Parece-me que NIGHT TRAIN TO LISBON nunca será um filme consensual. Onde muitos verão monotonia, outros tantos descobrirão belos momentos de Cinema - e escreva-se logo a abrir que a fotografia é deslumbrante - plenos de significado. Aliás, o próprio filme, girando em torno de coincidências e da Filosofia - os protagonistas são um professor da disciplina e um médico dado a reflexões existenciais -, permite essa dualidade de opiniões.
Um homem salva uma rapariga que se quer matar. Ela foge, deixando-lhe um casaco vermelho - cor importantíssima durante o filme - e um livro em português. O homem, impressionado pelo que lê, e descobrindo um bilhete de comboio no interior do livro, parte imediatamente rumo a Lisboa. Quer conhecer o autor da obra, mas ele já morreu. Dedica-se, pois, a desvendar o mistério da sua vida.
Night Train to Lisbon faz-se entre o road movie e o filme de mistério - não chegando, no entanto, a pertencer inteiramente a nenhum dos géneros -, um exercício de calma na maneira como Bille August filma o passado, mas, sobretudo, o presente. Capaz de, mais uma vez, aliciar um elenco internacional de qualidade comprovada - a Jeremy Irons e Mélanie Laurent juntam-se nomes como os de August Diehl, Martina Gedeck, Bruno Ganz, Charlotte Rampling Lena Olin, Christopher Lee, Beatriz Batarda, Marco D'Almeida e José Wallenstein -, o dinamarquês debruça-se sobre uma das épocas mais negras da História portuguesa. E se o retrato dos anos de ditadura nem sempre sai exacto - evita-se abordar a dimensão social em toda a sua plenitude -, o esforço será, pelo menos, de louvar, ainda para mais num país que insiste em esquecer - e bem se diz a meio que «quando a ditadura é um facto, a revolução é um dever» - as suas décadas mais obscuras.
Apesar de algumas decisões criativas mais duvidosas - a questão linguística, com as personagens a falarem todas automaticamente em inglês, ou a visão algo turística com que August filma Lisboa -, Night Train to Lisbon revela-se um filme interessante. A mim, pelo menos - e admitindo que para muitos nunca passará de um mero pastel dramático e pseudo-filosófico -, proporcionou uma das mais belas viagens cinematográficas dos últimos anos.
Realizador: Bille August
Argumento: Greg Latter, Ulrich Herrmann (baseado no romance de Pascal Mercier)
Intérpretes: Jeremy Irons, Mélanie Laurent, Jack Huston, Martina Gedeck, Tom Courtenay, August Diehl, Bruno Ganz, Lena Olin, Charlotte Rampling, Marco D'Almeida, Christopher Lee, Adriano Luz
Música: Annette Focks
Fotografia: Filip Zumbrunn
Género: Aventura, Mistério, Romance, Thriller
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