Depois de Paris à meia-noite, chegou a vez de Roma receber um filme de Woody Allen. O cineasta nova-iorquino aceitou uma proposta de um grupo de distribuidores romanos e assim nasceu TO ROME WITH LOVE. O título final, que Allen afirmou odiar, surgiu como recurso a Bop Decameron e Nero Fiddles, referências que ninguém parecia compreender. Quatro estórias apenas relacionadas entre si pelo espaço onde se passam - Roma - sobre o amor, a moralidade, a família e o culto da celebridade. São várias as caras conhecidas que dão vida às personagens criadas por Allen (algumas criadas também por quem as interpreta, veja-se o caso do Leopoldo de Roberto Benigni, homólogo europeu do nova-iorquino) que, melhor ou pior, vão fazendo o filme ao seu ritmo. Os vários episódios entrecortam-se, por vezes emoldurados por uma bela peça musical tão caracteristicamente italiana (ou assim a associamos), por vezes sem aviso aparente que não as personagens em si. Jesse Eisenberg encontra Alec Baldwin, que perde o corpo e se torna em consciência, Penélope Cruz faz de prostituta, Alison Pill é uma turista americana que encontra o amor junto de um advogado italiano e Woody Allen, no seu regresso à representação, surge como um reflexo dele próprio, sujeito nervosinho e neurótico vaiado pela crítica enquanto maestro. Nenhum deles se destaca, mas são todos agradáveis caricaturas do próprio cineasta, que insiste em se reproduzir a cada filme que faz. A fórmula não é nova, mas ainda não é desta que se torna cansativa.
To Rome with Love funciona como um conjunto de gags leve e descomprometido, mas nem por isso vazio de significado. Criticam-se os famosos por serem famosos e a sociedade que os cria e cultiva. Aponta igualmente baterias aos pseudo-intelectuais - sendo a Monica de Ellen Page a síntese do arquétipo, tal como já o era a Mary de Diane Keaton em Manhattan -, pretensiosos dispostos a largar linhas únicas e noções genéricas sobre arte e cultura e desejosos de provar ao mundo que percebem de tudo o que é assunto. Também eles seduzem quem os rodeia, centrando atenções em si (veja-se o que a personagem de Page faz com o namorado da melhor amiga). Woody Allen volta às comédias puras, reciclando chavões e truques já por ele usados. Mostra-se Roma do ponto de vista de um turista, com todos os estereótipos e marcos que se espera encontrar, tudo muito direitinho e iluminado, fotografada por Darius Khondji. Não é original, mas a sua leveza faz com que não seja difícil de ver. Como Baldwin diz a Eisenberg, em jeito de resumo, «com o tempo vem a exaustão».
Realizador: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Intérpretes: Judy Davis, Flavio Parenti, Roberto Benigni, Alison Pill, Alessandro Tiberi, Alessandra Mastronardi, Alec Baldwin, Riccardo Scamarcio, Woody Allen, Jesse Eisenberg, Greta Gerwig, Penélope Cruz, Ellen Page
Fotografia: Darius Khondji
Género: Comédia, Romance
Duração: 112 minutos
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