sábado, 24 de novembro de 2012

End of Watch (2012)

Andava eu, numa das minhas últimas idas ao cinema, a admirar os cartazes e painéis publicitários estrategicamente colocados nos corredores dos multiplexes quando dou de caras com um desdobrável de um título que me transportou imediatamente para outro. E, já agora, para outros tempos. É que END OF WATCH remete para Training Day, de Antoine Fuqua, com ou sem ajuda do marketing (mas preferencialmente com, não fosse alguém escapar à associação). Também não será apenas por serem ambos produto da mesma pena - a de David Ayer, que assume aqui a cadeira de realizador - que se estabelece a ligação. As duas fitas abordam, embora através de metodologias e esquemas diferentes, a rotina de uma força policial. Virá talvez daí a proximidade identificável entre a parelha.

Recuando alguns anos, lembro-me que vi o Training Day pela primeira vez durante uma viagem entre Shreveport, no Louisiana, e uma qualquer cidade texana num portátil que estaria, pelos padrões de agora, obsoleto. Não terá sido há tanto tempo quanto isso, mas era novo - foi antes dos meus teens, às vezes é fácil esquecer-me que continuo a ser um miúdo que escreve ocasionalmente sobre aquilo que quer e gosta - e o filme ficou-me. Lembro-me, com particular detalhe, da cena em que um gangster latino pergunta à personagem de Ethan Hawke se alguma vez lhe empurraram a merda para cima, literalmente. Tenho, contudo, a sensação - e atenção, que eu posso estar errado - que a qualidade global do filme queda-se muito abaixo da memória que tenho dele. Provavelmente será por isso que ando desde então a evitar revê-lo.

Voltando ao presente - e a End of Watch -, temos dois jovem agentes da polícia de L.A. que gravam os seus turnos. Trabalham numa das esquadras mais perigosas da cidade e encontram diariamente uma sucessão de crimes e criminosos que, mesmo não espantando, nos fazem repensar o serviço que prestam. Não que as personagens de Jake Gyllenhaal e Michael Peña sejam agentes-modelo - encaixam-se mais no arquétipo do cowboy que pouco se importa com as regras e procedimentos -, mas agem movidos por um sentido de justiça que não se revia, por exemplo, na figura do detective Alonzo Harris (e que, de resto, valeu o Oscar a Denzel Washington). David Ayer cedo manifesta o seu desejo em separar os heróis dos vilões, identificando-os claramente e criando uma barreira tangível entre o Bem e o Mal. Há toda uma linha de valores que são defendidos - e que já vimos defender dezenas de vezes no Cinema -, como a justiça, a solidariedade, a honra e a lealdade. A Força como família - tratam-se amiúde por "irmão" -, criadora de bons-costumes; a noção do black & blue e o mosqueteirismo do "um por todos e todos por um", comuns a tantas fitas do género.

Ayer teve, no entanto, a inteligência de perceber e saber contornar as limitações do found footage, evitando ficar preso ao formato e recorrendo a outras câmaras e planos sempre que a situação o justificasse. Fica a ideia que End of Watch é melhor do que o filme com que o tentam comparar - e com o qual parece querer ser comparado -, surgindo como uma agradável surpresa e válida aposta.


Título Original: End of Watch (EUA, 2012)
Realizador: David Ayer
Argumento: David Ayer
Intérpretes: Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Natalie Martinez, Anna Kendrick, David Harbour, Frank Grillo, America Ferrera, Maurice Compte, Diamonique
Música: David Sardy
Fotografia: Roman Vasyanov
Género: Crime, Drama, Thriller
Duração: 109 minutos


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