quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Killing Them Softly (2012)

Não haverá nenhuma novidade no que é apresentado em KILLING THEM SOFTLY. Não é a primeira vez que se compara a organização da Máfia à de uma empresa, dividida em consecutivas chefias e subordinados, ou que se mostra aquela área de negócios como dependente dos conhecimentos e relações pessoais de quem por lá se move. Andrew Dominik consegue, no entanto, transformar uma história banal e possivelmente sensaborona num thriller criminal cheio de estilo e visualmente marcante.

Nunca durante o filme se fica com a sensação de que poderá haver um final feliz. A inexistência da metafórica luz ao fundo do túnel fica clara logo nos primeiros planos, quando a personagem de Scoot McNairy - indivíduo de aparência duvidosa, com ar de quem mais depressa é vítima de um crime do que ao contrário - sai de um túnel, este literal, e encontra uma Nova Orleães arrasada pelo Katrina. A certeza chega, porém, quando os três bandidos de reputação e meios manhosos planeiam e executam de forma caricata o assalto a um jogo de cartas organizado pela Máfia, traçando o seu inevitável destino. Daí até que apareça Jackie - Brad Pitt, protagonista sólido, numa das melhores entradas em cena da sua carreira, ao som de uma canção de Johnny Cash que enuncia «there's a man going around taking names, and he decides who to free and who to blame» - é apenas um salto. Justiceiro frio e implacável, a sua missão é entregar o castigo àqueles que erraram. A culpa, sempre relativa, pouco importa para o cinismo das suas decisões.


Andrew Dominik falha o nível de desconstrução do género alcançado no seu anterior The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, mas cria, ainda assim, uma fita consistente e segura de si mesma, que, apesar de nem sempre saber o que quer dizer, sabe como dizê-lo, passe o pleonasmo. Os diálogos, entrecortados com discursos políticos sobre a economia norte-americana, voam perfurantes como balas, ora acertando nos alvos, ora falhando-os, carregados de críticas sociais e de duras verdades sobre uma sociedade que parece não as querer ouvir. Mas o grande trunfo de Killing Them Softly é a maneira como Dominik filma a violência. Auxiliado pela excelente fotografia de Greig Fraser, o neozelandês capta toda a beleza no movimento e agressão, a gentileza da morte traduzida num bailado improvável e raramente conseguido, dançado preferencialmente à chuva e sempre de noite. Esteticamente fenomenal, a imagem, mais poderosa, sobrepõe-se ao discurso de Jackie e dos seus associados. Sobra, como se previa ao início, um homem que faz o que tem de fazer, por si, reduzindo o "sonho americano" quase ao niilismo.


Título Original: Killing Them Softly (EUA, 2012)
Realizador: Andrew Dominik
Argumento: Andrew Dominik (baseado no livro de George V. Higgins)
Intérpretes: Brad Pitt, Scoot McNairy, Ben Mendelsohn, James Gandolfini, Richard Jenkins, Ray Liotta, Vincent Curatola, Sam Shepard
Fotografia: Greig Fraser
Género: Crime, Drama, Thriller
Duração: 97 minutos




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