quinta-feira, 7 de junho de 2012

Essential Killing (2010)

Entre vales e grutas, um homem que pode muito bem ser um terrorista pega num lança-rockets e faz explodir três soldados americanos. Perseguido por um helicóptero, cedo é capturado por militares que o rodeiam. Interrogado e torturado, consegue escapar da custódia dos seus captores enquanto é transportado para um black site algures na Europa (talvez na Polónia natal de Skolimowski). A fuga surge-lhe de forma tão inverossímil e improvável que nem ele consegue acreditar na sua sorte. A custo, vai fugindo, sobrevivendo como pode e do que vai encontrando, ora na Natureza, ora nas pessoas com quem se cruza.

Não há como enganar: Essential Killing é um one-man show de Vincent Gallo. Ou antes seria, não tivesse o actor de dividir o protagonismo com a realização de Jerzy Skolimowski. Tanto um como o outro vão construindo o filme à custa do seu metódico trabalho, o primeiro entregando-se de corpo e alma à personagem que interpreta, o segundo, por detrás das câmaras, orientando todo o espectáculo por ele criado. Outras personagens vão surgindo, mas tão depressa se somem como aparecem. A presença de Emmanuelle Seigner na fita pode parecer fugaz e mal aproveitada, mas facilmente se percebe que não seria possível dar um destino diferente à sua personagem. Mohammed, conforme é identificada a personagem de Gallo nos créditos finais, é a única constante durante todo o filme, ocupando o ecrã e a atenção de quem o vê durante a hora e pouco que a película dura. É difícil perceber se é um terrorista ou "apenas" um civil descontente com a presença militar estrangeira no seu país, mas a verdade é que o homem que começa o filme nos poeirentos vales de um qualquer país árabe (será?) vai averbando "morte essencial" atrás de "morte essencial", justificando as suas acções com um Deus que é o dele. Num país que não é o dele, em condições que não controla, o recurso a técnicas de sobrevivência primitivas e a actos que roçam o impensável afirma-se como a única solução possível se o homem quiser resistir aos obstáculos que lhe vão sendo colocados. Mais animal assustado do que fanático religioso, Gallo vai construindo o retrato de um marginalizado, convencido a matar por doutrinas pouco escrupulosas que se aproveitaram das suas convicções em relação a Alá e ao Corão.

Esta não é a guerra que Jerzy Skolimowski viveu enquanto criança. Mas é-lhe cara na mesma, não fossem presenças militares estrangeiras, indesejadas, um dos elementos caracterizadores da IIª Grande Guerra na Polónia em que cresceu. Tecnicamente, o filme é quase irrepreensível. Ideologicamente, vai mostrando as convicções do realizador sem o comprometer demasiado. A obra de Skolimowski revela-se um elemento polarizador de públicos e opiniões. Vilão ou (anti) herói? Bom ou Mau? Aceitável ou inconcebível? Todas estas opções cabem num mesmo espectro, nem sempre perceptível para os intervenientes de guerras feitas à despesa de personagens sem nome, ou para os que se encontram do lado de fora delas. A sua interpretação cabe a quem estiver disposto e se sentir capaz de a fazer.


Título Original: Essential Killing (Irlanda/Hungria/Noruega/Polónia, 2010)
Realizador: Jerzy Skolimowski
Argumento: Jerzy Skolimowski, Ewa Piaskowska, James McManus
Intérpretes: Vincent Gallo, David L. Price, Emmanuelle Seigner
Música: Pawel Mykietyn
Fotografia: Adam Sikora
Género: Guerra, Thriller
Duração: 83 minutos



1 comentário :

  1. Uma experiência fantástica, um assalto aos sentidos este filme de guerra único. Ainda bem que o Skolimowski voltou ao cinema :)

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