O Cinema sempre foi um veículo predilecto para a crítica social. A força das imagens aliada à possibilidade de discurso cedo alargou os horizontes daqueles que julgam ter algo a dizer a quem os quiser ouvir. Só que, como tudo na vida, há quem o faça melhor e pior. Nos anos recentes, fruto dos tempos, o alvo predilecto tem caído quase sempre sobre os EUA e as suas políticas. RED STATE e IRON SKY foram dois dos elos mais recentes dessa corrente, embora abordando metodologias e resultados diferentes.
RED STATE, de Kevin Smith (EUA, 2011)
É sempre curioso quando um cineasta como Kevin Smith aproveita um filme para espingardar em todas as direcções. A religião é uma seca, o governo não o entende, poucos lhe reconhecem o talento que ele mesmo vê quando olha ao espelho. A televisão também não passa nada de jeito e os US of A meteram-se num buraco ideológico do qual não vêem saída. A solução óbvia - para Smith, pelo menos - passa pela crítica cinematográfica aos pastores de cultos homofóbicos e à inaptidão das autoridades. Longe vão os tempos de Clerks. e a mensagem é agora mais agressiva. Se bem que se torna algo complicado perceber ao certo qual é.
Smith traduz o seu descontentamento num fraco exercício de cinema, atacando tudo e todos no processo como um cão raivoso. Pelo meio há muitos tiros, gente doida, John Goodman (sim, esse John Goodman) como agente federal, adolescentes excitados, ainda mais tiros e uma das figuras religiosas mais assustadores do Cinema recente. Aliás, será no Pastor de Michael Parks - figura quase mitológica da cinematografia série B - que Red State terá um dos seus maiores pontos fortes, entre discursos inflamados e êxtase armado. No final sobra pouco, atam-se as pontas soltas com nós pouco seguros e atira-se ao espectador qualquer coisa como a ideia de que o Governo e as autoridades norte-americanas querem evitar a todo o custo um novo Waco. Quase como quando Smith desistiu de vender os direitos de distribuição do filme em Sundance, num dos momentos mais mediáticos do festival, para evitar que o filme caísse nas mãos de um qualquer idiota que não o soubesse tratar. Ó, ironia!
Os nazis fugiram da Terra depois da II Guerra Mundial e montaram base na Lua. Como, ninguém sabe, mas montaram. Agora querem voltar ao planeta-mãe e tomar de assalto toda a raça humana. No seu caminho encontram-se apenas um astronauta negro (de novo, ó, ironia), uma professora nazi que vivia enganada e indoutrinada e uma Presidente em busca da reeleição. Por muito ridícula que a premissa de Iron Sky pareça, a verdade é que cumpre de forma competente o papel de crítica social. Há qualquer coisa na ideologia nazi que inquieta os corações, mesmo que se trate de uma óbvia comédia, e Timo Vuorensola soube tirar proveito dessa urgência. Mais uma vez, sofre do problema de Red State (pouca substância, muita pirotecnia), mas aqui desculpa-se o "erro"; pelo menos dá para rir.
Bebe-se de várias fontes - há uma cena, em jeito de sátira, igual àquela de Downfall em que Hitler descompõe os seus generais, a chegada dos nazis à Terra parece saída dos filmes de invasão da década de 50, o The Great Dictator de Chaplin, cortesia da montagem, serve como ferramenta de propaganda do Quarto Reich - e até há espaço para colocar uma personagem em tudo semelhante a Sarah Pallin como presidente dos Estados Unidos. Não é, por isso, surpreendente que o filme, uma co-produção alemã, tenha gozado de estreia em Berlim e de uma passagem pelos principais festivais europeus de Cinema Fantástico. A colagem saiu bem.
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