Quando li a sinopse de Life in One Day no programa do Fantas 2012 desenvolvi quase de imeadiato uma animosidade em relação ao filme. Os filmes românticos tendem a cansar-me, principalmente aqueles com histórias de amor bonitas e fáceis. Por coincidência, durante o mesmo horário iria ser exibido um filme que ainda me interessava menos ver na outra sala do Rivoli. Decidi-me então por Life in One Day, esperando consegui-lo suportar sem adormecer. E, se entrei na sala já desanimado com algo que ainda não tinha visto, de lá saí completamente maravilhado com o que tinha acabado de ver na tela.
Passo a explicar para quem ainda não o tiver visto: Life in One Day foge completamente ao formato convencional de filme romântico, evitando os facilitismos e a verborreia típica de filmes do género. A história de amor não é bonita, nem, muito menos, fácil. Benny e Gini vivem num mundo onde toda a vida é vivida num só dia. Todas as acções são únicas não havendo lugar (nem tempo) para repetições. Apaixonados, decidem escapar para o inferno, um lugar onde os dias e os acontecimentos se repetem, decididos a viverem o seu amor vez após vez. Só que o inferno é o inferno, e nem tudo será tão fácil quanto estariam à espera que fosse.
E se a premissa que o filme apresenta é singular, a sua realização não lhe fica nada atrás. A primeira meia hora do filme tem o mérito de introduzir o espectador à história, mas é a segunda parte da película que o prende e encanta. O ecrã dividido de início pode parecer vir apenas dificultar o entendimento do filme, mas alguns minutos chegam para se perceber que era exactamente o que se pedia para sustentar a carga emocional de Life in One Day, com a sincronização entre a acção de cada um dos ecrãs a permitir um entendimento alargado do filme. A um trabalho de edição cuidado e a uma realização arrojada junta-se uma fotografia de grande nível, capaz de deslumbrar visualmente quem vê o filme. O jovem par de protagonistas, Matthijs van de Sande Bakhuyzen e Lois de Jong, mostra-se capaz de aguentar uma película que, à partida, não seria de fácil representação. As restantes personagens surgem discretas, não acrescentado quase nada ao filme.
Life in One Day é um filme que explora, em última análise, as diferentes reacções que cada membro de um casal tem face a uma separação. Mas fá-lo tão bem que quem o vê quase não se apercebe de que esse é o seu objectivo. Todo o filme caminha para um reencontro final (torna-se mais ou menos óbvio a meio do filme de que esse será o seu desfecho), a derradeira catarse dos protagonistas, o fim do seu inferno pessoal (a expiação dos pecados cometidos na sua outra vida, se quiserem). Life in One Day encantará quem o decidir ver. Provavelmente seria um dos grandes vencedores desta edição do Fantasporto, tivesse sido exibido dentro de uma das secções oficiais do festival; infelizmente, a sua data de produção impossibilitou tal de acontecer. Cinema europeu de enorme qualidade, a provar que as histórias de amor não têm de ser todas iguais.
Título Original: Het leven uit een dag (Países Baixos, 2009)
Realizador: Mark de Cloe
Realizador: Mark de Cloe
Argumento: Mark de Cloe (baseado no livro de A.F. Th. van der Heijden)
Intérpretes: Matthijs van de Sande Bakhuyzen, Lois de Jong, Tygo Gernandt, Egbert Jan Weeber, Hadewych Minis
Música: Johan Hoogewijs
Fotografia: Jasper Wolf
Género: Drama, Fantasia
Duração: 94 minutos
Sem comentários :
Enviar um comentário