sábado, 2 de fevereiro de 2013

Take This Waltz (2011)

Dos vários momentos em que poderíamos pegar para iniciar uma análise a TAKE THIS WALTZ, de Sarah Polley, talvez o mais interessante seja aquele que se faz entre a piscina pública e o bar. A sequência é, de resto, paradigmática do melhor que parece capaz de sair da câmara de Polley, um misto de erotismo contido - e o diálogo no bar é excelente nesse sentido - e divertimento leve. Pena que, fruto da duração, se misturem esses rasgos de refrescante habilidade com outros menos brilhantes.


Mas nem por isso se deverá menosprezar o segundo filme de Sarah Polley enquanto realizadora. A canadiana aparece cheia de boas ideias que, embora nem sempre saiba concretizar da melhor maneira, dão vida à história. Take This Waltz não é mais do que uma ligeira subversão do clássico boy meets girl - melhor, aqui será de um girl meets boy -, génese de tantos romances cinematográficos. Apesar do jogo com as convenções do género - com aquele travelling circular em que finalmente se liberta toda a sensualidade acumulada ao som da canção que dá título à fita a ser um bom exemplo da brincadeira -, a fórmula é facilmente reconhecível e o destino da narrativa rapidamente traçado. A moça, inconstante nos sentimentos - e resisto a escrever bipolar, não vá um dos meus colegas de redacção, a cursar Psicologia, corrigir-me o atrevimento - há-de acabar com a sua paixão dê por onde der; e os outros que se arranjem e aceitem a situação que mais não têm a - ou podem, para todos os efeitos - fazer.

Sarah Polley volta a filmar o Amor. E logo o Amor sob ameaça. Se em Away from Her - superior, parece-me - o foco estava apontado ao Alzheimer, desta feita voltou a sua atenção para o estrangulamento que a rotina provoca no casamento e na paixão. Se um casal parece feliz visto de fora, significa que o será entre paredes? A resposta dada por Michelle Williams e Seth Rogen - e, principalmente, a forma como é explorada pelo argumento - é satisfatória, marcada por boas interpretações - às quais se juntam as de Luke Kirby e de Sarah Silverman, desbocada como de costume -, muito sentidas e, sobretudo, reais. É na inquietude emocional da sua protagonista que se encontra a luminosa melancolia que guia o filme, tornando-o, a espaços, um objecto de improvável beleza.

Voltando ao início da crítica e à escolha daquelas três ou quatro cenas em particular, será justo admitir que tão ou mais facilmente se podia ter seleccionado um outro pedaço de filme, sem prejuízo para a ideia que se pretendia demonstrar, para se começar a escrever sobre Take This Waltz. A alternância entre altos e baixos, entre momentos extraordinários e mais vulgares, permite que se julgue a mais recente obra de Polley, no mínimo, como muito razoável. Sobra, no entanto, bastante potencial por aproveitar e uma certa sensação de redundância nos processos utilizados. No fim - e nisso, quanto mais não seja, concordo com Sarah Polley -, fica claro que a relação acaba quando se utiliza a casa-de-banho em simultâneo. A privacidade e o mistério são sempre bem-vindos numa vida em comum.


Título Original: Take This Waltz (Canadá/Espanha/Japão, 2011)
Realizador: Sarah Polley
Argumento: Sarah Polley
Intérpretes: Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirby, Sarah Silverman, Jennifer Podemski, Vanessa Coelho
Música: Jonathan Goldsmith
Fotografia: Luc Montpellier
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 116 minutos



Sem comentários :

Enviar um comentário