quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Frankenweenie (2012)

Aqui no estaminé andávamos esquecidos do talento de Tim Burton para o Humanismo. Não que desgostássemos completamente das suas obras mais artificiais - houve aqui quem tenha achado alguma graça a Alice in Wonderland (2010) ou a Dark Shadows (2012), aquela soap-opera tornada filme -, mas sentíamos a falta da veia que marcou a carreira do cineasta norte-americano no seu início. Burton parece ter ouvido os nosso lamentos, e deu luz a uma antiga ideia sua, este FRANKENWEENIE. O mesmo conceito que lhe valeu o despedimento da Disney na década de 80 - acharam-no muito negro para a miudagem -, produzido pelo gigante do entretenimento que o descartara décadas antes, em animação a preto-e-branco e formato familiar.


Um miúdo que tem como único amigo o seu cão, ressuscita-o após ter assistido ao seu atropelamento. Como a Feira de Ciências da escola se aproxima - e a competição é feroz -, os seus colegas de turma, ao descobrirem o segredo, vão fazer de tudo para reproduzir a experiência prometeica. É desta premissa tocante que nasce o filme; não se encontra, contudo, a ela limitado, cultivando morais em campos mais distantes. Lida-se com o luto (e a sua ausência) e com o medo em relação ao desconhecido. Não será por acaso que, ao ser despedido, o professor de ciências - personagem a fazer lembrar Vincent Price, sonorizada por Martin Landau - diz com pesar que hoje em dia todos se julgam cientistas. Ao receio pelo que não se conhece junta-se o pedantismo de disparar inanidades sobre o que não se sabe. Burton reconhece e expõe o defeito social, apelando ao conhecimento.

Não se estranhe, pois, que Burton imprima o seu estilo em cada momento desta sua segunda adaptação da estória - a primeira teve a forma de curta-metragem em live action -, reconduzindo frequentemente o público a outros momentos do seu trabalho. Cria-se uma nostalgia em relação ao que ficou para trás - que se prolonga através do regresso de algum do seu cast regular e da evocação de personagens lendárias do género - e que tarda em abandonar o espectador. Desse modo - e para quem gosta dos habituais mecanismos burtonianos - é complicado não adorar aquela pequena cidade, que parece toda ela extraída do imaginário clássico do Cinema de Terror, e quem lá habita. Entre o gótico e o expressionista, há em Frankenweenie um idealismo doce e inocente que nos faz recuar no tempo. É o regresso do Burton clássico.


Título Original: Frankenweenie (EUA, 2012)
Realizador: Tim Burton
Argumento: John August (baseado no argumento de Leonard Ripps e na ideia original de Tim Burton)
Intérpretes: Charlie Tahan, Catherine O'Hara, Martin Short, Martin Landau, Winona Ryder
Música: Danny Elfman
Fotografia: Peter Sorg
Género: Animação, Comédia, Ficção-Científica, Terror
Duração: 87 minutos


Sem comentários :

Enviar um comentário