segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Quando os anjos descem à Terra

«Every time a bell rings an angel gets his wings.»

Natal é também sinónimo - como, de resto, quase tudo na vida - de cinefilia. De filmes e estórias, épicos e animações, para adultos e crianças. O Cinema reúne a família. Com a escolha dos filmes a variar de lar para lar, havia que se escolher um, entre muitos - e em jeito quase autista, à procura de consensos impossíveis de alcançar -, para destacar no blogue. A fava calhou-me em sorte, e eu, como não vou à bola com aqueles objectos hughesianos em que se deixava o miúdo sozinho em casa durante as festas, virei-me para algo familiar (e que já revi algumas vezes).


Cá por casa é tradição ver-se o IT'S A WONDERFUL LIFE. Não será o único filme que se vê durante a quadra - também há espaço para a bonecada que todos os anos inunda a programação da TV -, mas a obra de Capra, esse mestre do feel good, é a fita natalícia por excelência. Para quem não a conhece, além da recomendação, fica uma breve revista à estória: George vive a sacrificar-se por aqueles que lhe são próximos. Personificação do altruísmo, não há ninguém na pequena cidade de Bedford Falls que dele não tenha algo agradável a dizer. Ninguém a não ser o malvado Potter, senhorio sem escrúpulos. Quando na Véspera de Natal o seu tio perde o dinheiro reservado ao negócio, George considera o suicídio, levando a que Clarence, um anjo sem asas, seja enviado à Terra para salvar a sua vida.

Assim de repente - e admitindo que não será a melhor das suas obras -, tem-se em It's a Wonderful Life um exemplo cabal dos temas habitualmente desenvolvidos por Capra, bem como do seu engenho como realizador. Ele mesmo um imigrante italiano nos EUA, Capra sempre favoreceu nos seus filmes o homem comum, o everyman, nas suas lutas - tanto diárias, como extraordinárias - contra o Sistema. Estereotipa as personagens, representando-as em pólos completamente opostos: os bons são, geralmente, ingénuos e humildes, enquanto os maus surgem cínicos e genuinamente perversos. A Máquina mastiga o Bem até à exaustão, que, derrotado na individualidade, recorre ao colectivo para vencer a batalha. Se é moralista? É. Mas também é bonito que se farta.

Não é, por isso, de estranhar que se escolha Capra - e esta sua obra - para evidenciar os valores que o Natal veicula, ou que assim o espera fazer. Ou que neste estaminé tanto se aprecie o italo-americano, artífice de sonhos e magia. E que se escrevam coisas tão pirosas a seu respeito, de tanta inocência que nos preenche. Mas é assim que gostamos; e, mais importante, é assim que se quer esta época. Com os seus Georges, Clarences e Marys, que nos ensinam a trilhar os caminhos que levam à felicidade. Sem mais por escrever - e com a vontade de ir festejar com a família -, o Matinée Portuense gostaria de desejar aos seus leitores um bom Natal, com tudo de bom o que esta vida tem. E com muitos filmes, é claro, que isso não pode faltar.

António Tavares de Figueiredo

Sem comentários :

Enviar um comentário