quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

On the Road (2012)

Este ON THE ROAD é, no máximo, um caso curioso de paixão pelo movimento. Pelo beat, está claro. Nota-se que Walter Salles gosta do material que tem em mãos, mas fica a dúvida se alguma vez se sente confiante o suficiente para o explorar adequadamente. Fica-se, pois, preso a uma sucessão de episódios - alguns bem mais memoráveis do que outros - que causam alguma estranheza ao espectador e que acabam por não resultar lá muito bem em conjunto.

Mas se é verdade que se entrou aqui a matar em relação à fita, também o será que ela tem as suas virtudes. A imortalização de Neal Cassady por Jack Kerouac como um novo herói folk norte-americano encontra paralelo na visão romântica que Sal Paradise - escritor alter-ego do escritor - mantém de Dean Moriarty. As viagens, os encontros e desencontros, as despedidas, a roda-viva de personagens com quem se cruzam e convivem. E as drogas, o álcool, o tabaco e as orgias. É no cruzamento entre o excesso e a abstinência que o filme encontra a sua maior qualidade.


Salles pisca o olho ao road movie. A representação nómada da contra-cultura, obstinada a não ficar presa a um só lugar, encontra paralelo na do também seu Diarios de motocicleta, sobre Che Guevara e sua viagem pela América do Sul. Brindar ao Oeste significa andar para a esquerda no mapa; para quem começa em Nova Iorque, como é o caso dos protagonistas, tal significa todo um país para explorar. Viver no carro de mochila feita para o que der e vier. Estende-se, no entanto, a narrativa muito para além do necessário, esticando a duração do filme ao ponto de se arriscar perder a atenção da audiência no meio do frenesim. O brasileiro entra também ele no movimento, na loucura daquela juventude, jogando com a velocidade da montagem, por vezes um vaivém de planos colados em sufoco. Curiosamente, não consegue transpor esse espírito cinético para a estrutura externa da obra, quebrando o seu ritmo nos interstícios e arrastando-a penosamente para lá do interessante.

On the Road tem o potencial de se converter, num futuro mais ou menos próximo, em filme de culto junto da audiência adolescente, a par do que Control - infinitamente superior e igualmente com o protagonismo de Sam Riley - fez há alguns anos. Haverá quem resgate do fundo do armário boinas e golas-altas pretas e vá a encontros de poesia em cafés escurecidos pelo fumo de mil cigarros (ups, logo agora que não se pode fumar indoors). A rebeldia dos ícones culturais atrai sempre a malta jovem - na qual, de resto, me incluo também -, mas esta falha em cativar. Da sua natureza episódica, entre uma maioria de momentos mais discretos e comezinhos, surgem algumas das melhores sequências do filme, caso, por exemplo, das que contam com a fantástica presença de Viggo Mortensen e Amy Adams. Mas o melhor está mesmo reservado para o fim, quando Sal escreve, finalmente e de chofre, o seu livro num rolo de folhas corrido que se espalha por todo o chão do seu quarto. Quase vale a pena ver On the Road por esses breves minutos, que sabendo a pouco, são reveladores do talento de Salles como realizador. Quase. Porque se fôssemos somar - e, sobretudo, subtrair - câmaras ao filme o resultado da conta seria tendencialmente negativo. Leva cinco delas de boa vontade e um aviso acerca do seu grave desequilíbrio. O resto é apenas movimento.


Título Original: On the Road (Brasil/EUA/França/Reino Unido, 2012)
Realizador: Walter Salles
Argumento: Jose Rivera (baseado no livro de Jack Kerouac)
Intérpretes: Sam Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Tim Sturridge, Kirsten Dunst, Danny Morgan, Alice Braga, Amy Adams, Viggo Mortensen, Steve Buscemi, Elisabeth Moss, Terence Howard, Tiio Horn
Música: Gustavo Santaolalla
Fotografia: Eric Gautier
Género: Aventura, Drama
Duração: 124 minutos


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