanne Moreau, Simone Signoret, Delphine Seyrig, entre os mais veteranos, dão lugar a uma nova geração onde pontuam Isabelle Huppert ou Sandrine Bonnaire, demonstrando que as vedetas são uma constante e um suporte de excelência para o cinema francês. Sendo as estrelas quem dão corpo e voz aos filmes, esta é também uma oportunidade rara para se reverem clássicos em tela grande, cumprindo assim uma missão fundamental dos festivais que é a de recuperar as melhores memórias do cinema.

Depois do magnífico TRANS-EUROP-EXPRESS e de outros filmes de Alain Robbe-Grillet terem passado na edição anterior do festival portuense, há agora a oportunidade de ver em sala obras de gente como Chabrol, Demy - cineasta com uma utilização excepcional da cor -, Varda e Resnais, entre outros. Serão exibidos:

  • LA CÉREMONIE, de Claude Chabrol (Alemanha/França, 1995)
  • CASQUE D'OR, de Jacques Becker (França, 1952)
  • L'ANNÉE DERNIÈRE À MARIENBAD, de Alain Resnais (França/Itália, 1961)
  • PEAU D'ÂNE, de Jacques Demy (França, 1970)
  • ASCENSEUR POUR L'ÉCHAFAUD, de Louis Malle (França, 1958)
  • LE QUAI DES BRUMES, de Marcel Carné (França, 1938)
  • SAINS TOIT ET LOI (VAGABOND), de Agnès Varda (França, 1985)

Vencedores dos Globos de Ouro 2013

Foram anunciados na madrugada passada (13 de Janeiro) em Portugal os vencedores dos Globos de Ouro 2013. Seguem-se os premiados nas categorias de Cinema:

Melhor Filme (Drama):

Melhor Actor (Drama):
Daniel Day-Lewis, por LINCOLN

Melhor Actriz (Drama):
Jessica Chastain, por ZERO DARK THIRTY

Melhor Filme (Comédia ou Musical):

Melhor Actor (Comédia ou Musical):
Hugh Jackman, por LES MISÉRABLES

Melhor Actriz (Comédia ou Musical):
Jennifer Lawrence, por SILVER LININGS PLAYBOOK

Melhor Actor Secundário:
Christoph Waltz, por DJANGO UNCHAINED

Melhor Actriz Secundária:
Anne Hathaway, por LES MISÉRABLES

Melhor Realizador:
Ben Affleck, por ARGO

Melhor Argumento:
Quentin Tarantino, por DJANGO UNCHAINED

Melhor Filme de Animação:

Melhor Filme Estrangeiro:

Melhor Banda Sonora Original:
Mychael Danna, por LIFE OF PI

Melhor Canção Original:
Adele e Paul Epworth por Skyfall, de SKYFALL

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A era da agressão

Recentemente, a propósito da estreia do seu DJANGO UNCHAINED, Quentin Tarantino atribuiu à violência presente nas suas obras um ideal catártico. Uma espécie de retribuição histórica atrasada, o castigo merecido entregue pelos justos; são os heróis transformados em anjos da vingança. Mas a valorização da violência como parte integrante do conteúdo - e não exclusivamente da forma - implica que se pague um preço pela sua utilização. E esse preço surge através da responsabilização.


Explorando essa noção de responsabilidade, Marco Ferreri - realizador meio esquecido, apesar de influente no panorama cinéfilo internacional - criou em 1969 a sua obra-prima, DILLINGER È MORTO, um filme tão inconsequente que só se encaixa no surrealismo. Ou melhor, que se encaixa em muitas correntes sem nunca, no entanto, deixar de pertencer à do inconsciente. Não será por acaso que a obra em questão é das mais complicadas de explicar a quem nunca a viu. Mas lá vai uma tentativa, quase em jeito de sinopse, do que se passa na fita de Ferreri: um designer industrial - Michel Piccoli, magistral como sempre - regressa a casa do trabalho para encontrar a mulher na cama com uma dor de cabeça. O jantar já está frio e o designer, descontente com o que tem pela frente, põe-se a preparar uma nova refeição. Ao vasculhar nas gavetas da cozinha encontra um revólver embrulhado em folhas de jornal; as parangonas referem-se à morte de Dillinger, gangster americano convertido em herói popular.

O que mais nos interessará para o entendimento do fenómeno em evidência - o da responsabilização do cineasta pela violência que exibe nas suas obras - será , no entanto, o anti-clímax de Dillinger è morto. O designer, após seduzir a empregada - e de ser seduzido por ela -, volta ao quarto. Aponta a arma - agora vermelha às pintinhas brancas - à cabeça e, depois de se olhar ao espelho, dispara várias vezes sobre a mulher adormecida. Houve quem relacionasse o uxoricídio com a tentativa do homem em purgar algo (a indolência) de dentro de si ou com a redução de todas as suas possibilidades à inexistência, ao zero-absoluto. Seja qual for o significado dado à cena, é unânime que a morte da esposa se traduz no rompimento dos laços mais íntimos que ligam o designer à sua existência burguesa. A violência surge, portanto, com um propósito identificável.

A mesma catarse é identificável nos filmes de Tarantino. Fará mais espécie, porventura, pela exposição que lhe é dada, pelo detalhe gráfico com que a brutalidade é mostrada ao espectador. E em década de massacres armados, a questão reveste-se de particular importância. A relação entre a violência exibida na tela e a perpetrada fora dela não será tão linear quanto isso, mas revela-se cada vez mais um elemento difícil de ignorar face à multiplicação dos incidentes. Talvez por isso se peça hoje mais do que nunca que os realizadores, argumentistas e produtores se responsabilizem pelos conteúdos que criam e que optem por rejeitar a violência puramente gratuita. São os limites da era da agressão.

António Tavares de Figueiredo

Matinée Portuense @ Tumblr

Para os mais distraídos, o Matinée Portuense já marca presença no Tumblr. A conta - Matinée Portuense @ Tumblr - será uma extensão da plataforma original e terá como principal objectivo contactar com um tipo de público diferente, maioritariamente através da imagem e de textos curtos.


Se já Godard dizia que estilo e conteúdo não se podiam separar, o espaço seguirá as mesmas idiossincrasias da casa-mãe, guiando-se pela mesma linha editorial e preferências cinéfilas.

O Matinée Portuense tem igualmente conta no Facebook e no Twitter. Não deixem de nos seguir nas redes sociais.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Sunday Stills #20: "The Social Network"



Jesse Eisenberg em THE SOCIAL NETWORK, de David Fincher. Na semana em que o Matinée Portuense deu o primeiro passo em mais uma rede social - já temos conta no Tumblr - nada melhor do que um fotograma do filme sobre a criação do Facebook para celebrar o acontecimento.

John Dies at the End (2012)

Em tempos, já tive a oportunidade de visualizar alguns filmes bastante tresloucados e ficar um pouco abismado com o que acabo de ver. No entanto, depois de JOHN DIES AT THE END, a minha cabeça já tinha dado tantas voltas que nem encontrava palavras para o descrever, até que uma só - e só uma - me vem à cabeça, incrível. Esta adaptação do livro de David Wong, será, até à data, o filme mais insanamente fantástico que já tive o prazer de presenciar. Algo como isto raramente aparece, com tudo o que é necessário para se tornar num filme de culto e uma delicia para o público.

Existe uma nova droga a circular nas ruas, ninguém sabe de onde vem nem do que é feita, e chamam-lhe Soy Sauce. Numa sequência de acontecimentos bizarros incompreensíveis, David Wong (Chase Williamson) e John (Rob Mayes) são levados para um mundo de infinitas possibilidades, no qual já nada parece real e a barreira entre a sanidade e a completa loucura quase nem existe. Para David e John lidar com a situação aparentemente descontrolada, proporcionada pelo soy sauce, será o desafio da vida deles.


Difícil será conseguir agora  dar a entender a amplitude da confusão maravilhosa que existe neste filme. Desde o inicio que ficamos agarrados a ele, quase como se fosse uma droga, e até ao fim é uma montanha russa de hora e meia. Acima de tudo, é extremamente divertido de ver - à imenso tempo que não me divertia tanto a ver um filme - e facilmente, e de bom grado, se vê mais do que uma vez. A representação dos efeitos do soy sauce, as actuações por parte do elenco surpreendente e todo o ambiente e emoção transmitidos pelo filme deixaram me perplexo e com a sensação que estava sobre o efeito de alguma substância alucinogéna. Um ritmo acelerado, um argumento hilariante, actores competentes e uma imaginação saída da mente de um louco, os ingrediente perfeitos para uma das experiências mais dementes e divertidas alguma vez apresentada em filme.

John Dies at the End fica a perder na sua aparente produção de baixo orçamento, com efeitos especiais que, embora contribuam para a sua singularidade, abatem um pouco as sensações que tenta transmitir. Tirando uma falha técnica aqui e ali, nada consegue tirar ao filme aquilo que mais atrai, a sua genialidade. Para mim uma das maiores surpresas foi o realizador, Don Coscarelli, quem diria que o realizador de Phantasm, e os seus seguimentos, voltaria a ser responsável por algo tão competente após quase 40 anos.

Em última análise, apenas gostaria de recomendar vivamente este filme. Infelizmente não tem estreia marcada para Portugal e pouca será a sua distribuição em salas mundiais, se conseguirem por as mãos num DVD não hesitem em levá-lo para casa.


Título Original: John Dies at the End (EUA, 2012)
Realizador: Don Coscarelli
Argumento: Don Coscarelli (baseado no livro de David Wong)
Intérpretes: Chase Williamson; Rob Mayes; Paul Giamatti; Clancy Brown; Glynn Turman; Doug Jones; Fabianne Therese; Jimmy Wong; Jonny Weston
Música: Brian Tyler
Fotografia: Mike Gioulakis
Género: Comédia, Fantasia, Terror
Duração: 99 minutos


sábado, 12 de janeiro de 2013

Quando as marcas se sabem vender #1

Quem gosta da NBA já estará habituado à sua campanha BIG. Os spots televisivos, em diferentes séries, vão surgindo periodicamente, focando-se em várias facetas do jogo. E quem conhece Spike Lee, nova-iorquino de gema e adepto dos Knicks - é comum encontrá-lo na fila da frente do Madison Square Garden quando a equipa joga em casa -, também não estranhará que tenha realizado dois anúncios para a campanha, UNBELIEVABLE IS BIG e ROYALTY IS BIG.

É o desporto convertido em marca.




Manolete (2008)

Volta e meia há quem tente vender Adrien Brody como algo que ele não é. Já o fizeram passar por herói de acção, protagonista de giallo - em fita homónima do mestre do subgénero, um Dario Argento já longe do auge - e até mesmo comediante de meia-tigela; a meio da década passada foi escolhido para toureiro. MANOLETE, de Menno Meyjes, chega agora às salas portuguesas. E, não sendo um grande filme - nem para lá perto caminhar -, traz consigo algumas considerações interessantes.

Rodado em 2005, com Penélope Cruz ainda por oscarizar, a estreia de Manolete foi sofrendo sucessivos atrasos. O orçamento foi aumentando e surgiram complicações na distribuição. As associações anti-tourada não ajudaram à situação com os seus boicotes ao filme, que, apesar de filmado sem recurso a touros, consideravam um insulto aos direitos dos animais. De biopic de elevados valores de produção rapidamente passou a produto tóxico no qual ninguém parecia interessado a pegar. Mas lá foi encontrando, lentamente, o caminho de alguns mercados. Já a década era outra - os novos anos dez - quando estreia finalmente em França, Itália e Espanha e vai directamente para DVD nos EUA e no Japão; em Portugal demorou-se um bocadinho mais.

Mas se o atraso se deveu, em grande parte, à temática controversa, depressa se justificou com o filme em si. Adrien Brody - que ainda se vai safando como a vedeta complexada - e Penélope Cruz andam meios perdidos como casal durante grande parte do filme e acabam por ter os seus melhores momentos durante a faena, precisamente quando não têm de trabalhar diálogos pouco inspirados. Confirma-se, pois, o deslumbramento de Menno Meyjes - que já no início da carreira como realizador havia assinado dois pastéis biográficos sensaborões - pela produção que tem a seu cargo e a incapacidade do holandês em a guiar adequadamente. Atente-se, por exemplo, ao absurdo de entrecortar cenas dentro de outras já entrecortadas ou àquele plano muito piroso e várias vezes repetido de Brody com as duas pombas brancas nas mãos. E se as cores e o espectáculo da tourada constituem o melhor de Manolete - bela fotografia de Robert D. Yeoman -, em Blancanieves - curiosamente a preto-e-branco - são filmados com maior paixão e engenho. Agora percebe-se a demora na chegada.


Título Original: Manolete (Alemanha/Espanha/EUA/França/Reino Unido, 2008)
Realizador: Menno Meyjes
Argumento: Menno Meyjes
Intérpretes: Adrien Brody, Penélope Cruz, Nacho Aldeguer, Santiago Segura, Juan Echanove, Ann Mitchell
Música: Dan Jones, Gabriel Yared
Fotografia: Robert D. Yeoman
Género: Biografia, Drama, Romance
Duração: 92 minutos


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Silver Linings Playbook (2012)

A certa altura diz-se em SILVER LININGS PLAYBOOK que a vida é já complicada o suficiente para se andar por aí a tropeçar em livros com finais tristes. Diz-se isto e lança-se Hemingway janela fora, como quem não quer a coisa, amaldiçoando-se o desfecho do seu Adeus às Armas. A lição também se pode aplicar aos filmes: se a tristeza é necessária - e, atenção, que ninguém aqui afirma o contrário -, também o será a felicidade, o tal contorno prateado. Todos os anos os grandes filmes - ou, pelo menos, aqueles que mais galardões varrem - são os dramas sérios e muito graves; gerou-se tamanho complexo em relação à comédia, à alegria, que já poucos acreditam em quem é capaz de rir. Com o livro voador bate-se o pé à tradição.


David O. Russell - que, quer-me parecer, tem já os seus filmes bem tipificados, evitando sempre fugir muito ao seu modelo aprovado - regressa à disfunção social. Troca a família de The Fighter, obcecada por boxe, por um subúrbio de Filadélfia completamente focado no football. Há o antigo professor de História recém-libertado do hospital psiquiátrico, a miúda desbocada lá do bairro, o pai obsessivo-compulsivo, corretor de apostas supersticioso, e os amigos neuróticos e ligeiramente desequilibrados. Do conjunto das peças estragadas - e a história gira toda em redor das pequenas obsessões de cada personagem -, do messed up, resulta uma fita surpreendentemente agradável - apesar de, e lá está a tipificação, algo previsível - e fresca. É o quebrar dos limites da comédia romântica, a criação tanto dentro como fora das convenções que geralmente contêm o género. Continua tudo muito fofinho e simpático, mas arrepia-se caminho da lamechice em que habitualmente se comete o erro de cair.

Chegado às salas, Silver Linings Playbook justifica a atenção e o burburinho de que tem vindo a ser alvo na corrida aos prémios. Não que seja brilhante - ou que chegue sequer lá perto -, mas assume-se como um tónico eficaz contra a depressão e a apatia. Invulgarmente motivador - e que sorte tive eu em vê-lo durante uma época de exames -, permite que dele se saia com um sorriso nos lábios e satisfeito com a experiência proporcionada. E se Russell, que não sendo um realizador particularmente talentoso - teima em encaixar músicas em tudo o que é cena e meter-se em planos francamente pirosos -, assina ainda assim uma direcção segura muito o deverá ao elenco, excepcional e no seu melhor estado. É bom ter uma estratégia; ainda melhor é conseguir segui-la com êxito.


Título Original: Silver Linings Playbook (EUA, 2012)
Realizador: David O. Russell
Argumento: David O. Russell (baseado no romance de Matthew Quick)
Intérpretes: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker, Anupam Kher, John Ortiz, Shea Whigham, Julia Stiles
Música: Danny Elfman
Fotografia: Masanobu Takayanagi
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 122 minutos


Poster oficial do Fantasporto 2013

Foi divulgado há dias o poster oficial do Fantasporto 2013, 33º Festival Internacional de Cinema do Porto. O cartaz presta homenagem a THE RED SHOES, de Michael Powell e Emeric Pressburger (Os Arqueiros), obra que será exibida no certame em cópia restaurada pelo BFI.


O Fantasporto 2013 decorrerá entre 25 de Fevereiro e 10 de Março.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Nomeados aos Oscars 2013


A Academia das Artes e Ciências Cinematográficas revelou esta tarde os nomeados aos seus prémios anuais. Sem grandes surpresas na lista - tirando, talvez, a não inclusão de HOLY MOTORS, de Leos Carax -, são estes os filmes que podem ganhar o maior galardão do cinema norte-americano nas principais categorias:

Melhor Filme:

Melhor Actor Principal:
  • Bradley Cooper, por SILVER LININGS PLAYBOOK
  • Daniel Day-Lewis, por LINCOLN
  • Hugh Jackman, por LES MISÉRABLES
  • Joaquin Phoenix, por THE MASTER
  • Denzel Washington, por FLIGHT

Melhor Actriz Principal:
  • Jessica Chastain, por ZERO DARK THIRTY
  • Jennifer Lawrence, por SILVER LININGS PLAYBOOK
  • Emmanuelle Riva, por AMOUR
  • Quvenzhané Wallis, por BEASTS OF THE SOUTHERN WILD
  • Naomi Watts, por LO IMPOSIBLE [THE IMPOSSIBLE]

Melhor Actor Secundário:
  • Alan Arkin, por ARGO
  • Robert De Niro, por SILVER LININGS PLAYBOOK
  • Philip Seymour Hoffman, por THE MASTER
  • Tommy Lee Jones, por LINCOLN
  • Christoph Waltz, por DJANGO UNCHAINED

Melhor Actriz Secundária:
  • Amy Adams, por THE MASTER
  • Sally Field, por LINCOLN
  • Anne Hathaway, por LES MISÉRABLES
  • Helen Hunt, por THE SESSIONS
  • Jacki Weaver, por SILVER LININGS PLAYBOOK

Melhor Realizador:
  • Michael Haneke, por AMOUR
  • Benh Zeitlin, por BEASTS OF THE SOUTHERN WILD
  • Ang Lee, por LIFE OF PI
  • Steven Spielberg, por LINCOLN
  • David O. Russell, por SILVER LININGS PLAYBOOK

Melhor Argumento Original:
  • Michael Haneke, por AMOUR
  • Quentin Tarantino, por DJANGO UNCHAINED
  • John Gatins, por FLIGHT
  • Wes Anderson e Roman Coppola, por MOONRISE KINGDOM
  • Mark Boal, por ZERO DARK THIRTY

Melhor Argumento Adaptado:
  • Chris Terrio, por ARGO
  • Lucy Alibar e Benh Zeitlin, por BEASTS OF THE SOUTHERN WILD
  • David Magee, por LIFE OF PI
  • Tony Kushner, por LINCOLN
  • David O. Russell, por SILVER LININGS PLAYBOOK

Melhor Filme de Animação:

Melhor Filme Estrangeiro:
  • AMOUR (Áustria)
  • KON-TIKI (Noruega)
  • NO (Chile)
  • EN KONGELIG AFFAERE [A ROYAL AFFAIR] (Dinamarca)
  • REBELLE  [WAR WITCH] (Canadá)

Melhor Direcção de Fotografia:
  • Seamus McGarvey, por ANNA KARENINA
  • Robert Richardson, por DJANGO UNCHAINED
  • Claudio Miranda, por LIFE OF PI
  • Janusz Kaminski, por LINCOLN
  • Roger Deakins, por SKYFALL

Melhor Banda Sonora Original:

Podem consultar os restantes nomeados no site oficial da Academia. Os vencedores serão anunciados na cerimónia agendada para 24 de Fevereiro, apresentada por Seth MacFarlane.