Resumir filmes em frases únicas costuma dar mau resultado, amiúde extirpando obras de quase toda a sua profundidade e reduzindo-as à sua dimensão mais visível e superficial. Contudo, para Beastly tal exercício revela-se mais abonatório do que prejudicial, sendo mais do que suficiente para analisar um filme com falta de qualidade e substância. "A Bela e o Monstro da geração smartphone" - singela descrição da fita que, infelizmente, chega e sobra para perceber o que se estava a tentar vender. Quem estiver familiarizado com a estória (não faltarão por aí leitores que recordem com uma nostalgia que nunca hei-de compreender a animação produzida pela Disney no início da década de 90) não encontrará em Beastly nada de novo. Quem não estiver, o trailer e o poster chegarão para se ter uma ideia do que está para vir. Rapaz privilegiado, bonito e rico, não dá valor ao que tem. Bruxa dotada de uma moralidade que vem mesmo a calhar decide dar-lhe uma lição e desfigura-o. Rapariga pura é a única hipótese do rapaz, que por esta altura abandonou a sua característica arrogância e sentido de superioridade, quebrar a maldição e voltar a ter a cara com que nasceu. Do original para esta adaptação, o "Monstro" perdeu o pêlo e as garras e ganhou cicatrizes, tatuagens e queimaduras. Fora isso, as novidades no enredo são poucas. Começa logo aí a óbvia derrota de Beastly, que falha em se afirmar mesmo dentro de um mercado pautado pela pobreza de conteúdo.
Quando o melhor de um filme passa por Mary-Kate Olsen como bruxa teen gótica algo de errado se passa. Alex Pettyfer vai tentando, mas continua a ser, no máximo, um fraco actor, incapaz de emprestar qualquer sentido de profundidade às personagens que interpreta. Melhor, no entanto, que Vanessa Hudgens, sempre com ar de quem está em cena por algum favor que fez ou lhe fizeram, dificilmente ainda sem ninguém que lhe diga que a representação não é, de todo, o seu forte. O resto do elenco, incluindo os "emprestados" pela televisão, quase não interferem na história e falham em causar uma impressão na audiência, seja ela qual for. Com tudo isto, Daniel Barnz, que tinha assinado um curioso exercício de cinema com Phoebe in Wonderland, deu um passo atrás na sua carreira, não criando expectativas em relação ao que se seguirá com o seu nome incluído no lote de responsáveis. A lição a tirar de Beastly? Pior do que humilde ou sensível, é complicado ser feio.
Realizador: Daniel Barnz
Argumento: Daniel Barnz (baseado no livro de Alex Flinn)
Intérpretes: Alex Pettyfer, Vanessa Hudgens, Mary-Kate Olsen, Neil Patrick Harris, LisaGay Hamilton, Roc LaFortune, Peter Krause
Música: Marcelo Zarvos
Fotografia: Mandy Walker
Género: Drama, Fantasia, Romance
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