quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Beasts of the Southern Wild (2012)

«Once there was a Hushpuppy, and she lived with her daddy in The Bathtub.»

Quem tiver por hábito seguir mais de perto o Mundo do Cinema - e o da Academia, que nem sempre lhe corresponde - verifica facilmente que todos os anos há pelo menos um candidato mais independente aos principais prémios. Ao percorrer as listas deste ano encontramos a escolha em BEASTS OF THE SOUTHERN WILD, de Benh Zeitlin. Deixando desde já clara a sua qualidade acima da média - não vá o leitor pensar que é falta de mérito, ficando-se pelo caminho -, a fita (re)abre, contudo, algumas questões interessantes.


A ruralidade norte-americana, numa comunidade afastada da sociedade - ou da nossa sociedade, que eles lá terão a deles -, vista pelos olhos de uma menina de cinco anos. Sem hospitais, serviços ou aparente civilização, os habitantes da Banheira vão levando vidas simples mas felizes. Até que chega a tempestade. A metáfora - que se traduz no realismo da intempérie - leva o Mundo exterior àquela gente que não compreende, forçando-lhes um estilo de vida que não é o seu. E a menina de cinco anos, cada vez mais sozinha, vai descobrindo as suas forças.

Benh Zeitlin encontrou uma forma de filmar a pobreza nos EUA diferente da de cineastas como David Gordon Green - que entretanto se mudou para os subúrbios -, Debra Granik, ou até William Friedkin com o seu Killer Joe, sem, no entanto, lhe retirar o devido peso dramático. A fábula que aqui se constrói encontra expressão na sua câmara trémula, consumando-se - como, por exemplo, naquele magnífico prólogo - num autêntico espectáculo visual. Das influências neorrealistas às Fantásticas, Zeitlin demonstra rara maturidade nas imagens que capta - e no binómio som-imagem que com tanto cuidado elabora ao longo da obra -, transformando a pobreza e degradação da Banheira num mundo mágico.

Numa época em que tanto se discute o indie - não tanto a nível de orçamento como de corrente estilística, fotografia e banda sonora à cabeça - como um Cinema em si, separado do Outro, Beasts of the Southern Wild surge como forma de provar a universalidade da Arte no tratamento de alguns problemas mais delicados. Entre o visceral e o encantador, o filme de Zeitlin mantém-se poderoso do primeiro ao último segundo, puxando para si o espectador e recusando deixá-lo partir. E se no fim se caminha para a desolação, a percepção do destino muito se deve à intensidade de intérpretes como Quvenzhané Wallis e Dwight Henry - e dos restantes não-actores do elenco -, irrepreensíveis no seu esforço. O futuro é incerto, no mínimo, mas aquela gente mantém-se unida. Não será essa a essência da comunidade?


Título original: Beasts of the Southern Wild (EUA, 2012)
Realizador: Benh Zeitlin
Argumento: Benh Zeitlin, Lucy Alibar (baseado na peça de Lucy Alibar)
Intérpretes: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Gina Montana, Levy Easterly, Lowell Landes, Pamela Harper
Música: Dan Romer, Benh Zeitlin
Fotografia: Ben Richardson
Género: Drama, Fantasia
Duração: 93 minutos


3 comentários :

  1. Este filme por acaso não me cativou, deixa a desejar a meu ver.
    O melhor é o desempenho da atriz e a mensagem que nos deixa.
    Cumprimentos...

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  2. Este é um magnifico filme sem dúvida. Concordo totalmente com a critica (num bom texto).
    Um filme que impressiona a diversos níveis e sabe ambientar-se entre o puro realismo sem deixar de ser mágico e imensas subtilezas.
    Grandioso filme. 9/10

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  3. Frederico, talvez daqui a uns tempos o voltes a ver e mudes de opinião. A mensagem é, de facto, qualquer coisa de extraordinário :)

    Arm Paulo, creio não me ter entusiasmado tanto com o filme como tu, mas gostei do que vi. A abordagem do Zeitlin à estória fez-me lembrar, por razões óbvias, o neorrealismo. É um filme visualmente espantoso.

    Cumprimentos cinéfilos.

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