Poucas cinematografias sabem explorar os benefícios de uma antologia como a britânica. Desde os anos 50, passando pelo período áureo da Hammer uma década mais tarde, os súbitos de Sua Majestade cedo perceberam que colecções de pequenas histórias lhes permitiam explorar num só filme vários conceitos cinematográficos enquanto reuniam diferentes realizadores sob uma mesma batuta. Infelizmente, Little Deaths não foi capaz de aproveitar a oportunidade, resultando apenas numa enorme confusão de fluídos corporais. Sangue e sexo, temas condutores da trama, estão presentes em abundância, mesmo que figurativamente, nos três segmentos da película, não fosse o seu nome derivado de uma metáfora francesa para "orgasmo". Já por aí se afiguram as linhas gerais pelas quais esta obra se guia.
As estórias vão melhorando com o filme. Se a primeira é assumidamente má e a segunda sofrível, a terceira é, no mínimo, interessante. Todas sobre casais que vivem a sexualidade de forma pouca convencional, todas sobre aspectos sombrios que se escondem dentro das casas de cada um. Sádicos raptores de raparigas sem-abrigo, mutantes cujo esperma em forma de comprimidos (sim, leram bem) cria outros mutantes e sadomasoquistas cansados dos jogos de poder da relação. Curioso conjunto de personagens que peca, talvez, por exagerar na bizarria. Os primeiros têm mais olhos do que barriga, os segundos, ela uma prostituta, ele o seu antigo chulo agora apaixonado por ela, têm mais barriga do que olhos, os últimos não têm barriga nem olhos, mas acabam por ser os melhores. O que levanta uma série de questões interessantes. Quando se trata de atribuir pesos relativos a filmes, como se avalia uma antologia? Pelo grosso da obra ou pelas melhores partes? Somam-se as partes ou faz-se uma média de tudo? Vale a pena ver 90 minutos de filme apenas pelos últimos 30? Há meses, aquando do Fantasporto 2012, publicou-se no blog uma crítica a The Theatre Bizarre, filme apresentado em moldes semelhantes, e os mesmos problemas levantaram-se, quais fantasmas prontos a assombrar qualquer tentativa de crítica. No final, optou-se por somar todas as partes envolvidas e calcular algo parecido com uma média de tudo o que se viu em filme. 60 minutos de seca para encontrar algum oásis num pedaço de terror psicológico transformado em drama familiar. Quanto a mim, vale a pena, mas que custa, lá isso custa.
Realizador: Sean Hogan, Andrew Parkinson, Simon Rumley
Argumento: Sean Hogan, Andrew Parkinson, Simon Rumley
Intérpretes: Luke de Lacey, Holly Lucas, Siubhan Harrison, Jodie Jameson, Rob 'Sluggo' Boyce, Daniel Brocklebank, Tom Sawyer, Kate Braithwaite
Música: Richard Chester
Fotografia: Milton Kam
Género: Terror
Duração: 94 minutos
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