terça-feira, 18 de novembro de 2014

Maleficent (2014)

Cruel, impiedosa e vingativa. Quem se recorda do açucarado clássico da Disney The Sleeping Beauty, decerto se lembra também da torpe vilã, Malévola a fada malvada. Essa, que tão somente por lhe faltar um simples convite à celebração do nascimento de uma princesa, era capaz de semear o caos em todo um reino. Um modelo para os vilões que a sucederam, que acaba por se tornar o alicerce para a dualidade existencial entre o bem e o mal já vislumbrada por Tchaikovsky no seu segundo ballet.


Em 1959 chega-nos, pois, o colorido e encantador (mas, por vezes, assustador) desenho animado que se tornou um marco para a animação cinematográfica ao ser o mais dispendioso cartoon produzido pela Walt Disney Pictures até à data.

Cinco décadas depois estreia nas salas de cinema a mais recente adaptação em live-action desse mesmo clássico, MALEFICENT. Um verdadeiro passeio alegórico pela catarse nostálgica que era a Bela Adormecida.

Incluindo a participação de Angelina Jolie (cuja prestação é digna de louvor)  no papel de protagonista, o filme conta a história que todos conhecemos ao revés adoptando uma inovadora perspectiva, a de Malévola. Lamentavelmente, aquilo que podia ter sido um passeio agradável por The Moors e redondezas converteu-se numa prova de 400 com barreiras, a qual em cada obstáculo parecia quebrar mais e mais a essência do conto de fadas.

Em primeiro lugar, sente-se o tempo marcadamente acelerado em Maleficent. Quase como se houvesse alguma pressa por parte de Robert Stromberg em projectar no pano a mixórdia de ideias que lhe passavam pela cabeça. Segundo, a metragem (a meu ver) sofre de incoerência em vários instantes, por exemplo, levando a cabo o âmago da questão: a dualidade bem vs mal/ amor vs ganância. Por que motivo a fada malvada, após ter sido atraiçoada pelo humano que amava (e já depois de ter lançado a maldição sobre Aurora), continuou a olhar pela princesa, inclusive salvando-a em algumas situações? Assuntos filosóficos à parte, note-se a inutilidade da construção da "barreira" de metal, a qual tanto trabalho deu àqueles pobres plebeus encarregues pelo rei, que se empenharam dia e noite, incessantemente! Tudo isto para chegar lá a nossa antagonista/protagonista e desviar-se com incrível facilidade dos espinhos de metal.

Ponto número três, as batalhas anti-climáticas...

Com o arsenal tecnológico ao dispor das grandes companhias de produção dos dias que correm, não creio que fosse pedir muito temperarem as poucas cenas de acção com uma pitada de épico. Mesmo num clássico da Disney. Infelizmente não é o caso, pelo menos não em Maleficent. Atrevo-me, mesmo, a dizer que o original de 1959 consegue reproduzir a batalha final de forma mais sublime.

Sem embargo, o filme não é imerecido de alguns feitos. Ele é visualmente deslumbrante, evocando mesmo certos elementos característicos de um James Cameron. Joga com as personagens do conto, de forma a inverter os papeis de herói e de vilão, procurando sempre introduzir o seu quê moralista no final que não a díade princepe/princesa. E acima de tudo, ele tenta. Tenta ser diferente da fórmula Disney que durante tanto tempo enfeitiçou o grande ecrã dando início, possivelmente, a uma nova fórmula mágica.

Perplexo perante esta nova adaptação daquele que considero ser o mais icónico dos títulos da era das princesas Disney, faço das palavras de Paulo Coelho as minhas: «Em cada instante das nossas vidas temos um pé nos contos de fadas e outro no abismo». Neste sentido, Maleficent aparenta estar na corda bamba, mas consegue equilibrar-se  nos limites do plausível.


Título Original: Maleficent (EUA, 2014)
Realizador: Robert Stromberg
Argumento: Linda Woolverton (baseado no filme Sleeping Beauty)
Intérpretes: Angelina JolieElle FanningSharlto Copley 
Música: James Newton Howard
Fotografia: Dean Semler
Género: Acção, Fantasia
Duração: 97 minutos


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