sábado, 2 de junho de 2012

Valhalla Rising (2009)

Vi Valhalla Rising pela primeira vez na edição de 2010 do Fantasporto. Na altura não gostei. Alguns meses mais tarde, provavelmente mais de um ano depois, voltaria a ter contacto com o filme. À segunda já me pareceu melhor. Mas continuei a não gostar totalmente da fita.

Voltemos ao início. Quando apanhei a película dinamarquesa naquela agora distante edição do Fantasporto era já o último dia do festival. Os filmes premiados pelos júris estavam a ser exibidos, e o cansaço acumulado durante uma semana de muito cinema já se fazia notar, eliminando quase totalmente a disposição para ver filmes de difícil digestão. Valhalla Rising havia recebido "apenas" uma menção especial do júri da secção de Cinema Fantástico, tornando-o menos atractivo para o público do que os filmes realmente premiados e empurrando-o para o horário do início da tarde. A seu favor tinha uma sinopse que o descrevia como um filme de acção passado no tempo dos vikings e a realização de Nicolas Winding Refn, à data a gozar o sucesso de Bronson, a sua anterior aventura cinematográfica. Os prós pesavam mais do que os contras, e a decisão de o ir ver parecia natural. Parecia, só.

Na verdade, Valhalla Rising estava longe de ser algo sequer parecido com o publicitado nos programas do festival. One Eye (Mads Mikkelsen) é um escravo mudo dotado de uma força sobrenatural. Obrigado a lutar, anseia por um paraíso a que não tem a certeza se pertencerá. O problema é que One Eye é demasiado bom no que faz, e os corpos dos seus adversários vão-se amontoando à sua passagem. A morte tarda a vi-lo reclamar, afastando cada vez mais dele o tão esperado paraíso. Até que, com a ajuda de um rapaz chamado Are, One Eye foge aos seus senhores escoceses e se junta a um grupo de vikings de partida para Jerusalém. Cristãos, os nórdicos sonham reconquistar a Terra Santa. Será esse o paraíso que One Eye espera encontrar?

Mais do que de difícil digestão, o filme é de complicada compreensão. Dividida em capítulos e concebida como uma espécie de trip de ácidos (palavras do próprio realizador), o intrincado simbolismo dificulta o entendimento da obra, e a falta de diálogo não ajuda à tarefa. Para Refn, parece que a espiritualidade nasce do encontro da terra com o céu (conforme representado por vários planos e enquadramentos escolhidos) e que a religião surge do sangue e da violência. O olho que falta ao protagonista pode muito bem ser o que também falta a Odin, ficando explicadas as visões que One Eye tem do futuro.Visões banhadas a sangue, primeiro dos outros, depois do seu. O nevoeiro vai-se adensando com a confusão em relação a um paraíso cada vez inatingível. Entre os escoceses e os vikings é difícil determinar quais os piores. Serão os que o obrigam a lutar sem nenhuma razão maior? Ou os que justificam as suas mortes com Deus?

À segunda visualização já dá para ir percebendo melhor alguns dos aspectos da fita. E para dar valor à interpretação de Mads Mikkelsen, que passa o filme todo sem dizer uma única palavra. No final, o sacrifício de One Eye acaba por ser também o seu. A violência característica do trabalho de Refn encontra-se bem presenta nesta obra.Visceral, é capaz de incomodar sem nunca obrigar a tirar os olhos do ecrã. Quem tiver visto Drive antes das restantes obras do dinamarquês poderá ter ficado a pensar que a violência gráfica seria artifício de um filme só. Pois bem, tem-se em Valhalla Rising uma boa oportunidade para comprovar o contrário. Refn é já um nome destacado no panorama do cinema europeu. Sozinho, atrás das câmaras, vai manipulando luz e sombra, planos e ângulos, personagens e história. No entanto, apreciador do ritmo lento, o seu estilo de realização não agradará a todos.

Valhalla Rising vai melhorando com o número de visualizações. Mas não o suficiente para valer o tempo gasto em sucessivas análises ou em vãs tentativas de o compreender na sua totalidade. A vontade de encontrar razões para lhe dar uma nota melhor é muita, mas facilmente nos apercebemos que tal, se não impossível, é complicado. Encontrá-lo a meio da escala pontual? Talvez um pouco mais acima? Parece justo. Refn bem pode agradecer a Mads, ao seu director de fotografia (Morten Søborg fez um trabalho espantoso) e ao seu próprio talento. Fora essas excepções, Valhalla Rising não passa de um devaneio filosófico do nórdico.


Título Original: Valhalla Rising (Dinamarca/Reino Unido, 2009)
Realizador: Nicolas Winding Refn
Argumento: Roy Jacobsen, Nicolas Winding Refn
Intérpretes: Mads Mikkelsen, Maarten Stevenson, Ewan Stewart, Gary Lewis, Alexander Morton
Música: Peter Kyed, Peterpeter
Fotografia: Morten Søborg
Género: Acção, Aventura, Histórico
Duração: 93 minutos



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