A mesma mente que nos apresentou Léon, Taken e The Fifth Element (entre outras obras) brinda-nos com LUCY, o mais recente trabalho escrito e realizado por Luc Besson, com toda a idiossincrasia que seria de esperar do cineasta francês. Uma mente que, certamente, neste filme se faz transbordar de ideias, conceitos e constructos lamentavelmente mal executados e fugazes das palmas do corpo que a contém. Afinal, já Ícaro demonstrara em tempos de outrora o que acontece a um homem que voa demasiado perto do sol.
Confesso que após assistir ao trailer não fiquei com grandes expectativas, o que talvez tenha valido a favor do filme, visto que não o achei por de mais tão terrível quanto tanta gente o fazia parecer. Está bem, é certo que este dá um grande pontapé na realidade ao trazer à baila a história dos 10% do potencial cognitivo humano, ou da "capacidade cerebral", parafraseando a película (note-se que há muito se sabe que isto não passa de um mito). Como se isso não bastasse, a heroína, Lucy, ganha uma imensidão de poderes tremendamente absurdos que vão para além de toda compreensão suportável ao pensamento humano.
[Mas, ei!, não vamos nós esquecer-nos que isto se trata de um filme de ficção-científica. Tudo é possível, segundo a lógica do realizador.]
É claro que as coisas acontecem por uma razão. Aparentemente, se ingerirmos uma quantidade enorme o suficiente de droga temos a possibilidade de passar férias ao período mesozóico. Pelo menos foi o que se passou com a nossa protagonista quando adquiriu o poder de manipular o espaço-tempo a seu bel-prazer (e que belo exemplo a transmitir a uma plateia que incuba milhões de adolescentes) . Mas isso são outros quinhentos.
Se pusermos de lado o carácter pretensioso do filme e em vez disso o virmos mais como uma tentativa de Besson em produzir uma epígrafe de super heróis, este torna-se bastante mais tragável.
A sequência inicial tem como intuito dar a entender a premissa do filme. Ela mostra-nos um hominídeo Australopiteco (o qual presumo representar os primórdios da espécie humana), seguindo-se uma curta narrativa de Scarlett Johansson: «A vida foi-nos dada à mil milhões de anos. E o que fizemos nós com ela?».
A transição para o plano seguinte leva-nos ao Taipei dos tempos modernos. Lá contamos, com a charmosa Scarlett numa galante actuação enquanto Lucy - uma jovem americana - que estava à porta de um hotel com o homem com quem dizia namorar há uma semana. O sujeito tinha como missão entregar uma mala a um tal Jang que se encontrava nesse mesmo hotel. Relutante em completar a tarefa, ele procura convencer Lucy a tomar o seu lugar. Acaba por conseguir quando finalmente a algema à mala, afirmando que só Jang possuía a chave. Posto isto, Lucy vê-se envolvida numa rede de tráfico de droga que, por sua vez, faz dela uma mula de contrabando. Os malfeitores colocam nas entranhas de Lucy e de mais 3 "mulas" sacos detentores de uma nova droga que ia circular as ruas. Para azar o deles, um dos capangas (não o mais inteligente decerto) decide, porventura, dar uma tareia à nossa personagem principal libertando a droga no seu organismo e despoletando todo o enredo que se segue.
A história de Lucy é intercalada com cenas de palestras, cujo orador é a nossa personagem secundária, o professor Norman - aqui interpretado por Morgan Freeman, não fosse o filme perder toda a sua credibilidade -, com um propósito elucidativo para o espectador. Isto é, elas vão servir para nos contextualizar em termos conceituais dando-nos uma ideia (embora errada) da hipótese subjacente por detrás da premissa.
O filme vai, deste modo, escalando numa panóplia de situações enquanto Lucy procura um propósito para a sua nova forma de existência à medida que a sua capacidade cerebral aumenta em pontos percentuais.
Desde a aquisição dos infames super-poderes, até perseguições de carros em alta velocidade pelas ruas de Paris. De dilemas morais, até confrontos armados entre gangsters coreanos e policias franceses. Até mesmo com alguma pornografia animal à mistura (prometo que não estou a inventar nada disto), Este é um título que, seguramente, será diferente de tudo o que já viram este ano, para o melhor ou para o pior e que, quanto muito, vos dará alguns objectos de reflexão. Eu, por exemplo, acho reconfortante a ideia de que, aquando do alcance do ápex da dita capacidade cerebral, a espécie humana evoluirá para uma pen drive.
Título Original: Lucy (França, 2014)
Realizador: Luc Besson
Argumento: Luc Besson
Intérpretes: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi, Amr WakedPilou Asbæk, Analeigh Tipton
Música: Eric Serra
Fotografia: Thierry Arbogast
Género: Acção, Ficção-Científica, Thriller
Duração: 89 minutos
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