terça-feira, 19 de junho de 2012

Dylan Dog: Dead of Night (2011)

«No pulse? No problem.»

Dylan Dog é filho dos fumetti, mistura entre policial de índole negra, terror a fazer lembrar várias épocas douradas do género, humor acutilante, retórica anti-burguesa e surrealismo. Na passagem para o cinema optou-se por fazer cair o ecletismo de estilos que marca o material original e enveredar por um ambiente quase exclusivamente policial com criaturas folclóricas a fazerem as vezes do terror. Mais, mudou-se o parceiro de Dylan de um sósia de Groucho Marx para um zombie em decomposição, riscando da acta o humor característico do primeiro, substituindo-o por piadas fáceis à custa do estado do segundo. Tudo bem, até aí o filme poderia funcionar, fossem jogadas as próximas cartadas de forma sábia e calculada. E é exactamente nesse ponto que entra em cena Brandon Routh (e o seu soberbo penteado) como Dylan Dog, fazendo cair a derradeira gota de água neste fiasco. Mudanças de parceiros ainda são suportáveis, o abandono do discurso anti-burguês e do quase-surrealismo que pautava (e ainda pauta) as páginas das estórias da BD compreensível, agora espetar o antigo Clark Kent como o investigador do paranormal que dá nome à película é um abuso à paciência de qualquer espectador, principalmente dos seguidores da obra de Tiziano Sclavi, que mereciam um nome mais sério a desempenhar o adorado anti-herói. Raios, até Dylan o merecia.

E já que se está numa onde de mudanças, passa-se de Londres para Nova Orleães, não vão os norte-americanos estranhar que haja vampiros e lobisomens fora do seu burgo. O mesmo já havia sido feito em Constantine, reforçando ainda mais a ideia de que Dylan Dog, o filme, foi uma tentativa de imitar a adaptação cinematográfica da BD da DC Comics, acabando como uma espécie de Constantine série-B. Ou, já agora, série-C - é complicado decidir. E entre licantropos e sugadores de sangue, Dylan vai lutando por manter a trégua entre as espécies e os humanos, acabando, no final, por ter de enfrentar um demónio que aparece quase ao estilo de um deus ex machina mal planeado. E sem nunca estragar o seu impecável penteado.

Como filme, Dylan Dog: Dead of Night simplesmente não resulta. Como film noir, ainda pior. Limitado pelas suas próprias imposições e por um protagonista inapto, o filme nunca chega a arrancar, perdendo-se entre inúmeros clichés e buracos no argumento. Há muito que Brandon Routh como actor não engana ninguém, a não ser, talvez, os responsáveis pelo casting deste Dylan Dog. Terá sido do seu fantástico cabelo? Sam Huntington, o parceiro zombie, surge demasiado ridículo na sua busca por peças sobressalentes e a femme fatale, sendo demasiado generoso na utilização do termo, Anita Briem não acrescenta nada ao filme mesmo quando o devia fazer (a sério, ninguém daria pela sua falta se ela lá não estivesse). Taye Diggs e até Peter Stormare também se nivelam por baixo, já para não falar de Kurt Angle, antigo lutador da WWF e vencedor da Medalha de Ouro em Luta Greco-Romana nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Nenhum, no entanto, aparece pior do que Routh e o seu cabelo maravilhosamente modelado. Lamentavelmente mau, para lá do camp, Dylan Dog: Dead of Night é incapaz de formar o seu próprio carácter, não sendo mais do que um fraco exercício de cinema. E será que já referi que o pior da fita é mesmo Brandon Routh e o seu admirável cabelo?


Título Original: Dylan Dog: Dead of Night (EUA, 2011)
Realizador: Kevin Munroe
Argumento: Thomas Dean Donnelly, Joshua Oppenheimer (baseado na BD de Tiziano Sclavi)
Intérpretes: Brandon Routh, Anita Briem, Sam Huntington, Taye Diggs, Kurt Angle, Peter Stormare
Música: Klaus Badelt
Fotografia: Geoffrey Hall
Género: Comédia, Fantasia, Mistério, Terror, Thriller
Duração: 107 minutos


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