Gosto de Guy Ritchie, talvez até mais do que a sua filmografia merece. Por outro lado, Sir Arthur Conan Doyle e a sua obra não me atraem particularmente, não morrendo eu de amores por Sherlock, Watson e companhia. De Moriarty ainda vou gostando, muito à custa das novelas gráficas da série The League of Extraordinary Gentlemen, mas, de facto, não guardo nenhum lugar especial no meu coração para o detective Vitoriano que dá nome à película e para seu fiel parceiro, ao contrário do que faço para nomes como Poirot ou Maigret. Possivelmente por isso, o Sherlock de Ritchie não me causa tanta impressão como a outros, mais adeptos dos contos policiais de Doyle.
Mas haverá sempre uma pergunta que se coloca a obras como esta: quão fiel ao trabalho original é a adaptação cinematográfica? Honestamente, pouco. O Mycroft de Ritchie é uma sombra do de Doyle, Mary Watson (anteriormente Morstan) passa o filme quase todo escondida, Irene Adler não tem nada a ver com a sua homóloga literária. Mais grave, Sherlock é tão irritante para lá da sua característica arrogância que as outras personagens têm dificuldade em o aturar. A mesma crítica havia sido feita em relação ao primeiro filme da franquia à data da sua passagem pelas salas de cinema. Sendo este uma sequela, o repara adequa-se, mas começa a perder valor. Já deu para perceber que, mais do que uma adaptação literal do imaginário criado por Doyle, Ritchie pretendia um reboot das personagens e histórias, quebrando pelo caminho os cânones que não lhe convinham e mantendo os que lhe interessavam para o desenvolvimento da fita.
Com Blackwood enforcado e um dos cliffhangers mais óbvios da história recente do cinema (o de Batman Begins foi finalmente ultrapassado), já se sabia que o vilão desta fita seria o Professor James Moriarty. O homem que espera dominar o globo com os seus engenhosos esquemas tem um intelecto apenas ao nível do de Sherlock Holmes, que ou pára os planos malévolos do seu opositor, ou assiste ao Mundo a arder. É no argumento que residem os principais problemas de Sherlock Holmes: A Game of Shadows. Afastar Irene Adler logo nos primeiros minutos de filme não foi a melhor das decisões, especialmente após tão impetuosa entrada em cena. Moriarty nunca parece capaz de ganhar a Holmes, mesmo quando, imagine-se, está prestes a ganhar. E Sherlock está cada vez mais excêntrico e insuportável, tanto que Watson já nem se dá ao trabalho de o tentar conter. Ultrapassando esses defeitos, e porque as virtudes da produção a eles se conseguem sobrepor, estamos perante um filme sólido.
É possível apreciar esta fita pelo filme de acção e aventura que é. Pelo thriller e pelo mistério também, mas com uma boa dose de paciência e algum afastamento da obra original à mistura. Pelo crime, nem tanto. Continuo a não gostar de Robert Downey Jr. como actor, mas, curiosamente, aqui acho-o competente; de Jude Law gosto, mas não o acho a escolha ideal para o papel. Quanto aos outros, vão estando bem, principalmente Jared Harris, que surpreende como Moriarty. As sequências de acção e de luta, seguindo a linha do primeiro filme e desenvolvendo-a mais um pouco, estão bem planeadas e, em conjunto, constituem um dos aspectos mais positivos do filme. A cena da luta final entre Holmes e o Professor é suficientemente interessante para ser recordada, pelo menos até que saia um novo capítulo da franquia, apesar de Ritchie quase ter estragado tudo com uma conclusão desnecessária. O resto vai-se mantendo dentro das expectativas. Melhor do que o primeiro? Sim, mas ainda abaixo do desejado.
Realizador: Guy Ritchie
Argumento: Michele Mulroney, Kieran Mulroney (baseado nas personagens de Sir Arthur Conan Doyle)
Intérpretes: Robert Downey Jr., Jude Law, Noomi Rapace, Rachel McAdams, Jared Harris, Stephen Fry
Música: Hans Zimmer
Fotografia: Philippe Rousselot
Género: Acção, Aventura, Crime, Mistério, Thriller
Duração: 129 minutos
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